"Nobel" da arquitectura para iraquiana Zaha Hadid
Um ano depois de receber o prestigiado Prémio Mies van der Rohe, a arquitecta iraquiana Zaha Hadid foi distinguida com o Prémio Pritzker, o "Nobel" da arquitectura.
Foi a primeira mulher a ser reconhecida com este prémio, anunciado no domingo, atribuído pela Hyatt Foundation e instituído há 26 anos pela família Pritzker (de Chicago) para distinguir a carreira de um arquitecto vivo pelo seu "talento, visão e dedicação". O Pritzker já foi atribuído ao português Álvaro Siza, ao mexicano Luis Barragan, ao brasileiro Oscar Niemeyer, ao japonês Tadao Ando, ao holandês Rem Koolhaas, aos suíços a Jacques Herzog e Pierre de Meuron, ao australiano Glenn Marcus Murcutt ou ao dinamarquês Jørn Utzon.
"É gratificante para nós, como patrocinadores, ver o nosso júri independente distinguir uma mulher pela primeira vez", disse Thomas J. Pritzker, presidente da fundação, no comunicado de imprensa de ontem emitido pela fundação. "Apesar de o conjunto do seu trabalho ser relativamente pequeno, Zaha Hadid, 53 anos, conquistou grandes elogios e a sua energia e ideias são grandes promessas para o futuro.
"Por seu lado, a arquitecta disse ao "New York Times": "Alguns irão ver o Pritzker como um sinal de que eu deixei de ser uma pessoa difícil para passar a ser institucional. Mas quando comecei a minha investigação há 30 anos, não fazia ideia de que este reconhecimento ia chegar."
O júri, composto por arquitectos, jornalistas, editores, professores e críticos sublinhou que a carreira de Hadid "não tem sido nem tradicional nem fácil" e não é surpreendente que um dos arquitectos que Hadid admira seja outro laureado com o Pritzker, Oscar Niemeyer. "Partilham uma certa audácia no seu trabalho e os dois não tem medo do risco que surge, inevitavelmente, dos seus vocabulários de formas visionárias acentuadas."
Jacob Rothschild, presidente do júri, comentou que "no seu trabalho académico, teórico e prático, Zaha Hadid manteve-se sempre fiel ao seu compromisso com o modernismo. Sempre inventiva, ela afastou-se da tipologia existente, da alta tecnologia e alterou a geometria dos edifícios".
O arquitecto Frank Gehry, membro do júri e prémio Pritzker em 1989, sublinhou que Hadid "é, provavelmente, a laureada mais jovem e tem um dos mais claros percursos arquitectónicos que vimos em anos. Cada projecto é estimulante e inovador".
Cinco obras construídas, muitas no papel
Nascida no Iraque, em Bagdad, mas residente em Londres desde o fim da adolescência, Zaha Hadid tem apenas cinco projectos construídos e oito a serem desenvolvidos. Entre as construídas, estão a estação de bombeiros do complexo industrial da empresa de mobiliário Vitra, na Alemanha (Weil am Rhein), a estação terminal de Estrasburgo, França (que lhe deu o Prémio Mies van der Rohe), e o Centro de Arte Contemporânea Rosenthal, em Cincinnatti, EUA. Entre os projectos que tem em mãos, está o Museu Guggenheim de Tawain, um edifício da fábrica de carros BMW em Leipzig, Alemanha, um centro de artes em Oklahoma, EUA (Price Towers Arts Centre) e outro em Roma, Itália (Maxxi, Centro Nacional de Arte Contemporânea), um complexo que reúne uma biblioteca, arquivo público e centro desportivo em Montpellier, França, um bairro em Bilbau ou uma praça em Barcelona.
Os elogios da fundação HyattZaha Hadid começou por estudar matemática em Beirute e mudou-se para Londres, formando-se na britânica Architectural Association (AA). Depois de concluir o curso, em 1977, foi trabalhar com o holandês Rem Koolhaas (autor da Casa da Música, Porto) e Elia Zenghelis no atelier OMA (Office for Metropolitan Architecture) até criar o seu atelier, em 1987.
O princípio da sua carreira foi influenciado pelo desconstrutivismo (sob a égide do filósofo Jacques Derrida, nos anos 80, que influenciaria arquitectos como Peter Eisenman, Frank Gehry, Koolhaas, Daniel Libeskind...) e marcado pela concepção de projectos utópicos. Em 1994, Hadid ganhou um concurso para a Ópera de Gales, em Cardiff, mas o promotor considerou a proposta demasiado radical e o edifício não saiu do papel.
"Hadid tornou-se conhecida como uma arquitecta que desafia constantemente as fronteiras da arquitectura e do urbanismo. O seu trabalho experimenta novos conceitos espaciais, intensificando paisagens urbanas existentes na busca de uma estética visionária que abrange todos os campos do design, da escala urbana a produtos, interiores, utensílios", escreve a fundação Hyatt."Movimento, curvatura, porosidade, alongamento horizontal extremo: estas são algumas das propriedades estéticas que ajudaram a estabelecer Hadid como uma figura influente na sua área muito antes de começar a construir", escreve o "New York Times", referindo as exposições dos seus desenhos de edifícios não construídos.
Actualmente professora em Viena, Áustria, na Universidade de Artes Aplicadas, Hadid é membro honorário da Academia Americana de Artes e Letras e tem exposto desenhos e pinturas em museus internacionais, como o Guggenheim de Nova Iorque. Algumas das suas obras fazem parte da colecção permanente de instituições como o MoMA de Nova Iorque ou o Museu de Arquitectura Alemão, em Frankfurt."Quero que as pessoas se sintam bem num espaço e acredito que esta experiência pode mudar a nossa forma de estar na vida", disse Zaha Hadid, citada no "New York Times" de ontem. "A arquitectura tem um papel educativo a desempenhar", acrescentou. "Como é que queremos viver na cidade? Um edifício pode mudar a nossa forma de pensar."