Crianças ilustram azulejos com direitos fundamentais europeus
As impressões digitais de duas mãos simbolizam o direito à protecção de dados pessoais. Uma face, metade feminina e metade masculina, a igualdade. Duas crianças a brincar e uma planta sorridente, a protecção do ambiente. Estes são alguns exemplos das ilustrações em azulejos que os pequenos artistas, alunos do ensino básico, secundário e profissional, fizeram sobre a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia (UE). O convite veio do Centro de Informação Europeia Jacques Delors (CIEJD), que chamou ao projecto "Inscrever a Europa nos muros da cidade". A ideia surgiu o ano passado no rescaldo das comemorações do 9 de Maio - Dia da Europa. Nessa data o CIEJD, em colaboração com o Centro Cultural de Belém, convidou Françoise Shein, uma artista com uma vasta experiência no domínio dos direitos do Homem, para trabalhar com jovens de diversas escolas de Lisboa sobre a Carta dos Direitos Fundamentais. O sucesso resultou numa extensão e adaptação do projecto. Foi concebido um "atelier" itinerante, com o objectivo de levar a consciência da cidadania europeia junto das populações. No final, os azulejos ilustrados são incluídos num painel que é exposto num local público da cidade, que passa a integrar a rede "Inscrever a Europa nos muros da cidade"."É preciso que as pessoas conheçam os direitos que unem os povos europeus e traduzem o conceito de cidadania europeia. Os jovens são um bom público alvo, porque além de serem mais sensíveis a estes temas são multiplicadores de informação, mobilizando a família e toda a comunidade escolar nos projectos em que se envolvem", justifica Margarida Cardoso, administradora do CIEJD, ao defender que a sensibilização neste campo é especialmente relevante. "O último Eurobarómetro revela que os portugueses são os cidadão da UE que se sentem menos europeus. Cinquenta e um por cento não reconhece sequer a cidadania europeia", realça. Porto, Serpa, Alcabideche e TondelaO projecto arrancou no ano passado e, até agora, quatro localidades já foram contempladas com a iniciativa. Porto, Serpa, Alcabideche e Tondela compõem a lista. Seguem-se Tomar e Guimarães. Este ano está ainda prevista a concretização de "ateliers" em pelo menos mais duas cidades. Como objectivo Margarida Cardoso não esconde que gostaria de ver um painel em cada distrito. A iniciativa conta com a parceria da associação Inscrire - Escrever os direitos humanos, da qual Françoise Shein é fundadora, e da Animar, uma federação que congrega mais de 70 associações de desenvolvimento local, em todo o país. O patrocínio da Comissão Nacional para as Comemorações do 50º Aniversário dos Direitos do Homem tornou viável o projecto."O nosso papel é mobilizar as organizações à escala local", explica David Machado, um dos dirigentes da Animar, ao referir que a dinamização tem sido fácil. "O impacto é elevado porque as cidades vêem-se dignificadas por participar numa rede nacional", avalia. Françoise Shein também faz um balanço muito positivo: "No início os miúdos não tinham a mínima ideia do que era a Carta, mas passadas poucas horas conseguiram compreender com alguma profundidade os artigos. É muito engraçado ver a progressão do conhecimento". Quanto aos artigos mais concorridos para as ilustrações, a protecção do ambiente ganha a corrida. "Todos queriam escolher o respeito pela natureza e pelo meio ambiente", constata a artista. A solidez da aprendizagem é comprovada por Paula Silva, professora do Colégio Luso-Francês, no Porto, uma das instituições que participaram no projecto. "Nenhum aluno conhecia a Carta dos Direitos Fundamentais, mas a empatia com Françoise foi muito grande e em pouco tempo eles apreenderam muito. Agora já distinguem a expressão União Europeia do conceito de Europa", exemplifica a docente do ensino básico. E completa: "O entusiasmo foi muito e, por isso, a experiência ficou bem marcada. Esta é a forma ideal de ensino: muito natural e saudável". Apesar de as crianças serem os "principais clientes" do projecto, não foram os únicos. Em Serpa, um curso de formação profissional em azulejaria para mulheres também aderiu à iniciativa. Margarida de Araújo, uma ceramista que deu apoio ao "atelier", descreve a reacção da participantes: "No início estavam muito apreensivas, muitas até pensaram em faltar. Mas depois perceberam que a Carta dos Direitos Fundamentais fala de uma realidade que faz parte do seu dia-a-dia e acabaram por gostar muito". Para o futuro? "Gostaria de alargar a rede 'Inscrever a Europa nos muros da cidade' a outros países europeus, nomeadamente doLeste", refere Françoise Shein. Margarida Cardoso concorda: "Exportar o projecto é uma boa ideia; além disso, o azulejo dá um toque bem português".