Grande Lisboa é a região ibérica mais rica em poder de compra

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Embora a Grande Lisboa se posicione hoje favoravelmente no contexto da PI, tem ainda muito que caminhar para se aproximar das regiões europeias mais ricas Inácio Rosa/Lusa

A Grande Lisboa, que inclui os concelhos de Lisboa, Sintra, Oeiras, Cascais, Loures e Amadora, apresentava em 2000 um rendimento "per capita" de 19382 euros em termos nominais, o quinto mais elevado da península Ibérica, superior ao de Barcelona, 18351 euros, mas atrás de Alava (País Basco), a mais próspera com 20812 euros, ou de Madrid, com 20412 euros.

Mas se o PIB "per capita" for medido em paridades de poder de compra (cálculo que tem em conta o nível geral de preços de cada região), a Grande Lisboa sobe para o primeiro lugar com 26496 euros. Em segundo lugar aparece Alava, com 25342 euros, e em terceiro a Comunidade de Madrid, 24855 euros. O Porto aparece em vigésima sétima posição, com 16900 euros, abaixo de Barcelona, que ocupa o oitavo lugar, com 22346 euros.

Estas informações constam da última versão da base de dados da Comissão Europeia sobre regiões, publicada em 2003, e integram um trabalho que está a ser desenvolvido pelo Centro de Estudos Aplicados da Universidade Católica Portuguesa (UCP) cujo tema é a "Caracterização Económica de cada um dos distritos do país". O documento, encomendado pelo Banco Comercial Português, é coordenado por João Confraria, professor da UCP, e tem vindo a ser parcialmente divulgado nos encontros que o grupo bancário tem realizado nas capitais de distrito do país.

Amanhã, será a vez de Braga, um distrito muito desigual, onde se encontra a sub-região mais pobre da UE a 15, o Tâmega, com um rendimento "per capita" de apenas 5400 euros (em ppc é de 7400 euros). A região distribui-se por mais dois concelhos, Ave (PIB euros de 9100, PIB ppc de 12500) e Cavado (PIB em euros de 8500, PIB ppc de 11600), que possuem um conjunto empresarial de médias empresas, algumas delas revelando grande dinamismo, mas algum desemprego.

"Qual é o problema? O país está pessimista e quando aparece em primeiro lugar, ninguém acredita?", questiona João Confraria comentando os dados da CE, onde a Grande Lisboa, uma metrópole com cinco concelhos, surge como uma das regiões mais ricas da Península Ibérica em termos de PIB "per capita" em euros correntes (o PIB é definido como o produto que é gerado dentro de um território, independentemente de no final lá permanecer ou não).

"Historicamente Lisboa foi sempre uma região rica dentro da Península Ibérica (PI), embora nem sempre tenhamos sabido aproveitar a sua riqueza", sustenta este professor, chamando a atenção para "a sua zona de influência agrícola, para o porto de Lisboa e para o lado turístico". E, mesmo se a parte industrial da cidade se encontra hoje desvalorizada, João Confraria, evidencia que o contributo que "a presença do Governo" tem para a sua riqueza não pode ser ignorado. Em todos os Estados europeus, sublinha, "as capitais estão sempre entre as regiões mais ricas. Uma situação que se repete ao nível das regiões, onde as capitais de distrito (ou equivalente) concentram, quase sempre, o desenvolvimento. Leiria está melhor do que o resto do distrito, como a Corunha está melhor que o resto da Galiza."

Embora a Grande Lisboa se posicione hoje favoravelmente no contexto da PI, tem ainda muito que caminhar para se aproximar das regiões europeias mais ricas, algumas delas com produtos "per capita" superiores a 100 mil euros. O "ranking" de 2000 das sub-regiões europeias mais ricas, era liderado pelo centro da capital inglesa, Inner London (Oeste), cujo PIB "per capita" em euros correntes era de 115161 euros. Um dos desafios que hoje se coloca a esta metrópole portuguesa é o de saber como vai resistir à previsível queda dos fundos estruturais? Isto porque, lembra o professor da UCP, o fim dos fundos europeus deverá coincidir com o declínio das remessas dos emigrantes. "É importante que se saiba gerir bem o dinheiro público, até porque os fundos comunitários representam actualmente apenas três por cento do PIB, e as remessas dos emigrantes são ligeiramente superiores". Em 1979 as remessas chegaram a representar 12 por cento do PIB.

Por tudo isto " o futuro de Lisboa deve ser visto em função da sua competitividade internacional", defende João Confraria. "A referência deve ser constituída pelas áreas mais desenvolvidas da Europa. Com, ou sem fundos europeus, é neste domínio que devem ser estabelecidos os objectivos e desenvolvidas as políticas económicas consequentes". O mesmo sucede com o Porto. Neste caso, é importante que a capital do Norte, que "tem gente e tecnologia", "se transforme num grande centro económico, de uma região alargada que, para além do Norte de Portugal, inclua, designadamente, a Galiza". "Consegue o Porto um papel nuclear neste processo?", questiona-se. "As actuais diferenças de rendimento e de produtividade, entre o norte de Portugal e a Galiza não me parecem significativas", pelo que o Norte "pode recuperar com facilidade", defende. A Zara, a Pescanova e o Corte Inglês têm os seus quarteis generais instalados na Galiza.

Em termos de paridade de poder de compra, os dados indicam que a Grande Lisboa apresenta o PIB em paridades de poder de compra mais elevado da Península Ibérica, de 26496 euros, mais 1644 euros que o registado por Madrid e mais 4150 euros que o de Barcelona. O Grande Porto fica-se pela 27.ª posição entre as 80 sub-regiões do NUTs3 da PI com um produto de 16900 euros, menos 446 euros que o registado pela segunda cidade espanhola. A Madeira apresenta já valores da ordem dos 16800 euros, enquanto o Pinhal Litoral (Leiria, Marinha Grande, Pombal, Batalha e Porto Mós), que está em 39 lugar no "ranking", se fica pelos 15 mil euros. E o Alto Alentejo, com 11600 euros de rendimento "per capita" em ppc, consegue ficar um lugar à frente de Badajoz, que ocupa a 69 posição.

Ilusão estatística?

"No caso da Grande Lisboa, os dados podem estar sobrestimados em consequência do cálculo da paridade de poder de compra, que beneficia a posição dos seis concelhos que integram esta região portuguesa", diz o professor da UCP. Poderá existir "algum efeito de ilusão estatística que a favorece". Ou seja, o Eurostat calcula uma só paridade de poder de compra para o mesmo país. Não calcula uma paridade de poder de compra para o Alentejo e outra para Lisboa. E como Portugal é mais pobre do que a média da UE, quando se calcula o produto gerado na Grande Lisboa em ppc, esta tem um benefício estatístico que resulta do menor rendimento das outras sub-regiões portuguesas. Mas mesmo que o Eurostat recorresse a um outro critério, "a Grande Lisboa poderia não estar em primeiro em termos de PIB em ppc, mas estaria certamente em segundo, ou terceiro no "ranking" das regiões mais ricas da Península Ibérica". Porém, nota, que este efeito de ilusão protege igualmente as comunidades de Madrid e de Barcelona, pois também só existe uma paridade de poder de compra em Espanha, e Madrid tem um nível de vida muitíssimo superior ao das restantes regiões espanholas."

A posição da Grande Lisboa é ainda "lisonjeira pelo facto de muitas pessoas que vivem na outra margem, gerarem produto nos concelhos que integram a Grande Lisboa, o que provoca alguma artificialidade no crescimento do rendimento em euros correntes. Isto ocorre em muitas regiões da UE, dada a fórmula como o Eurostat calcula o PIB. A sub-região mais rica da UE, tem um produto superior a 100 mil euros, mas "neste caso", diz, "este valor vale pouco, porque estamos a falar do centro de Londres, onde se encontram as praças financeiras, onde trabalha muita gente, e vive muito pouca, e os que lá habitam ainda por cima têm muito dinheiro." A região gera muito produto, mas tem poucas pessoas a residir.

Por outro lado, adianta "quando se consideram as transferências do Estado e os fluxos do rendimentos com o estrangeiro não se sabe se o impacto é positivo ou negativo". E "no caso das remessas dos emigrantes", admite que "a Grande Lisboa deve beneficiar muito pouco, pois estas dirigem-se sobretudo para outras regiões do país". Para João Confraria, uma das razões da complexidade dos distritos de Lisboa e do Porto prende-se precisamente com o peso da administração pública, o que contribui para aumentar artificialmente o nível salarial. Mais uma vez, trata-se de um problema comum a várias regiões da UE. Existe, portanto, um conjunto de factores que contribuem para que o PIB "per capita" das regiões e sub-regiões seja um indicador impreciso, "mas é o melhor que se arranjou até hoje". O que significam as comparações entre sub-regiões ? "Exactamente o mesmo que comparar o PIB "per capita" de Portugal com o de outro Estado da UE", explica, alertando, no entanto, para o facto "de maiores rendimentos "per capita" nem sempre se traduzirem em mais desenvolvimento".

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