Defensores do apartheid julgados por traição na África do Sul

O caso poderá arrastar-se por mais de dois anos, contando o Estado com 369 testemunhas e com mais de 600 depoimentos já prestados.

Os simpatizantes do polémico movimento dizem que o mesmo existe para proteger os agricultores brancos, que estariam na mira de grupos organizados de negros secretamente apoiados pelo Congresso Nacional Africano (ANC), que é o partido político maioritário, desde 1994.

O ministério público, porém, argumenta que se trata de uma organização terrorista, responsável por atentados bombistas ocorridos o ano passado no Soweto, junto a Joanesburgo. O Estado afirma que os réus pretendiam proclamar uma república boer (especialmente destinada a fazendeiros de ascendência holandesa, germânica e francesa), da qual expulsariam todos os negros e indivíduos de origem indiano-paquistanesa.

Para além da acusação principal de alta traição, pois que se trataria de subverter por completo a ordem existente no país durante estes últimos nove anos, também há acusações de terrorismo e de sabotagem.

Uma das coisas pelas quais os réus terão de responder é a de haverem tentado fazer explodir um carro em que viajava o antigo Presidente Nelson Mandela, hoje em dia a pessoa mais conceituada de toda a África Austral, e símbolo de um país multiracial, pós-apartheid (onde vivem, inclusive, centenas de milhares de pessoas de língua portuguesa).

O comissário nacional da polícia, Jackie Selebi, disse em Março que a Boeremag tencionava este ano renovar os seus esforços de derrubar o Governo de Thabo Mbeki, e tentariam fazer abortar o julgamento.

"Parece que estão a planear assassinar testemunhas e polícias", afirmou Selebi, segundo o qual a organização se estaria a reagrupar depois de 23 dos seus membros terem sido detidos.

Um deles, Dawid Andries Oosthuizen, foi já na semana passada condenado a oito anos de cadeia, por terrorismo, e encontra-se agora na disposição de testemunhar contra os restantes, possivelmente na esperança de que a pena lhe seja reduzida.

Oosthuizen declarou em tribunal julgar que as acções do grupo encontravam justificação nas profecias de Nicolas Pieter Johannes van Rensburg, que viveu de 1862 a 1926 e era tido em grande conta como vidente. As vitórias do ANC nas eleições gerais de 1994 e 1999 foram bem claras, mas alguns saudosistas estão ainda convencidos de que poderão fazer recuar a maré da História e voltar aos tempos em que a África do Sul era exclusivamente dirigida por cidadãos de origem europeia, ali radicados a partir do século XVII.

O julgamento que hoje principia em Pretória vai ser mais uma oportunidade para o complexo país do arco-íris, como lhe chamou o arcebispo anglicano Desmond Tutu, reflectir sobre a sua História e acertar os ponteiros para os anos vindouros.

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