Artista. Filha de artista. Irmã de artista. Mãe de artista. Tia de artista.

Helena nasceu em 1934. Joana nasceu em 1959. Rita e Rosa nasceram em 1966. É preciso dizer que as quatro se chamam Almeida. Umas usam-no como último nome (Helena e Rosa), outras não (Joana e Rita). Helena Almeida é mãe de Joana Rosa. Rita Filipe e Rosa Almeida são gémeas e sobrinhas de Helena Almeida. Todas descendem de Leopoldo de Almeida, o escultor que fez o Padrão dos Descobrimentos em Lisboa, e pode dizer-se que herdaram os seus genes: são artistas. Em tempos diferentes, as quatro já usaram o atelier de Leopoldo de Almeida, em Campo de Ourique (Lisboa). Quem habita agora o atelier do escultor, que morreu em 1975, é a filha Helena. Um espaço que emerge nas suas últimas fotografias a preto e branco e que corresponde a uma nova etapa no trabalho de Helena Almeida, a quem o Centro Cultural de Belém vai dedicar uma grande exposição.

Comissariada por Delfim Sardo, Pés no Chão, Cabeça no Céu é inaugurada em Lisboa na próxima quinta-feira, às 22h. Helena Almeida, que há 17 anos não tinha uma grande exposição em Lisboa, é uma das mais importantes artistas portuguesas contemporâneas, com um trabalho profundamente original desde os anos 60 e com uma crescente visibilidade internacional (é uma das três artistas portuguesas na Bienal de Sidney de Junho).

O atelier é no nº 69 da rua Coelho da Rocha. Entra-se por um portão verde, a única coisa invulgar num anónimo prédio de rendimento. Depois do portão, a escala diminui drasticamente: há casas pequenas, desenhadas com a arquitectura do Estado Novo, mas com grandes superfícies de vidro para deixar entrar a luz. É uma espécie de "Portugal dos Pequenitos" feito para artistas, uma aldeia de 20 ateliers que Leopoldo de Almeida e o arquitecto Cristino da Silva pensaram em conjunto e que foi inaugurada em 1943. Hoje, ainda lá trabalham artistas como Eduardo Nery e Jorge Martins, mas há também cursos de ioga e uma empresa que faz fotografias de automóveis com modelos.

Helena Almeida e Delfim Sardo escolheram a materialização do espaço do atelier como tema central da exposição. "Todos reconhecemos cada vez mais facilmente o espaço do atelier da Coelho da Rocha. Foi esta questão que elegemos. Porque a Helena parte da pintura e vem encontrar a escultura e a arquitectura como destino", diz Delfim Sardo, neste momento a montar a exposição que vai estar no CCB até 16 de Maio.

Só no atelier é possível reconhecer o espaço das fotografias a preto e branco da artista, a sua imagem de marca: o chão de cimento marcado por uma grelha de quadrados, o rodapé também de cimento, as paredes brancas ou mesmo os vestidos compridos que usa para se transformar. No seu ponto mais alto, o espaço tem nove metros de pé direito, mas a parede que geralmente usa como cenário sobe só até aos 4,5 e é interrompida por um mezanino, que cria um pequeno andar intermédio. A parede está em frente de uma grande janela, virada a norte, e as fotografias são feitas com a colaboração do marido, o arquitecto e escultor Artur Rosa. O atelier é a casa da família, um espaço mítico, por onde passam as memórias de todos, mas principalmente as da artista:

Helena Almeida: "Desde sempre que vinha para o atelier ver o meu pai trabalhar, com oito, nove, dez anos. Vinha muitas vezes ao fim-de-semana. Ele aproveitava para eu posar um bocadinho. Eu aproveitava para desenhar. Ia fazendo o que via fazer. O meu pai morreu em 75. Mas já não vinha para este atelier. Habituou-se a ir para o de Belém. Sempre. Desde que fez o Padrão dos Descobrimentos ficou com esse espaço. Embora viesse aqui, porque isto era tudo prateleiras até ao tecto com estátuas, estatuetas, tinha muito material aqui. E, é claro, isto era dele."

Helena Almeida fala várias vezes sobre a importância da memória de posar para o pai, uma experiência quase performativa. É com esta história que começa o texto de Delfim Sardo no livro Pés no Chão, Cabeça no Céu do CCB: "Para quem posa esta mulher? Para o homem que, frente a ela, dispara a máquina fotográfica? Para nós, que assistimos a toda a cena?"

As perguntas parecem nunca terminar. "O trabalho é absolutamente fascinante", diz-nos Delfim Sardo. "O que é o trabalho de Helena Almeida? O que vejo são fotografias. Mas ela não é fotógrafa. Nem sequer é ela que dispara. Mas a Helena sabe com todo o rigor a imagem que quer produzir."

O comissário tem acompanhado o processo produtivo e convenceu a artista a mostrar, pela primeira vez, um dos vídeos a que chama estudos e que geralmente deita fora.

Helena Almeida: "O Artur é que faz as fotografias. Primeiro faço os desenhos, depois mostro-lhe. Conversamos: 'Vamos fazer assim. Aqui é que vai ser preciso um vídeo, aqui não vai.' Marcamos uma manhã para fazer trabalho. Geralmente é naquela parede, a parede melhor, que tem a luz mais bonita. Tem um branco lindo, um branco com grão. Marcamos os sítios, faço os cenários. Quando é com pigmento, já tenho as coisas prontas quando ele chega."

Artur Rosa não é um assistente vulgar. Helena Almeida chama-lhe "cúmplice". O adjectivo é repetido por várias pessoas. Uma delas é Joana Rosa, um dos dois filhos do casal, que também é artista plástica. O outro filho, Leopoldo Rosa, é arquitecto, como todos os homens da família Almeida, à excepção do escultor Leopoldo. "Desconfio que o meu pai, para a minha mãe, também é um espectador", diz a filha, que tem o atelier em casa, num duplex na rua do Arco do Carvalhão.

Joana Rosa faz desenhos pretos desde 1990. Não é o nome de uma série de trabalhos, mas mesmo o que são — desenhos pretos feitos com grafite. Chama-lhes, aliás, "scrabbles", o termo inglês para rabiscos ou gatafunhos. Foram muito procurados este ano na ARCO, a feira de arte contemporânea de Madrid.

Joana levou ao limite a ideia de arte na família. Literalmente. Madalena, a sua filha de 11 anos, chega a casa da escola e apropria-se dos desenhos da mãe, que estão espalhados pela sala. "Desenha todos os dias compulsivamente. Só faz animais. Ela chega, vê os desenhos no chão e entra neles. Pago-lhe. É mesmo uma assistente. São os nossos trabalhos, a nossa exposição, os nossos convites." A questão da autoria, porém, não se coloca — quem assina é a mãe.

A outra filha tem nome de cor, Branca. Com 19 anos, está a estudar desenho numa escola de arte em Lisboa, a Ar.Co, mas o que gosta de fazer é pintura a óleo. "Cá em casa vive-se muito a arte. Está-se sempre a trabalhar."

Joana Rosa diz que a sua infância foi parecida, assistia ao trabalho da sua mãe, posava para o avô Leopoldo. "Era exactamente igual. Assistia. Pedia papel. Falávamos imenso. Sinto que andamos todos a brincar, que é um jardim infantil. Dá cá o encarnado... Tenho a sensação que todos os membros da minha família têm a mesma idade." O avô costumava dar-lhe uma quantidade minúscula de barro e só havia mais se ela fizesse um boneco bonito: "E dava. Ensinou-me muita coisa. Desenhava comigo ao colo."

Helena Almeida: "É verdade. Tínhamos todos os materiais possíveis. O meu irmão Leopoldo, que já morreu, era mais velho dois anos. Ele desenhava com som, com barulho. Estávamos numa mesa grande sempre os dois a desenhar. Só se punha a mesa quando acabássemos. Conversávamos de arte, havia mais cumplicidade. Havia muitos livros, viajávamos muito. Eu já estava em pintura nas Belas-Artes quando a minha irmã Manelinha começou a dizer que queria ir para pintura também. Depois, quando cresceu, não sentíamos diferença nenhuma, trabalhávamos as duas, também aqui no atelier."

Entre as mulheres da família há também a pintora Manuela Almeida, a mãe das gémeas Rita e Rosa, que morreu há dois anos e era dez anos mais nova do que Helena. Vai ter uma exposição póstuma na Galeria Diferença, em Lisboa. O trabalho dela, diz Rosa Almeida, explorava a luz, a sombra, a repetição. Manuela Almeida trabalhou de uma forma irregular e foi sobretudo activa nas décadas de 60 e 90.

A série Seduzir (2002-2003), o último trabalho de Helena Almeida feito antes dos inéditos que vai mostrar no CCB, é sobre a morte da irmã.

Helena Almeida: "Os saltos altos e o vermelho. Tudo aquilo tem um significado um bocado dramático. Não é o que parece. É a resistência de uma pessoa face a momentos terríveis da vida. Pensei muito na minha irmã Manelinha, que morreu com um cancro na garganta. Porque a minha irmã manteve-se sempre direita, nunca se queixou. Sempre muito bem arranjada, muito elegante. Estava a falar com ela e muitas vezes caía o vermelho pela cara dela, pela boca. E ela limpava com um lenço muito bonito e continuava... Tão mal que estava e não perdia a face. Nunca disse isto a ninguém.

Quando chegava aqui ao atelier tinha muita vontade de fazer qualquer coisa, mas só passados uns meses é que consegui transformar isso em trabalho. Fez-me pensar em muitas circunstâncias de outras pessoas que aguentam até ao limite das suas forças."

Tal como a prima Joana, Rosa Almeida também trabalhou no atelier da rua Coelho da Rocha. "Devo lá ter estado entre 1987 e 1994. Mais ou menos cinco anos com a Joana. E um ano com a minha tia, a minha mãe e a Rita. A Joana foi uma pessoa muito importante para mim."

Rosa Almeida desenha directamente na parede. Nos seus últimos trabalhos Desenhos Luz, é a projecção de um foco na parede que constrói os limites dos desenhos, como mostrou há um mês em duas exposições que fez no Porto e em Lisboa e também, como a prima Joana, na ARCO em Madrid.

"Um dos suportes que utilizo, a parede, é um objecto de memória por excelência. Contém os acontecimentos. A memória torna-se eco. Mas o que escrevo, a linguagem escrita, é também um 'media'. A linguagem não é só um meio literário, é também visual. E também é ouvida, é musical. É essa multiplicidade de níveis que coexistem."

Ao contrário do resto da família, Rosa Almeida teve uma espécie de crise de adolescência em relação à arte. Deixou de querer ser pintora e licenciou-se em História de Arte. Em 1994, foi para Londres fazer o mestrado na Slade School. "Não aprendi só com a minha família. Se calhar foi uma aprendizagem inconsciente, mas com quem aprendi de uma forma mais consciente, com quem tive discussões estéticas, foi com os meus colegas e amigos."

Helena Almeida: "No atelier da Coelho da Rocha não partilhávamos todas o mesmo espaço. Foi quando elas precisaram. Eu e o Artur só íamos lá fazer os trabalhos grandes."

Foi em 1969 que Helena Almeida se vestiu de tela e Artur Rosa a fotografou pela primeira vez. O seu corpo tornou-se arte, interrogando os limites da pintura tradicional. A fotografia, a preto e branco, tem como título Tela Rosa para Vestir. Nos anos seguintes há trabalhos intitulados Desenho Habitado, Pintura Habitada, Tela Habitada, Saída Negra. De dentro das fotografias, às vezes, saem tinta azul, encarnada ou branca, fios de crina, os vestidos prolongam-se em manchas negras que tomam forma de casas, de objecto nenhum. Há coisas que saem de dentro para fora, outras que vão de fora para dentro, nunca se sabe bem. As explicações são complexas: o fio de crina, por exemplo, simboliza a tridimensionalidade do traço.

Helena Almeida: "Lembro-me de fazer um trabalho e pô-lo por cima de mim. Depois fiz uma tela cor-de-rosa e enfiei os braços. Cosi aquilo à máquina. E depois chamei-lhe 'Tela Rosa para Vestir'. O Artur tirou a fotografia. Utilizei o atelier para fotografar pela primeira vez nessa altura. Pareceu-me um gesto impulsivo mas não era. Depois percebi que as telas já pareciam pessoas há muito tempo. Já tinham braços para os lados. Aquilo era como se fosse uma pessoa, como se fosse eu. Foi uma espécie de me 'armar cavaleiro'. Foi um gesto simbólico 'eu sou a pintura, eu vou passar a ser a pintura'."

O comissário Delfim Sardo diz que, neste momento, as interpretações feitas com a metáfora da pintura já não são suficientes para explicar o trabalho de Helena Almeida. "Há um momento em que há outros problemas que são mais importantes. Em Tela Rosa para Vestir o espaço é menos importante. O que é importante é a pintura a transformar-se em corpo. A série Dentro de Mim, de 1998, é a primeira que tem uma presença muito forte do espaço arquitectónico." Dois anos antes, no conjunto comprado pelo Centro de Arte Rainha Sofia, em Madrid - a série Sem Título, de 1996 - vê-se pela primeira vez uma grande quantidade de chão. "São sete imagens. Ela pinta a sua sombra no chão." O comissário escreve no catálogo — a exposição do CCB começou por ser um livro — que todos nós já estivemos no atelier de Helena Almeida, mesmo sem nunca lá termos estado.

A artista comprou o atelier ao senhorio em 1995. Não se lembra exactamente da data. As coisas do pai foram doadas à Câmara das Caldas da Rainha, onde a família tem um projecto para expor em permanência o trabalho de Leopoldo de Almeida, autor da estátua de Salazar feita para Santa Comba Dão. Helena Almeida fez obras nessa altura, porque chovia lá dentro. Mas foram obras de restauro.

Helena Almeida: "Ficou completamente desafogado. Foi uma grande mudança. Tenho muito mais condições de trabalho. Imagino uma coisa na diagonal no atelier e posso fazer uma diagonal de ponta a ponta. Aliás, fi-la. Há um trabalho em que estou no chão a engolir pigmento. É da série 'Dentro de Mim', nessa altura o atelier estava vazio. Senti que tinha umas condições de amplitude enorme."

É difícil dizer a importância da memória do pai, do atelier da Coelho da Rocha, no trabalho de Helena Almeida. Ela gosta de manter algum mistério. Não fala com facilidade, por exemplo, das fotografias feitas fora do espaço de Campo de Ourique, como as da série Estudo para um Enriquecimento Interior (1977).

Helena Almeida: "Uma em que eu estou a engolir a tinta foi feita em minha casa na rua do Arco de São Mamede, porque tinha que ser feita num corredor. Havia outras no estirador também. São coisas pequeninas que podem ser feitas no estirador."

Rita Filipe, a designer da família, diz que todos têm uma ligação ao atelier da Coelho da Rocha. Esteve lá um ano. "Estávamos a trabalhar e tínhamos um Júpiter a atirar uma lança em cima. Havia uma maqueta do D. João I da praça da Figueira. Havia gessos, barros, estudos para o Pavilhão dos Descobrimentos e para o Monumento de Sagres."

As recordações de infância são do atelier do avô em Belém. "Lembro-me de ter ido lá posar. E imagens muito vagas de brincar com o barro." Mas as memórias mais fortes são da avó Marina, a mulher de Leopoldo de Almeida, para quem não havia diferença entre os materiais dos adultos e os das brincadeiras das crianças. "Ela era um pouco a transmissora porque ele não tinha tempo. Brincávamos com pastéis secos, com óleos. Eram autênticos 'workshops'. Fiz muito mais isso com a avó Marina e a Joana do que com a tia Helena e a minha mãe", conta Rita Filipe. "Foi ela que nos mostrou as brilhantinas e as lantejoulas para fazer desenhos, recortes, colagens, pinturas. Trabalhávamos imenso. Essa memória é importantíssima no meu trabalho."

Rita Filipe diz que a ajudou a criar um imaginário visual próprio. O resultado disso são os candeeiros Bolas de Cristal que fez para a Atlantis. "O lado racional e funcionalista do design aprende-se na escola. É esse lado mais decorativo e mais fantasioso que associo à minha avó e à minha prima Joana. Foi isso que me direccionou para o espaço doméstico." Rita acha também que o design é o meio termo entre as duas vocações da família: mulheres artistas plásticas, homens arquitectos.

Helena Almeida: "A minha mãe era importantíssima. Estimulava-me muito. Era uma espécie de intermediária do meu pai. 'Olha o que a Helena fez.' Era um espelho. Via nos olhos dela o que queria que mostrasse ao meu pai quando ele chegasse."

Delfim Sardo concorda que há coisas que correm na família. "Não se adquirem enquanto análise, enquanto dedução e erro. Adquirem-se porque se depositam, são sedimentos que vão ficando. Há um depósito de camadas sucessivas que tem a ver com esse atelier."

É genético?

Helena Almeida: "Isso do código genético foi uma imagem. É capaz de ser, não sou cientista. E também as condições todas que os nossos pais nos davam. Nunca pensei em mim de outra maneira. Só me lembro de mim assim. Não me lembro de pensar em termos de destino nem nada. Deixem-me fazer isto, era quase nestes termos. Por favor, deixem-me sossegada porque é isso que eu quero fazer. Era uma evidência."

Ernesto de Sousa, que organizou em 1977 uma exposição colectiva que foi importante para a artista, a Alternativa Zero, disse que Helena Almeida é "corpo de artista, filha de artista, mãe de artista, esposa de artista".

Helena Almeida: "Às vezes, as pessoas sabem que é o meu corpo nas fotografias. Nos anos 70, via-se a cara. Mas perguntam muito porque não uso um modelo. Isso é uma pergunta que toda a gente faz. Querem saber porque é que sou eu. No fundo, faz-lhes confusão: isto é auto-retrato ou não é? São problemas dela ou de quem são? Geralmente quando um artista aparece na obra é um auto-retrato. Há uma confusão grande neste aspecto, as pessoas são obrigadas a fazer essa ligação. Isto não são, de facto, auto-retratos. Isto não sou eu. Estou ali, mas não sou eu. Pode ser mais pessoas."

Helena Almeida faz cerca de doze sessões de fotografias por ano. Foi Artur Rosa, com quem casou em 1956, há quase 50 anos, que comprou a primeira máquina. "Quando ela resolveu acabar com as pinturas e atacar a fotografia para se expressar tive que comprar uma máquina Pentax. Fiz uma câmara escura. Hoje é uma Nikon e as fotografias são reveladas na Foto Indutrial. Vivo intensamente tudo o que a Helena faz. Desenha muito, tem blocos cheios, mostra-mos. O nosso contacto foi sempre este. Diariamente, quando chegava a casa, dizia: 'Tenho isto novo.' A Helena trabalha sempre muito."

Mas o diálogo é recíproco. Quando fazia escultura — hoje é mais a arquitectura — também discutia o seu trabalho com a mulher. Fizeram, aliás, a sua primeira exposição no mesmo ano na Galeria  Buchholz — 1968. Artur Rosa é autor da grande escultura que entra pela janela da sede da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa. Está na parede oposta ao grande auditório e estende-se por 15 metros de comprimento. Foi também feita em 1968 em aço inox, acrílico e alumínio. O seu trabalho está ligado à Op Art, uma abreviatura de "optical art" (arte óptica), que teve Victor Vasarely como um dos protagonistas.

Artur Rosa: "Não sou fotógrafo. Faço aquilo que sei que a Helena precisa. O rolo de 400 asa da Kodak dá o grão que o desenho tem. Não uso focos. Fotografamos sempre com a luz da manhã. É o meu dedo para disparar. É saber de antemão o que ela quer, porque ela já me explicou. 'Eu estou a ver-te assim. Queres o espelho com este reflexo? Tens o escadote.' 'Óptimo', responde a Helena. É evidente que há outro ver que vem da minha prática de artista. Ajuda-me a ver os seus desenhos. Não sou o autor, mas vibro com o trabalho que a Helena faz. Tenho o privilégio de ser o primeiro espectador."

Helena Almeida: "É importantíssimo ser ele a fazer as fotografias. Se fosse um fotógrafo qualquer — até podia ser que as fotografias estivessem lindíssimas, mas não é isso que quero — não tinha o à-vontade que tenho a posar. Nem tinha ido tão longe, porque assim estou muito à vontade. Vamos falando. Com um estranho é muito diferente."

Mas o casal não é uma dupla. Helena Almeida dá uma gargalhada e diz que não são os artistas Gilbert & George, o casal "gay" britânico que se assume como escultura viva e cujo trabalho também já foi exposto no CCB.

Em frente a várias reproduções de desenhos preparatórios de um catálogo de uma exposição em Santiago de Compostela, Espanha, conseguem identificar quase em coro, e à velocidade de um "zapping", os que já foram transformados em fotografia. São desenhos a tinta da China, lápis, pastel e guache, em papel A4. Artur Rosa comenta que deviam fazer mais sessões fotográficas, porque há muitas centenas de coisas que não passaram dos blocos.

Helena Almeida: "Sou eu que faço as coisas, completamente. Depois, mostro-lhe. Ele às vezes até fica muito surpreso. Tem o seu trabalho, ao longe. É arquitecto. Nunca interfere, o que é óptimo. Nunca diz: 'Faz antes assim. Ou isto está mal. Ou não vai resultar.' Nunca."

 

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