Lípidos podem ser uma nova arma no tratamento e prevenção da tuberculose

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Nem todos os lípidos servem para combater o bacilo da tuberculose, como por exemplo os lípidos dos peixes DR

O bacilo da tuberculose pode manipular a resposta dos macrófagos, células do nosso sistema imunitário especializadas em destruir agentes invasores, impedindo o seu processo de desenvolvimento até à fase da digestão da bactéria. É então que entram em cena certas gorduras que, de acordo com a equipa, são capazes de restaurar os mecanismos bactericidas dos macrófagos infectados.

Toda a gente sabe que uma alimentação equilibrada é a melhor forma de prevenir doenças, incluindo a tuberculose - uma doença que ainda mata cerca de dois milhões de pessoas por ano e que infecta cerca de oito milhões. Um organismo enfraquecido está mais sujeito não só ao contágio, a que todos estamos expostos, mas sobretudo a que os agentes patogénicos tenham sucesso e que se desenvolvam de modo a dar lugar à doença propriamente dita.

Elsa Anes explica que, a nível mundial, uma em cada três pessoas está infectada com o bacilo da tuberculose, mas apenas dez por cento acaba por desenvolver a doença. Mas por que é que uma alimentação rica e equilibrada é tão importante? A equipa do centro de Patogénese Molecular da Faculdade de Farmácia descobriu algumas pistas para responder a esta questão.

A ajuda dos ómegas e das ceramidas

Nos macrófagos, as bactérias instalam-se num vacúolo, o fagossoma, que normalmente tem a capacidade de degradar o material que reconhece como perigoso. Isto ocorre após a fusão do fagossoma com o lisossoma, que é um outro compartimento celular, rico em ácidos e enzimas digestivas. É este o cenário quando tudo corre bem dentro do macrófago. Mas o problema é que o bacilo da tuberculose tem a capacidade de manipular os mecanismos do macrófago, impedindo a fusão do fagossoma com o lisossoma.

O que a equipa descobriu foi que certas gorduras, como os ómegas existentes na carne, entre elas o ómega 6, ou ácido araquidónico - que se provou ser o mais eficiente - ou as ceramidas, utilizadas em certos cremes faciais, podem restaurar a capacidade de fusão do fagossoma com o lisossoma, essencial na luta contra o bacilo da tuberculose. Estas gorduras parecem desencadear a produção de filamentos de actina, que formam o esqueleto interno das células, e que são como auto-estradas que facilitam a fusão entre o fagossoma e lisossoma.

Quanto mais filamentos de actina forem produzidos, maior será a capacidade dos macrófagos infectados de combaterem a infecção, relata a equipa na revista "Nature Cell Biology": "A hipótese é a de que as gorduras como a ceramida se sobrepõem aos sinais químicos do bacilo, que dizem ao fagossoma para parar de amadurecer, o que bloqueia a formação das 'auto-estradas' de actina", explica Elsa Anes.

Quando essa reserva de lípidos não está disponível, o processo de desenvolvimento reverte a favor do bacilo da tuberculose e contra o seu portador. "O bacilo arranja um nicho espectacular dentro do macrófago e fica perfeitamente camuflado. Ainda se usa deste nicho para adquirir nutrientes. Pode sobreviver durante anos. Mas só se houver um descontrolo é que evolui para a tuberculose activa", adianta a investigadora.

Mas nem todos os lípidos servem. Através de experiências não apenas com bacilo da tuberculose mas com pérolas nanométricas de látex, a equipa chegou à conclusão que, por exemplo, os ómega 3, outro tipo de óleos essenciais abundantes no peixe, inibem a produção da actina e favorecem a sobrevivência e a multiplicação das bactérias. Estes resultados vão ao encontro de estudos que mostram que os esquimós, com dietas ricas em peixe, são mais susceptíveis à tuberculose. O mesmo se passa com animais de laboratório alimentados com suplementos de ómega 3.

"Podemos arriscar e dizer que as pessoas em risco de tuberculose deviam ter uma alimentação rica em ómega 6, apesar deste ser um estudo inicial. O ideal mesmo é ter uma dieta equilibrada e uma nutrição o mais completa possível. Até porque a maior parte dos casos de tuberculose aparece em pessoas que sofrem de subnutrição", conclui Elsa Anes.

Para a investigadora, o estudo introduz a hipótese de uma alternativa no caminho da prevenção, numa altura em que a tuberculose é cada vez mais resistente aos antibióticos existentes. "No futuro, estes resultados podem ajudar a descobrir uma nova arma para a prevenção ou tratamento", afirma. O próximo passo será testar estes dados em ratinhos, uma vez que até aqui a equipa apenas fez testes em células também destes roedores.

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