Revolução russa
O futebol está em crise, os clubes estão em contenção e gastam pouco em contratações, mas, nos últimos dias, houve uma equipa (que não foi o Real Madrid) a tentar contratar Christian Vieri, Andriy Shevchenko, Alvaro Recoba, Hernan Crespo, Edgar Davids, David Trezeguet, Francesco Totti, Emerson e Jaap Stam. O autor de tal "loucura" foi o Chelsea, ou melhor, o seu novo dono, o multimilionário russo Roman Abramovich, que comprou no início do mês o clube londrino por 201 milhões de euros e que está empenhado em deixar a sua marca no futebol mundial.Na passada quinta-feira, Abramovich efectuou uma viagem relâmpago a Itália para tentar contratar os craques aos maiores clubes do "calcio". O presidente do Inter Massimo Moratti, por exemplo, acordou em receber o russo "por cortesia" mas recusou as propostas. Esta tem sido, aliás, a reacção de quase todos os grandes do futebol europeu quando confrontados com as ofertas do novo patrão do Chelsea, que vai participara na próxima edição da Liga dos Campeões. De acordo com relatos da imprensa internacional, a lista de compras de Abramovich inclui ainda nomes como Patrick Vieira e Thierry Henry (ambos do Arsenal), Steven Gerrard (Liverpool), Damien Duff (Blackburn Rovers) e Wayne Bridge (Southampton).Outro dos alvos de Abramovich terá sido Sven-Goran Eriksson, actual seleccionador da Inglaterra, para substituir Claudio Ranieri no comando técnico do Chelsea, mas o sueco terá recusado o convite. Juan Sebastian Veron parece ser agora o próximo alvo de Abramovich, que estará disposto a pagar ao Manchester United cerca de 20 milhões de euros. Segundo notícias veiculadas de Inglaterra, a contratação do médio argentino, que tem tido uma carreira irregular em Old Trafford, terá sido sugerida por Eriksson e poderá ser anunciada nos próximos dias.Para já, as únicas contratações efectuadas pela gestão de Abramovich foram o camaronês Geremi, recrutado ao Real Madrid por dez milhões, e o jovem defesa de 18 anos Glen Johnson, comprado ao despromovido West Ham United. Todos os outros, dizem os respectivos clubes, são inegociáveis, o que não quer dizer que Abramovich, com muito dinheiro para gastar, desista à primeira nega. "Quando o jogador é inegociável, geralmente quer dizer que é muito caro", admite Rupert Lowe, presidente do Southampton, que recusou uma oferta inicial por Wayne Bridge, uma jovem promessa do futebol inglês.Segundo a revista "Forbes", Abramovich é o 49º homem mais rico do mundo (o segundo mais rico da Rússia), com uma fortuna estimada em 5,7 mil milhões de dólares. Pelo montante da sua fortuna, construída a partir do petróleo e alumínio, o milionário russo poderia comprar clubes de maior dimensão como o Real Madrid, a Juventus ou o Arsenal, em vez de se virar para o Chelsea, um clube de Londres com muita tradição e muitos adeptos, mas com poucos títulos, muitas dívidas (cerca de 115 milhões de euros) e limitada projecção internacional. "Não comprei o Chelsea para fazer dinheiro. Tenho maneiras mais arriscadas de ganhar dinheiro. Eu não gosto de desperdiçar dinheiro, mas eu quero divertir-me e ganhar troféus. Estou a realizar o meu sonho de ter um clube de futebol. Sei que alguns vão duvidar dos meus motivos. Outros vão pensar que sou maluco", confessou à BBC Abramovich, que, antes de direccionar as suas atenções para o Chelsea, tentou comprar outros clubes da Premier League, incluindo o Manchester United. No dia em que Abramovich selou o negócio, as acções do Chelsea subiram 25 por cento na Bolsa de Londres.Não se sabe muito sobre o passado ou a vida privada de Abramovich. Na Rússia é visto como um homem poderoso e misterioso que gosta pouco de dar entrevistas, vive numa mansão afastado dos olhares indiscretos com a sua esposa e os três filhos, gosta de comida chinesa e filmes americanos. O novo dono do Chelsea nasceu a 24 de Outubro de 1966 em Saratov e perdeu os pais quando tinha apenas quatro anos, tendo sido criado por um tio em Komi, uma região petrolífera da Sibéria. Durante os anos 80, Abramovich foi estudar para Moscovo, mas abandonou a faculdade para se dedicar aos negócios.No início dos anos 90, já depois da queda do regime comunista da URSS, Abramovich começou a fazer fortuna nos pneus e envolveu-se no negócio do petróleo. Em 1992, foi iniciada uma investigação (que acabaria por ser arquivada sem qualquer condenação) envolvendo Abramovich respeitante a 55 carruagens carregadas de combustível com destino a Moscovo desviadas para a Letónia e que nunca mais foram vistas. Por esta altura já Abramovich se movimenta nos altos círculos do poder em Moscovo e, tal como muitos dos seus compatriotas, constrói a sua fortuna durante as privatizações na Rússia em meados da década de 90 quando o ex-presidente Boris Ieltsin ainda estava no poder. Em 1995, em sociedade com outro "oligarca" russo Boris Berezovsky, Abramovich compra por cerca de 100 milhões de euros a empresa estatal petrolífera, a Sibneft, construída durante os anos da URSS, um negócio facilitado pelo governo de Ieltsin, reeleito para a presidência com grande ajuda dos homens de negócios de Moscovo.O investimento revelou-se mais que acertado e, pouco depois, já rendia centenas de milhões para Abramovich, que entretanto resolveu entrar no mundo da política, tendo sido eleito governador da província de Chukotka, na Sibéria. Ao longo dos anos, o nome de Abramovich tem sido envolvido em negócios escuros, a origem da sua fortuna tem sido várias vezes questionada, mas nunca foi indiciado ou acusado de nada, o seu império está à vista de todos o goza dos favores do actual presidente Vladimir Putin.