A arquitectura de Ginestal Machado

Muitos edifícios comerciais e complexos de habitação construídos nos últimos anos no Porto e em Vila Nova de Gaia foram desenhados pela empresa do arquitecto Ginestal Machado - APEL, Arquitectura, Planeamento, Engenharia, AS -, a quem se deve também o polémico projecto da futura sede do Banco Português de Negócios (BPN), um prédio envidraçado de sete andares que deverá nascer nas traseiras da Casa da Música. Respondendo às críticas de Rem Koolhaas, que, em declarações ao PÚBLICO, afirmou que o anunciado edifício "ignora dramaticamente as intenções da Casa da Música" e previu que a sua eventual construção irá "expor ao ridículo a própria cidade do Porto", Ginestal Machado afirmou ter "currículo suficiente para não precisar de aulas de arquitectura" do seu colega holandês.De facto, o número de obras de dimensão significativa projectadas por Ginestal Machado, sobretudo no Porto e em Gaia, mas também em várias outras cidades portuguesas, parece dar-lhe legitimidade para acenar com o currículo. Pelo menos no plano quantitativo. Já no que respeita à qualidade, cuja avaliação é necessariamente mais subjectiva, o PÚBLICO pediu ao arquitecto e crítico de arquitectura Jorge Figueira que analisasse um conjunto de quatro obras consideradas representativas do trabalho que vem sendo desenvolvido pela APEL. Centros comerciais e de negócios, incluindo uma grande superfície como o Arrábida Shopping, em Gaia, edifícios multifuncionais e grandes complexos habitacionais absorvem boa parte da produção do atelier de Ginestal Machado, mas devem-se-lhe também, por exemplo, várias obras de remodelação, como a do Grande Hotel da Figueira da Foz, ou do mosteiro de Grijó, e ainda alguns projectos para moradias.No Porto, além das obras comentadas por Jorge Figueira, a APEL projectou um vasto conjunto de novas urbanizações na zona da Avenida da Boavista, um complexo residencial na Foz, e, para citar apenas alguns exemplos, um conjunto de moradias unifamiliares em Aldoar: a Quinta da Bica, construída nos terrenos de uma antiga unidade agrícola. Na outra margem do rio, pode ainda lembrar-se o edifício Gaya, na Avenida da República, destinado a habitações, escritório e comércio. Quem consultar o "site" da APEL na internet, encontra ainda imagens virtuais de dezenas de projectos ainda não construídos, muitos deles de grandes dimensões, a construir quer no Grande Porto, como é o caso da futura sede do BPN, quer em vários outros pontos do país: um núcleo turístico na Murtosa, prédios de habitação no Alto do Lumiar, em Lisboa - o Condomínio do Parque -, ou ainda um complexo industrial em Sintra. Entre os clientes da APEL contam-se grandes corporações empresariais, como o grupo Amorim, para quem o atelier projectou um edifício de escritórios, construído em Santa Maria da Feira, ou, agora, o Banco Português de Negócios. E se o projecto de Ginestal Machado para a sede do BPN parece estar razoavelmente na linha de muitos outros edifícios projectados pelo seu atelier - se descontarmos, talvez, o "janelão" que posteriormente lhe introduziu para assegurar a serventia de vistas a partir do vidro traseiro do auditório da Casa da Música -, já a sua localização está a provocar considerável polémica. O presidente da administração da Casa da Música, Alves Monteiro, assume que preferia não ter o prédio de Ginestal Machado a tapar-lhe as traseiras, o pianista Pedro Burmester defende que a requalificação da zona da Rotunda da Boavista deveria seguir o padrão de qualidade estabelecido pelo projecto de Rem Koolhaas, e os muitos arquitectos já ouvidos pelo PÚBLICO assumem quase sem excepção as suas reservas, expressas com maior ou menor frontalidade, ao edifício concebido pela APEL. A Câmara do Porto, por seu lado, afirma-se de mãos atadas pelos compromissos assumidos com os promotores imobiliários que adquiriram o terreno onde o prédio vai ser construído, pelos quais responsabilizam a anterior gestão de Nuno Cardoso. Finalmente, uma responsável do BPN assegurou já ao PÚBLICO que o projecto de Ginestal Machado satisfaz as expectativas do banco. Ou seja, se não surgir em breve alguma solução alternativa - a autarquia ainda tentou readquirir o terreno, mas o preço pedido pelos proprietários foi considerado excessivo -, parece provável que o Porto venha mesmo a ver a sua Casa da Música reflectida na enorme superfície envidraçada do prédio do BPN.

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