Durão Barroso tem uma pequena colecção de arte contemporânea
Como o príncipe Filipe de Espanha e a namorada, José Manuel Durão Barroso e a mulher passearam de mão dada ontem de manhã na Feira Internacional de Arte Contemporânea de Madrid (ARCO), onde estão 14 galerias de arte portuguesas. Mas ao contrário do que fizeram na véspera o príncipe das Astúrias e a sua noiva Letizia Ortiz, Durão Barroso e Margarida Sousa Uva não compraram nada. "Não estão a montar casa", ironizou um assessor do primeiro-ministro. Esta é a primeira vez que Barroso vem à ARCO na qualidade de chefe do Governo, mas como particular, segundo a mulher, já aqui tinha estado duas ou três vezes. Na conversa final com os jornalistas, o primeiro-ministro afirmou que tinha "uma pequena colecção de arte contemporânea, porque os recursos são pequenos". Interrogado pelo PÚBLICO sobre a última obra adquirida, o primeiro-ministro disse que tinha sido um quadro do artista português Urbano, "muito pequenina, na Galeria 111, mas já há algum tempo". E a mulher ajudou-o a descrever a obra deste pintor açoriano nascido em 1959: "É um homem que segura uma ovelhinha."Durão Barroso afirmou também que lhe interessavam "os autores mais jovens". Durante a visita identificou (sozinho) obras de autores mais experimentais do que Urbano, como as de João Penalva, o artista português radicado em Londres, mostrando a sua cultura visual contemporânea. "Aquilo é um João Penalva?", perguntou na Galeria Mário Sequeira. Atrás, na Galeria Filomena Soares, já tinha afirmado que gostava muito de outra obra do artista. Na conversa com os jornalistas que teve na galeria portuense Quadrado Azul - onde este ano a Fundação Arco fez a aquisição mais importante de uma obra portuguesa, uma escultura grande de José Pedro Croft - falou também do trabalho de outros artistas. O próprio Croft, "escultor mas também óptimo desenhador", Rui Chafes e Jorge Queirós, Joana Salvador, Fátima Mendonça, Rui Serra, etc. Minutos antes, tinha-se mostrado muito satisfeito "com a aceitação e a qualidade" da arte portuguesa na feira, citando o encontro com dois dos comissários internacionais dos Project Rooms, o norte-americano Víctor Zamudio-Taylor e o belga Peter Doroshenko, que tinham dito a Durão Barroso que a arte portuguesa contemporânea tinha que ser apoiada. Os dois escolheram os projectos dos artistas Noé Sendas, uma instalação vídeo, e um farol de areia gigante, de João Pedro Vale, que juntamente com o trabalho de Miguel Palma, são os únicos projectos individuais de artistas portugueses apresentados nesta feira que termina amanhã. Foi no farol de João Pedro Vale que Durão Barroso tirou a "foto oficial" com a mulher e a directora da feira, Rosina Gomez-Baeza, momento em que o primeiro-ministro se sentiu pouco à vontade. A obra chama-se "Heróis do Mar". "Porque é que escolheram este farol [para a fotografia]?", perguntou Durão Barroso, que não conseguiu ver a instalação de Noé Sendas, porque o vídeo não estava a funcionar. "Ficámos muito contentes com as referências muito poéticas do farol e impressionados com o ritmo da montagem do vídeo", disse Zamudio-Taylor, pedindo a Durão Barroso para "prestar atenção à arte contemporânea portuguesa, porque há um interesse crescente". Para Zamudio-Taylor, a arte portuguesa "tem rigor formal e trata de temas vitais".Afirmar Portugal em EspanhaSobre os resultados da feira, Rosina Gomez-Baeza afirmou que as compras dos coleccionadores privados estavam a aumentar - numa relação de 60 por cento (privados) para 40 por cento (institucionais) -, "um resultado directo da economia". Mas lembrou que é o coleccionismo institucional que assegura o acesso do público às obras contemporâneas. Durão Barroso disse que Espanha era para a arte, como para as outras áreas, "um espaço natural para a afirmação de Portugal". Lembrou que na véspera tinha anunciado a criação no próximo ano de um centro cultural português na capital espanhola, "para haver uma presença permanente da cultura e da arte portuguesa em Madrid e em Espanha para além da presença efémera das feiras".Sobre o futuro da Colecção Berardo, a importante colecção de arte contemporânea que o comendador Joe Berardo quer expor com a ajuda do Estado, ainda não há uma decisão mas Durão Barroso disse ao PÚBLICO que "estão a haver contactos". Na Galeria de Cristina Guerra, onde a Fundação ARCO comprou a instalação vídeo do jovem artista Rui Toscano, Durão sugeriu a Cristina Guerra que Toscano fizesse uma réplica politicamente diferente: "Tem o assobio da Internacional, podiam também fazer uma com o hino nacional."