Bairro Social da Bouça vai ser concluído
O Bairro Social da Bouça, em Cedofeita, projectado pelo arquitecto Siza Vieira, vai ser concluído, após um compasso de espera de quase trinta anos. O projecto prevê a construção de dois novos blocos habitacionais, com 72 fogos, e a requalificação das 56 habitações existentes, e tudo aponta para que as obras se iniciem ainda antes do final do ano, disse ontem ao PÚBLICO o presidente da Federação Nacional das Cooperativas de Habitação Económica (Fenache), Guilherme Vilaverde. Construído nos anos 70, numa zona privilegiada da cidade- no gaveto entre a Rua do Melo e a Rua da Boavista - , o bairro, propriedade da Associação de Moradores da Bouça (AMB), ficou-se apenas por 56 habitações. As restantes 72 casas nunca sairam do papel, o que comprometeu todo o projecto de Siza Vieira, amputado até hoje porque nunca foram construídos os equipamentos sociais, outras infraestruturas nem mesmo os arranjos exteriores previstos. Um dos últimos obstáculos à conclusão do Bairro da Bouça foi derrubado ontem com a demolição de uma moradia onde funcionou o Centro de Formação de Jornalistas, e que ocupava uma parte do terreno que fora cedido pelo IGAPHE, através de um contrato de comodato que cessou em 1997, segundo a Câmara do Porto.Durante a demolição, o vereador da Habitação Paulo Morais explicou ao PÚBLICO que pretende envolver o sector cooperativo na reabilitação do parque habitacional da cidade."Mais importante do que fazer discursos sobre o sector cooperativo, que não precisa de paternalismos, é dar-lhe meios para se desenvolver", disse o vereador, que pretende estender esta experiência com a Fenache a outros locais da cidade."Esta câmara conseguiu finalmente resolver um problema que se arrastava há muito anos e estas pessoas que vivem no centro da cidade vão ter finalmente as suas casas concluídas. Aqui vai nascer uma zona residencial de qualidade, a preços justos, e desta forma vamos conseguir trazer pessoas para o centro da cidade que é uma das nossas apostas", declarou o vereador, evidenciando o empenho pessoal neste processo: "Este bairro vai ser concluído devido à minha vontade", declara.Paulo Morais explicou que falta ainda dar um breve passo para a concretização da obra: a assinatura da escritura de compra do terreno por parte da Câmara o Porto ao IGAPHE. "Na mesma altura em que se adquirir o terreno, assinaremos uma escritura da venda desse mesmo terreno à Cooperativa de Habitação Águas Férreas para que tudo fique legalizado", acrescentou o autarca.Bandeira eleitoral de todos os partidos, este projecto conheceu sucessivos entraves e, apesar das muitas expectativas criadas aos moradores, o poder político foi adiando decisões face à complexidade dos problemas que a conclusão da obra, quase após 30 anos de interregno, suscitava. No ano 2000, com Nuno Cardoso na presidência da Câmara do Porto, chegou o primeiro sinal de vontade política em resolver este projecto. Foi numa reunião com várias entidades, nomeadamente a Fenache, realizada no âmbito do plano de intervenção de obras lançado ao abrigo da Capital Europeia da Cultura. Nesse encontro, Nuno Cardoso e Guilherme Vilaverde constataram que a melhor maneira para relançar o projecto era envolver o sector cooperativo e planearam, então, criar uma estrutura que pudesse materializar o projecto, construído no âmbito das brigadas do SAAL - Serviço de Apoio Ambulatório Local. Nesse mesmo ano, foi constituída a Cooperativa de Habitação e Construção Águas Férreas, ancorada na Associação de Moradores da Bouça e nas cooperativas de Habitação Sete Bicas e de Habitação dosTrabalhadores de Aldoar.O projecto avançou, mas pouco. Mais recentemente, o vereador da Habitação Social, Paulo Morais, decidiu chamar a si o processo, convidando a Fenache a participar na solução, uma vez que tinha encontrado o modelo para a conclusão do bairro. "Houve muitas reuniões devido à complexidade da questão: o terreno está no nome de uma entidade - Instituto de Gestão do Património Habitacional do Estado (IGAPHE) -, mas as casas pertencem a outra - AMB-, e mesmo as habitações que existem estão numa situação de irregularidade, do ponto de vista do licenciamento porque o projecto nunca foi concluído. Por isso, foi necessário envolver os moradores e sensibilizá-los para a bondade da nossa decisão, e isso não foi fácil, tendo em conta as expectativas criadas ao longo do tempo às pessoas", explicou ontem ao PÚBLICO o presidente da Fenache."Com o tempo fomos vencendo os obstáculos e hoje os moradores acreditam que o bairro vai ser finalmente concluído e as suas casas vão ser requalificadas", acrescentou Guilherme Vilaverde.Nesta maratona de contactos foi também envolvido o arquitecto Siza Vieira que concretizou já o projecto. Conta Guilherme Vilaverde que "a abordagem a Siza Vieira não foi fácil". "Tivemos que argumentar que desta vez era mesmo a sério e só assim é que foi possível sensibilizá-lo para reatar o projecto", explicou.O concurso público para o lançamento da empreitada já foi lançado e concorreram 12 das principais empresas de construção civil da região. Dentro de um mês, prevê a Fenache, será adjudicada a obra. "O projecto começará a ser executado a partir do momento em que a Cooperativa de Habitação Águas Férreas possa levantar a licença de construção", disse Guilherme Vilaverde. De acordo com as previsões do presidente da Fenache, o bairro ficará pronto 30 meses depois de arrancarem as obras.CXDADOS 72 novos fogos 128 lugares de estacionamento, com arrumos, que se localizará numa ampla cave sob os dois novos blocos1 equipamento para Atelier de Tempos Livres (ATL)1 centro de convívio1 biblioteca1 sede para a Associação de Moradores da Bouça1 biblioteca3 espaços comerciais