EUA não encontraram armas de destruição maciça no Iraque
O Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, e o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Tony Blair, usaram a ameaça que constituía as alegadas armas de destruição maciça no Iraque como principal justificação para a guerra que conduziu ao derrube de Saddam Hussein. Para analistas citados pela BBC, o facto de nem as armas nem provas da sua existência terem sido encontradas é uma questão que poderá tornar-se espinhosa, do ponto de vista político, na Europa, onde a maioria da opinião pública se opôs à intervenção militar.
Na semana passada, o responsável máximo pelas forças britânicas no Iraque, marechal Brian Burridge, disse “não ter dúvidas” de que haveria de encontrar provas das armas de destruição maciça. Reconheceu também que era “muito importante” que essas provas fossem encontradas, para mostrar como “eram genuínas” as preocupações que conduziram à guerra. Ontem, porém, citado pelo “Washington Post”, o coronel americano Richard McPhee, que vai encerrar a “Task Force” no próximo mês, mostrou-se mordaz na sua avaliação: “Se o Iraque pensou em usar armas de destruição maciça, tinha de ter algo para usar, mas nós não encontrámos. Os serviços secretos vão escrever livros sobre isto durante muito tempo. (...) A minha unidade não encontrou armas químicas. Isto é um facto. Celebrei os meus 47 anos numa festa num dos palácios de Saddam Hussein, no centro de Bagdad. Isto é surreal. Tudo isto é surreal.”
Robert Smith, um outro coronel americano que chefiava a “Defense Threat Reduction Agency”, disse também ao jornal: “Pensamos que não vamos encontrar nenhumas ogivas químicas. (...) Foi para isso que viemos aqui, mas isso já passou.” Na transcrição de uma outra conversa com o major Kenneth Deal, este perguntava: “Temos provas de armas de destruição maciça?” E respondia: “Não, temos provavelmente provas de paranóia.” Na realidade, observou o “Post”, a força chegou a Bagdad na esperança de encontrar o que o secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, denunciou ao Conselho de Segurança da ONU, no dia 5 de Fevereiro: “Centenas de toneladas de agentes químicos e biológicos, mísseis e ‘rockets’ para lançar esses agentes, e provas de que continuava em marcha um programa para fabricar uma arma nuclear.” No final das suas missões, os especialistas repartidos por oito equipas descobriram, afinal, que “os alvos identificados por Washington não correspondiam à realidade, ou foram queimados, ou pilhados, ou ambas as coisas”.
O Comando Central dos EUA iniciou a guerra com uma lista de 19 lugares suspeitos de armas. Só dois ficaram por investigar, precisou o “Post”. Uma outra lista enumerava 68 locais suspeitos, mas 45 foram inspeccionados “sem êxito”.
Os peritos têm inspeccionado laboratórios e fábricas de munições, “bunkers” e destilarias, padarias e escritórios, vasculhando tudo o que lhes disseram para procurar. Alguns deles tinham a designação de “alvos secretos”, mas a busca tem sido infrutífera, deixando frustrados os que nela têm participado.
Os esforços serão agora conduzidos por uma nova força, designada oficialmente como Iraq Survey Group, mas, segundo a BBC, será significativamente mais reduzida. Agora a ênfase parece ser colocada nos interrogatórios de cientistas, militares e industriais iraquianos detidos pelos soldados americanos. “Se as armas não convencionais existirem, alguns deles saberão”, escreveu o “Post”. Até agora, a Administração Bush tem-se recusado a informar o que os capturados já disseram.