Sonda Mars Express detecta água em forma de gelo em Marte

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A sonda europeia está na órbita marciana desde Dezembro EPA/ESA

O anúncio foi feito em conferência de imprensa pelo responsável da missão europeia Mars Express, o italiano Vittorio Formisano.

Esta informação foi confirmada pelo novo espectrómetro de alta resolução da sonda (PFS). Os primeiros dados mostram ainda que a distribuição do gás carbónico é diferente nos hemisférios sul e norte de Marte.

Até agora só tinha sido dada como provada a existência de vapor de água na atmosfera marciana. Os investigadores ignoram ainda se se trata de gelo permanente, ou de gelo que se evapora durante o Verão marciano e se forma durante o Inverno. "Estamos no fim do Verão. O facto de o gelo se encontrar ainda no pólo sul quererá dizer que se trata de gelo permanente", disse o cientista.

Os cientistas europeus identificaram igualmente traços de erosão provocados pela água. "As análises confirmam que houve uma actividade de erosão provocada pela água na superfície marciana", precisou, por seu lado, Gerhard Neukum, especialista em planetas da universidade de Berlim.

Durante a conferência, a ESA apresentou também várias fotografias de alta resolução da superfície marciana captadas pela câmara HRSC no dia 18 de Janeiro. As imagens, recebidas na quarta-feira, reproduzem 1,87 milhões de km2 do planeta vermelho, ou seja, 100 gigabytes de informação captada pelas antenas terrestres. Esta câmara está preparada para tirar a maior fotografia panorâmica (mais de 4000 quilómetros) de alta resolução alguma vez captada no Sistema Solar. Esta tecnologia permitiu criar uma imagem com 24 metros de comprimento por 1,3 de altura que hoje de manhã foi apresentada por um grupo de crianças na conferência de imprensa.

Desde há 30 anos que os cientistas falam na hipótese da existência de água sob forma de gelo na supercífie do planeta vermelho, mas nunca tinham tido confirmações indirectas como a que hoje anunciaram na Alemanha.

A sonda Mars Express da ESA, que tem a forma de uma caixa e pesa cerca de 1200 quilos, foi colocada com êxito em órbita marciana no dia 25 de Dezembro de 2003 a 2000 quilómetros da superfície, e está prestes a atingir a sua órbita operacional final sobre os pólos do planeta.

Esta missão representa um importante teste para a ESA, que quer ter um lugar destacado na investigação espacial com a iniciativa Aurora. "O grande objectivo disto tudo, a longo prazo, é mandar homens a Marte. E a Agência Espacial Europeia tem um programa para lá pôr um homem até 2030", afirmou o astrofísico holandês Maarten Roos Serote, do Observatório Astronómico de Lisboa, na altura em que a Mars Express partiu em direcção ao planeta vermelho.

Desde Dezembro que a ESA e a norte-americana NASA competiam pelas primeiras provas directas da existência de água em Marte. Os primeiros a chegar à atmosfera do planeta vermelho foram os europeus, mas a missão terminou com um rotundo fracasso com o robô explorador Beagle2 a não dar sinais de vida desde que foi lançado sobre o solo marciano.

Por seu lado, a NASA conseguiu pousar com sucesso o robô "Spirit", que continua a analisar rochas de Marte. O gémeo do "Spirit", o "Oportunity", deverá pousar no planeta vermelho no próximo domingo.

Subdirector do Observatório Astronómico de Lisboa pouco surpreendido com anúncio da ESA

Reagindo sem grande surpresa ao anúncio da Agência Espacial Europeia (ESA), segundo o qual a Mars Express detectou água sob a forma de gelo na superfície do pólo sul do planeta vermelho, Rui Agostinho, subdirector do Observatório Astronómico de Lisboa lembrou, ouvido pela Lusa, que "não se pode começar a sonhar com grandes construções de cidades em Marte".

"É preciso agora fazer um estudo sobre a quantidade de água existente, já que este é apenas um primeiro passo. Até porque a água deve estar misturada com neve carbónica", explicou.

"Não é uma novidade porque já se sabia que havia água em Marte. Desse ponto de vista não é novo porque os astrónomos já tinham medições da existência de água, tanto sob a forma sólida como gasosa", disse.

"O que agora aconteceu foi uma confirmação com rigor e detalhe da existência de água nos pólos", apontou, acrescentando que isso vai permitir fazer um mapeamento da presença de água no pólo sul.Apesar de o cenário ser remoto, a exploração humana do planeta - um dos objectivos traçados pelo Presidente norte-americano, George W. Bush para os próximos anos de conquista espacial - poderá ficar facilitada.

Caso fosse construído um "dispositivo que permitisse recuperar a água existente em Marte", talvez "um ou dois astronautas" a pudessem usar, mas mesmo isso é um "sonho muito remoto", considerou.

Até porque, continuou Rui Agostinho, de acordo com estimativas do conselho científico da NASA divulgadas no ano passado, caso se juntasse "toda a água que se crê existir em Marte isso daria apenas para fazer uma cobertura com 30 metros de espessura". "É uma quantidade mínima", acrescentou.

Outra questão quase sempre associada à existência de água em Marte é a possibilidade de ter havido um quadro propício à existência de vida. "A vida é uma questão que não está necessariamente ligada com isto. Os astrónomos sempre disseram que este planeta, no seu início, quando ainda estava quente e havia água líquida em maior quantidade, deve ter dado hipótese de se terem desenvolvido organismos extremamente primitivos", afirmou o investigador.

Nesse sentido, e para o astrónomo, será muito mais importante estudar amostras do gelo agora detectado, que poderá conservar ainda vestígios dessa vida primitiva marciana.

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