Guiné-Bissau: onda de greves quase paralisa o país
Os números disponibilizados pelos sindicatos às primeiras horas da greve indicam "uma forte adesão ao protesto", que visa obrigar o Governo a pagar mais de sete meses de salários em atraso.
"Em alguns sectores, como a saúde, a educação, a energia e águas, a adesão à greve aproxima-se dos cem por cento e em nenhum dos outros sectores é inferior a 80 por cento", indicou fonte da União Nacional dos Trabalhadores da Guiné (UNTG), a maior central sindical do país.
Uma das áreas em que se receiam mais os efeitos da paralisação é nos serviços dependentes da Assembleia Nacional Popular (ANP), nomeadamente a Comissão Nacional de Eleições (CNE), responsável por preparar as eleições legislativas antecipadas marcadas para 6 de Julho próximo.
Apesar de ninguém descartar um eventual adiamento da data da ida às urnas — tendo em conta que, a 30 dias do início da campanha eleitoral, o recenseamento e a cartografia do território ainda não começaram, processo que, de acordo com os técnicos, levará um mês a estar concluído —, a paragem na CNE vai ter consequências graves no processo eleitoral.
A Empresa de Energia e Águas da Guiné-Bissau (EAGB) e os serviços de saúde vão parar pelo menos uma semana, enquanto na educação a paralisação poderá atingir os 15 dias e na ANP os dez dias úteis, prorrogáveis automaticamente se não houver acordo com o Governo.
No entanto, o Executivo de Kumba Ialá parece empenhado em alcançar um acordo que acabe com as paralisações, nomeadamente na educação. O Sindicato Nacional dos Professores (Sinaprof) reuniu-se esta manhã com vários membros do Governo. O ano lectivo 2002/03 poderá vir a ser declarado nulo, dado que as sucessivas greves no sector, em protesto face ao não pagamento de salários, já diminuíram o tempo de aulas em quase 50 por cento.
Os trabalhadores dos portos marítimos da Guiné-Bissau vão paralisar no próximo dia 19.
Perante o protesto generalizado, o primeiro-ministro guineense aconselhou a via do diálogo aos seus ministros, que devem, simultaneamente, "informar com rigor os sindicatos sobre a verdadeira situação económica do país".
Recentemente, Mário Pires lançou um apelo à comunidade internacional para apoiar financeiramente a Guiné-Bissau, alegando falta de recursos internos para responder às necessidades básicas do país.