Assis lança Manuel Seabra como sucessor de Narciso em Matosinhos

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Assis foi recomendado por Seabra para a Câmara do Porto Paulo Ricca/PÚBLICO

"A concelhia tem um excelente presidente. Mas não é só Matosinhos que tem os olhos postos em ti, é grande parte do PS nacional", afirmou Assis, dirigindo-se directamente a Manuel Seabra, que anteontem tomou posse como líder da concelhia de Matosinhos do Partido Socialista, após ter derrotado a 31 de Maio passado Narciso Miranda.

Francisco Assis salientou a necessidade de dar uma nova projecção a Matosinhos, recordando que actualmente o concelho não conta com um único deputado na Assembleia da República, algo que considerou "inadmissível".

O dirigente apelou a que o partido se pacifique após a realização das eleições distritais e concelhias, afirmando que "as pessoas lá fora perceberam que aqui se fizeram opções. Não entenderiam se depois disso as quezílias continuassem".

Assis pegou nas palavras pronunciadas pouco antes pelo próprio Seabra para sublinhar que "a melhor maneira de respeitar a história do PS é projectá-la no futuro, sem cair no imobilismo".

Uma das questões que mais preocupa Assis prende-se com a alegada existência de cerca de 30 militantes oriundos de outros concelhos que se teriam inscrito recentemente em Matosinhos, dando como morada a residência de Narciso Miranda e de outros apoiantes do actual presidente da autarquia. O objectivo deste novo caso de fichas falsas seria precisamente a disputa das eleições internas que decorrem este fim-de-semana nas secções de residência desta concelhia.

Numa tentativa de pacificação interna, Assis terá falado com os apoiantes de Narciso no sentido de esses 30 militantes não participarem no sufrágio, passando assim um pano sobre o caso. Mas nada garante que esses militantes o façam, o que, se se verificar, irá resultar certamente na impugnação das eleições e na abertura de processos disciplinares aos mesmos militantes.

O tema, no entanto, não foi abordado na tomada de posse de Seabra. Na sua intervenção, o actual "número dois" de Narciso no executivo municipal preferiu antes falar do futuro e das questões autáquicas. Afirmou estar a superar-se em Matosinhos "um tempo anterior em que a eficácia da actividade municipal era o principal objectivo", considerando necessário "um 'upgrade' na prestação de serviços".

Garantindo não estar a criticar a linha seguida na câmara até agora - afirmou-se mesmo como um dos protagonistas do sucesso alcançado nos últimos anos - considerou, porém, que a construção de habitação social, saneamento e redes de água já não podem ser a meta da gestão autárquica de Matosinhos, que tem de recuperar a sua centralidade ganhando competitividade económica e social. E garantiu que tudo fará para que o actual mandato de Narciso Miranda termine "com a maior nobreza".

Apesar de salientar que a sua vitória não corresponde a uma "refundação" do partido", Seabra afirmou que a melhor maneira de homenagear o passado "não é ter para com ele uma postura meramente contemplativa, mas sim projectar, a partir dele, o futuro".

"Com a sua vitória", considerou, o PS "projectou o que a sociedade civil ambiciona, que é uma clara renovação, alterando estratégias, discursos e, quem sabe, protagonistas".

Francisco Assis considerou que depois das eleições nacionais, distritais e concelhias "a casa está arrumada" no PS, sublinhando que não pode haver arrogância por parte quer de quem ganhou quer de quem perdeu, que "não pode auto-excluir-se".

No final da cerimónia, realizada no Auditório Narciso Miranda da sede concelhia do PS, e na qual não compareceu o presidente da câmara, que telefonou previamente a Assis explicando que não poderia estar presente na tomada de posse devido a outros compromissos, Seabra não escondeu a ambição de ser candidato a presidente da Câmara de Matosinhos e garantiu ter um projecto para tal, mas considerou que essa é uma questão que tem de ser colocada "na altura certa".

Questionado sobre se Francisco Assis seria um bom candidato à Câmara do Porto, Seabra afirmou que seria "excelente", apesar de admitir que, se as eleições autárquicas fossem hoje, o nome natural seria o de Nuno Cardoso.

"Daqui a dois anos não sei. Provavelmente as condições não se alterarão. Mas as capacidades políticas de Assis permitem projectá-lo para qualquer ambição", acrescentou.