"O maestro deve imaginar o conteúdo da música"
Nascido em Riga, em 1943, Mariss Jansons é um dos compositores mais solicitados da actualidade. O seu percurso profissional iniciou-se como assistente de Herbert von Karajan e de Evgeny Mravinsky. Esteve ligado à Orquestra Filarmónica de São Petersburgo entre 1973 e 1997 e, em 1979, foi nomeado director artístico da Orquestra Filarmónica de Oslo, transformando-a numa referência internacional. Tem trabalhado como maestro convidado nas mais importantes orquestras internacionais e, em 1997, tornou-se maestro titular da Orquestra Sinfónica de Pittsburgh. Jansons vem a Lisboa para dirigir a "Sinfonia n.º 6", de Dimitri Chostakovich, e a "Sinfonia Fantástica", de Hector Berlioz, à frente da Orquestra Sinfónica da Rádio da Baviera (OSRB), da qual é titular desde 2003. A sua presença é um extraordinário acontecimento, que vem engrandecer a lista das excelentes propostas incluídas no Ciclo Grandes Orquestras Mundiais organizado pela Fundação Calouste Gulbenkian, com o apoio do BPI. Ao PÚBLICO, Jansons explicou como está a decorrer o seu percurso recente na OSRB, onde, tal como ocorreu nas orquestras com quem trabalhou de forma estável, a primeira aproximação será feita através de Haydn: "Em todas as orquestras que dirigi até agora, sempre abordámos um repertório muito extenso e isso não vai mudar em Munique. No entanto, no início, vamos começar por trabalhar algumas obras de Haydn. Ele é um dos maiores criadores da história da música e um compositor que nunca deixei de interpretar. É muito bom para as orquestras sinfónicas tocar a sua música, porque as transforma numa espécie de enorme orquestra de câmara." Depois de se ter iniciado no violino com o seu pai, que foi também regente de orquestra, Jansons frequentou, em São Petersburgo, uma escola de música especial para crianças talentosas e guarda dos seus mestres as melhores recordações: "Eles deram-me muitos motivos de inspiração e um conhecimento profundo do que é a regência. Mravinsky era um maestro excepcional - os seus ensaios eram incríveis e isto explica que tornasse a sua orquestra numa das melhores do mundo. Karajan tinha uma personalidade marcada, que, no momento do concerto, se transformava numa energia e numa concentração extraordinárias. Em Viena, com Hans Swarowsky, adquiri uma enorme familiaridade com o repertório e o estilo de interpretação vienenses."Uma das obras incluídas no programa que vai apresentar hoje, a sinfonia de Chostakovich, foi estreada por Mravinsky, o qual "compreendeu como ninguém o espírito do compositor, pelo que a sua influência na minha abordagem da sua música é incontornável." Do programa de Lisboa consta, ainda, a "Sinfonia Fantástica", a obra mais célebre de Berlioz, da qual Jansons é um intérprete de referência. Contudo, o regente assegura que obtém com ela resultados sempre diferentes: "Cada vez sou mais capaz de pôr fantasia musical nessa obra, de desenvolver a minha imaginação, alterando pequenos detalhes relativos ao tempo, à dinâmica e à expressão."Mariss Jansons é um dos maestros que imprime maior carga emocional às suas interpretações, pelo que não surpreende que defenda que toda a música deva ser analisada "tendo em vista a compreensão do que o compositor quis dizer, inclusive no caso de obras mais abstractas". "O regente deve imaginar o conteúdo da música, descobrir o que está para além da partitura. Não se trata de ir lendo nota após nota, mas de descobrir o seu conteúdo e de transformá-lo em imagens e atmosferas." Orquestra Sinfónica da Rádio da Baviera. "Sinfonia n.º 6", de Dimitri Chostakovich, e a "Sinfonia Fantástica", de Hector Berlioz. Ciclo Grandes Orquestras Mundiais.LISBOA Coliseu dos Recreios. R. Portas St. Antão, 96. Tel.: 213240580. Hoje, às 21h. Bilhetes entre 15 e 55 euros.