"Sitcoms" em crise na televisão americana
O género de programação mais popular em mais de seis décadas de história da televisão americana é a "sitcom". As séries de comédia de meia hora com um elenco fixo produziram alguns dos maiores êxitos de sempre da TV americana, desde Uma Família às Direitas a Seinfeld, e tornaram-se no tipo de séries mais importante para os canais televisivos. Mas agora as "sitcoms" estão em crise.Segundo números revelados na semana passada pelo "The New York Times", entre os dez programas mais vistos na TV americana só há duas "sitcoms": Friends e Everybody Loves Raymond. Embora os principais canais continuem a investir na produção de novas comédias, este é o quarto ano consecutivo em que apenas figuram duas "sitcoms" no top dos 10 programas mais vistos, e a situação agrava-se, porque o popular Friends está na sua última temporada.Compare-se esta situação com os anos 90, em que séries como Seinfeld ou Frasier eram sistematicamente os programas favoritos dos americanos. Embora tenha havido outros períodos de crise para o género, a actual decadência das "sitcoms" é particularmente preocupante para as estações televisivas.Nos anos 50, quando a televisão se impôs nos EUA como o principal meio de entretenimento, os primeiros grandes êxitos foram "sitcoms" como I Love Lucy ou The Honeymooners. A fórmula não mudou muito em meio século. Uma "sitcom" (abreviatura de "comédia de situação") tem um elenco fixo e reduzido de personagens; é filmada em estúdio, muitas vezes perante público; tem poucos cenários, normalmente a(s) casa(s) dos protagonistas; tem um ritmo de uma piada a cada meio minuto; o riso é incentivado pelas "gargalhadas enlatadas" adicionadas na montagem.Algumas "sitcoms" tiveram efeitos históricos. Nos anos 70, Uma Família às Direitas ou Maude foram pioneiras em discutir temas tabu na televisão americana. Na década seguinte, The Cosby Show foi o primeiro programa de grande audiência com um elenco composto exclusivamente por actores negros.Mais recentemente, Murphy Brown causou uma controvérsia que envolveu mesmo o vice-presidente da altura, Dan Quayle, quando a sua protagonista se tornou mãe solteira; Ellen causou alguma celeuma, quando a sua personagem principal revelou ser "gay".Nos anos 90, comédias como Frasier (derivado de uma outra "sitcom" muito famosa, Cheers) ou Seinfeld não foram tão controversas, mas lograram captar a atenção dos telespectadores. Agora, os principais canais americanos continuam a estrear novas "sitcoms"; porém, o número de espectadores é cada vez mais reduzido.Várias razões são apontadas para explicar a crise. Uma delas é a pulverização das audiências, com a multiplicação de canais por cabo especializados. Outra é simplesmente que as novas séries são demasiado estereotipadas e não fazem rir.Mas a explicação mais repetida é o efeito dos "reality shows". Os espectadores preferem os bombásticos "'shows' da vida real", e as estações televisivas (porque é muito mais barato produzir "realidade" que ficção) também. "Acho que [o declínio das 'sitcoms'] foi uma resposta do público à homogeneidade dos programas", disse ao "The New York Times" Peter Tolan, um argumentista de "sitcoms". "As pessoas pensam: 'Bolas, estão a mostrar-me um mundo tão artificial, preferia ver alguma coisa mais real.'"Ainda assim as estações continuam a apostar nas "sitcoms" - as quatro grandes cadeias de TV (ABC, CBS, NBC e Fox) anunciaram todas novas comédias para as suas grelhas de Outono. Algumas das novas séries contam com actores de cinema famosos, como Whoopi Goldberg, John Larroquette ou Luiz Guzman. No entanto, as perspectivas de sucesso não são animadoras: de mais de uma dúzia de "sitcoms" que se estrearam em 2002, poucas (Bernie Mac, According to Jim) conseguiram boas audiências, e nenhuma atingiu o "top 10".