Movimentos homossexuais divididos por causa de viagem a Paris
O último episódio ocorreu a 15 de Setembro, numa realização organizada na sede da inter-sindical CGTP, quando António Serzedelo vetou o nome de Fabíola Cardoso (dirigente da associação Clube Safo) por não ter sido consultado previamente, considerar a pessoa em causa como próxima do BE e por ser repetente na participação de eventos internacionais. A associação Opus Gay, de que António Serzedelo é dirigente, acusa um conjunto de outras entidades de estarem ao serviço do Bloco de Esquerda (BE) através de "tácticas partidárias e eleitorais, tendo em vista as candidaturas às eleições europeias de 13 de Junho".
António Serzedelo denuncia em comunicado, após a publicação de um artigo na página electrónica "Portugalgay.pt", que existe um conjunto de activistas responsáveis por "tradicionais tácticas de golpes muito típicas dos trotskistas", ou seja, "infiltrações nos movimentos LGBT, fazendo crer que são muitos e unidos, criando e recriando associações de que são motores, sócios, fundadores e controladores". O dirigente da Opus Gay implica directamente, Fabíola Cardoso, Paulo Vieira e Sérgio Vitorino.
Fabíola Cardoso classifica a atitude de António Serzedelo de "paranóia". Começa por referir que nunca participou no primeiro Fórum Social Europeu, em Florença, tal como o dirigente da Opus Gay acusara. Sobre as acusações de ser militante do BE, Fabíola esclarece que todos os "movimentos LGBT têm membros de partidos" e acrescenta: "Sou militante do BE e nunca escondi isso. É sempre de louvar a participação das pessoas numa cidadania activa." A dirigente do Clube Safo detecta, por trás da atitude de Serzedelo, uma tentativa de hegemonização do movimento: "É uma atitude do tipo, ou me vêem pedir a benção ou eu veto. É a atitude mais anti-democrática que eu já vi."
Sobre a reunião de 15 de Setembro, António Serzedelo escreve que se tornou "muito claro que se tratava de um golpe" que ia contra regras como o "evitar-se a partidarização das representações".
Para Paulo Vieira, um dos visados por Serzedelo e membro da Associação Não Te Prives, "o que está por trás disto são razões pessoais" e a "vontade hegemónica da Opus Gay de controlar o movimento". Sobre Fabíola Cardoso e as acusações de Serzedelo, Paulo Vieira salienta que a dirigente do Clube Safo é "mera militante do BE", o que não impede a sua participação. Os critérios que foram definidos por consenso para a escolha de representantes referem a exclusão de dirigentes e não de militantes.
Sérgio Vitorino, também criticado pelas suas ligações ao BE, foi ainda mais comedido nos seus comentários, exprimindo algo que a todos os contactados têm em comum: "A Opus Gay não me merece qualquer crédito."