Ponte Medieval de Barcelos vai funcionar até haver nova travessia
A ponte medieval que atravessa o rio Cávado, ligando Barcelos a Barcelinhos, não está em perigo nem será encerrada ao trânsito em breve, devendo manter-se em funcionamento até à construção de uma nova travessia que está a ser projectada pelo arquitecto catalão Santiago Calatrava e cuja construção não tem ainda data definida. A garantia foi dada anteontem ao PÚBLICO pelo presidente da autarquia, Fernando Reis, dias depois do arquitecto Joaquim Flores, da Direcção-Geral dos Monumentos Nacionais, ter afirmado, durante as Jornadas de História Local, organizadas pela biblioteca municipal, que seria aconselhável o condicionamento do monumento ao tráfego devido à sua avançada idade. "A ponte está fechada aos ligeiros há muitos anos. É uma travessia que não oferece problemas. É uma ideia interessante fechá-la ao trânsito, mas isso é um projecto que só concretizaremos quando houver uma alternativa", disse o autarca. A alternativa passa pela construção de uma travessia que o arquitecto catalão Santiago Calatrava está a projectar para poucas centenas de metros a jusante da ponte medieval, mas a autarquia ainda não tem data marcada para o início da construção da obra. Calatrava está a projectar a estrutura desde 1999, mas Reis assegurou ao PÚBLICO que "não há uma data para apresentação do projecto", devido a "várias dificuldades na renegociação do contrato". "O contrato foi assinado numa perspectiva, as coisas alteraram-se, os honorários também e não tem havido possibilidade de falarmos pessoalmente para chegarmos a uma acordo. Vamos ver se por fax a situação se resolve, senão terei que marcar um encontro", explicou o edil.A concretização do projecto afigura-se, contudo, difícil e polémica. Não só porque já implicou uma renegociação que obrigou ao pagamento do dobro dos honorários em relação ao que estava inicialmente estabelecido - Calatrava apresentou uma estimativa de custo da obra de cerca de 2,5 milhões de euros e um valor de honorários de dez por cento, e, dois anos depois, a obra foi calculada em perto de cinco milhões de euros, mantendo-se a percentagem para o arquitecto - mas, sobretudo, por causa dos atrasos na execução do projecto. A oposição, e em particular os socialistas, que têm quatro vereadores no executivo, consideram que a ponte "é um projecto virtual, com verbas orçamentadas há vários anos para pagar um projecto que ninguém conhece".Horácio Barra, vereador e presidente da comissão política concelhia do PS, exige que Reis "explique que dinheiro vai gastar" na concepção da obra e, "se houver ponte, quanto vai custar, porque isso também ninguém sabe". Barra critica o acordo que lhe parece "um poço sem fundo" e recorda que o contrato tem variáveis não definidas contratualmente que "podem implicar gastos elevadíssimos para a autarquia". O socialista lembra, por exemplo, que "depende da vontade do arquitecto vir ao local, ele e a sua equipa, as vezes que quiser, sempre a expensas da câmara, com honorários muito elevados".O líder da edilidade defende, contudo, que se trata de "procedimentos normais definidos no contrato", mas que têm sido difíceis de concretizar, porque "a câmara tem que seguir as regras que a administração pública portuguesa impõe, às quais estas pessoas não estão habituadas". A ponte de Calatrava é uma intervenção importante no projecto de recuperação do Centro Histórico de Barcelos. Cria uma alternativa à ponte medieval, que deverá passar a uso exclusivo de peões.A Calatrava será uma ponte urbana, com passagem rodoviária e pedonal entre Barcelos e Barcelinhos, um miradouro sobre o rio, com vista para o casco velho da cidade. Terá duas faixas para trânsito, que circulará apenas no interior da cidade. Construída em aço, com arcos parabólicos com dupla curvatura, representa a introdução de um elemento moderno na paisagem que o arquitecto assume como "um desafio". Para além de representar mais uma ligação entre as duas margens, a travessia dispõe, num nível superior ao da passagem dos automóveis, de uma praça com uma área de 100x18 metros e uma varanda de 15 metros de largura sobre o rio."É uma travessia que não oferece problemas. É uma ideia interessante fechá-la ao trânsito, mas isso é um projecto que só concretizaremos quando houver uma alternativa"Fernando Reis, presidente da Câmara Municipal de Barcelos