Animais na Casa da Animação do Porto
A estreia nacional dos primeiros dez episódios de "Bom Dia Benjamim", uma série televisiva de 108 episódios de 30 segundos cada, da autoria de Nuno Amorim, assinala hoje a abertura da mostra que a Casa da Animação (CA), no Porto, dedica à produtora Animais, de Lisboa. A retrospectiva de cinema de autor deste estúdio completa-se com outro filme do mesmo realizador, "A Caixa Negra", e com "Cof Cof", de Zepe, "De Cabeça Perdida" e "Táxi!", ambos de Isabel Aboim, e "Fragmentos de Sal", de Cristina Teixeira. A segunda parte da sessão dará a ver trabalhos publicitários, genéricos e pilotos, entre os quais "Vitinho" (com que a RTP diariamente aconselhava os mais pequenos a ir dormir), "Genius" (publicidade da EDP, ainda animada pelo já desaparecido José Abel), "A Visita da Cornélia" e "Olhos de Água". A retrospectiva na CA completa-se com um programa exclusivamente dedicado às escolas, que mostra a diversidade da produção do Animais.O Animais, fundado em 1991 por Nuno Amorim e outros animadores de Lisboa, é um dos raros estúdios sobreviventes na animação portuguesa. Entre altos e baixos, conseguiu superar a crise que nos últimos anos se abateu sobre as produtoras nacionais e que fez desaparecer empresas como a Magictoon e a Neurónio, em Lisboa, ou a Filmógrafo, no Porto. Não que o mesmo destino não tenha também pairado sobre a equipa agora centrada na dupla Nuno Amorim-Paulo Curado. Foi o recurso à publicidade e à criação de genéricos para telenovelas, entre outros trabalhos de sobrevivência, que permitiu à Animais ir concretizando os seus projectos mais pessoais (os filmes de autor) com outros de teor pedagógico."Não conheço ninguém, no nosso país, que viva só da animação de autor. Isso só é possível se fizer tudo sozinho. Mesmo assim, viverá mal", disse ao PÚBLICO Nuno Amorim, no intervalo do "workshop" que dirigiu esta semana na CA. Com o tema "A criação e a prática na execução de genéricos para cinema e televisão", esta acção de formação reuniu cinco estudantes de escolas de imagem e de escultura do Porto e Lisboa que, no final, deverão criar "story-boards" e realizar um ou dois pequenos filmes. "A animação portuguesa vai desaparecer"Nuno Amorim explica que, no seu estúdio, "o cinema de autor corresponde a menos de 50 por cento da actividade". E a tantas vezes prometida indústria da animação portuguesa? "A animação portuguesa vai desaparecer daqui a quatro ou cinco anos", responde o animador. A menos que, diz, haja um aumento considerável do financiamento do Estado - ICAM, RTP e outros serviços - ou uma alteração das regras do mecenato. "Com a lei existente, os empresários só apoiam actividades que lhes dêem prestígio, e aí viram-se para a música, a ópera ou o bailado." Nuno Amorim diz que para um estúdio português poder participar em qualquer coprodução internacional tem de poder entrar com um mínimo de 10 por cento do orçamento de uma série, o que equivale a cerca de 900 mil euros - a verba actualmente disponível para apoiar toda a animação portuguesa num ano. "Precisávamos, pelo menos, do dobro: é por isso que a hipótese de criação de uma indústria assenta num equívoco. E a animação de autor não é nunca comercialmente rentável."Quais são as saídas? Entrar em parcerias com outros estúdios nacionais, explorar todos os mercados interessados na animação e muito amor à arte dos desenhos.Tem sido essa a história do Animais, que, mesmo assim, tem actualmente a trabalhar nas suas instalações na Praça da Figueira, em Lisboa, 12 animadores "free-lancers" - entre eles está o ilustrador André Carrilho, actualmente a realizar o seu filme de autor "Jantar em Lisboa". Mas há mais projectos pessoais em curso: do próprio Nuno Amorim, "A Noiva do Gigante" (uma história co-escrita com Virgílio Almeida, baseada num conto timorense), "O Trabalho do Corpo" e "Todos os Passos"; de Isabel Aboim, "Selo ou não Sê-lo" e "Vacas"; e de Zepe, o já antigo projecto "Stuart" (baseado no trabalho do ilustrador Stuart de Carvalhais).Retrospectiva AnimaisPORTO Casa da Animação. Rua Júlio Dinis, Edifício Les Palaces, 208/210. Tel.: 225432770. Mostra de cinema de hoje a 26 de Setembro; sáb. e dom., às 17h e 22h; 2ª, às 18h30 e 22h. Programa para escolas de 22 a 26 de Setembro (mediante marcação prévia). Exposição de hoje a 31 de Dezembro.