Ariel Sharon anuncia evacuação de 17 colonatos em Gaza

O primeiro-ministro israelita, Ariel Sharon, anunciou ontem a decisão de evacuar 17 colonatos na Faixa de Gaza, embora sem indicar um prazo. O anúncio surpreendeu o seu partido, o Likud, e provocou uma imediata ameaça dos colonos. Os palestinianos reagiram com cepticismo.Sharon escolheu o diário "Ha'aretz" (esquerda), crítico da sua política, para fazer a declaração, imediatamente divulgada na sua edição "online". Disse na entrevista: "Dei ordens para se planear a evacuação de 17 colonatos na Faixa de Gaza. É minha intenção levar a cabo a evacuação - perdão, a recolocação - dos colonatos que nos causam problemas e dos locais que não nos interessa manter de forma nenhuma depois de um acordo final, como os colonatos de Gaza." "Estou a trabalhar no pressuposto de que, no futuro, não haverá judeus em Gaza", prosseguiu. Em Gaza há 21 colonatos, mas esta passagem indica a intenção de uma retirada total. Sharon não indicou datas. "Falamos de uma população de 7500 pessoas. Não é simples. (...) Deslocar milhares de quilómetros quadrados de estufas ou instituições educativas não se faz depressa, sobretudo se for feito debaixo de fogo. (...) A primeira coisa é obter o acordo dos residentes." Afirmou ainda que o plano seria executado "com o acordo e o apoio dos americanos", que poderiam financiar a operação. Logo a seguir, Sharon comunicou a decisão aos deputados do Likud. "Estou pura e simplesmente em estado de choque e estupefacto com tudo o que foi dito", comentou o deputado Yehiel Hazan, chefe do "lobby" dos colonos no partido.Os dirigentes dos colonos de Gaza emitiram um comunicado em que ameaçam fazer cair o Governo se Sharon não voltar atrás. O Governo tem 68 deputados em 120. Pelos menos 13 deles são de extrema-direita e a sua deserção poderia levar a eleições antecipadas.O governo palestiniano reagiu com prudência. "Nenhum palestiniano se opõe à evacuação de um colonato israelita", afirmou o ministro e negociador Saeb Erekat. Mas disse temer que Sharon tenha feito um mero exercício de relações públicas. Um responsável do Hamas em Gaza disse à AP que uma retirada seria "uma vitória da resistência".O líder trabalhista, Shimon Peres, desvalorizou o anúncio: "Uma coisa são os planos, outra executá-los".Gaza não é tabu. Ao contrário da Cisjordânia, que a extrema-direita política e religiosa reivindica como terra judaica (Judeia e Samaria), Gaza é considerada território árabe. São dos colonatos mais difíceis de defender, fonte de permanente desgaste que obriga o exército a uma excessiva dispersão de efectivos. Por isso alguns ministros, militares ou jornais conservadores, como o "Yediot Aharonot", têm defendido o seu abandono. Este plano insere-se na estratégia de "separação unilateral" definida por Sharon na conferência de Herziliya, a 23 de Dezembro. Se não houver progressos na negociação com os palestinianos, Israel porá em andamento um "programa unilateral de separação", em que definirá os territórios que lhe interessa conservar ou abandonar, de modo a que haja um mínimo de israelitas em áreas de maioria palestiniana. Esta estratégia tanto serve para ganhar tempo como para criar um facto consumado de anexação territorial. É complementada pela construção do muro. O anúncio de ontem marca no entanto um passo em frente, pois até agora Sharon só falara em fechar colonatos "selvagens" geralmente desabitados. É uma decisão que cairá bem em Washington, que Sharon visitará dentro de semanas. No terreno, foram ontem mortos cinco palestinianos. Quatro numa operação militar em Rafah, Faixa de Gaza, entre eles o chefe local da Jihad Islâmica, e um militante do Hamas na Cisjordânia.

Sugerir correcção