"Mães de Bragança" acusam brasileiras de provocar "onda de loucura" na cidade
Um grupo de "mães" de Bragança pôs a correr um abaixo-assinado pedindo às autoridades ajuda para "salvar" a cidade de "uma onda de loucura" provocada por imigrantes brasileiras alegadamente ligadas à prostituição. Cerca de um centena de pessoas já subscreveram o documento da autoria de quatro mulheres que se auto-intitulam "Mães de Bragança", embora seja essencialmente enquanto esposas que mais se queixam. "Sabemos que desde o início dos tempos sempre houve prostituição, mas o que está a acontecer em Bragança é uma autêntica onda de loucura, que tem de ser combatida e travada". Este é o apelo feito no texto que suporta o abaixo-assinado e que já foi entregue ao governador civil, às polícias e à Câmara de Bragança. No documento, a que a agência Lusa teve acesso, as autoras dizem ter os seus lares desfeitos pelo "flagelo da prostituição que assola a cidade" e ao qual pretendem declarar "guerra aberta" com a ajuda das autoridades locais. "(...) Somos agora invadidas e fustigadas por dezenas de prostitutas aquarteladas em 'boîtes', mesmo durante o dia, em bairros residenciais, em todo o canto e esquina da cidade", acrescenta a missiva. Para estas "mães", a situação tem contribuído ainda mais para a degradação de valores na região. "Não podemos continuar a permitir que Bragança seja conhecida como a cidade número um em vida nocturna, em droga, em consumo de bebidas alcoólicas e em prostituição", acrescenta a carta.As autoras contaram, sob anonimato, que o motivo da sua atitude se prende com o que têm observado na cidade e particularmente em suas casas. Dizem ter os lares e o que construíram durante uma vida desfeitos pela "onda de loucura" que atingiu também os maridos. De um dia para o outro, afirmam, deixou de entrar dinheiro, os maridos passaram a dormir fora de casa, começaram os maus tratos, as dívidas acumularam-se e o património que tinham começou também a desaparecer.Acusando "as prostitutas brasileiras que nos últimos tempos invadiram a cidade" de terem dado a volta à cabeça dos maridos, este grupo de mães insurge-se contra a proliferação de casas de alterne, mas alertam para o facto de esta realidade já não se confinar apenas a estes espaços. Garantem mesmo que aquelas mulheres estão por toda a cidade, em apartamentos, e que vários homens já deixaram as famílias para se juntarem com elas. E falam em "comerciantes sem escrúpulos", referindo-se àqueles que as trazem do Brasil para as casas de alterne, e que depois as "passam" a homens, que pagam os custos das viagens e ficam com elas, em alguns casos também para as explorar.As autoras da carta afirmam-se "impotentes" perante estes "flagelos sociais", mas referem estar cientes de que, "com a ajuda das forças vivas e responsáveis da terra", poderão "contribuir para um mundo mais justo, uma sociedade mais saudável e feliz".A presença de cidadãs brasileiras na cidade é conhecida das autoridades e a sua associação à exploração em casas de alterne é frequente nas conversas do dia-a-dia. Com alguma regularidade são feitas detenções em rusgas a estes locais de diversão nocturna, começando a aumentar o número de queixas por agressão. Segundo disse à Lusa fonte policial, algumas das relações que resultam dos "engates" acabam em pancadaria e com estas imigrantes a queixaram-se à polícia das agressões de que são vítimas. Este ano, foram apresentadas três queixas à PSP de Bragança.As consequências sociais relatadas na carta apanharam de surpresa os destinatários do apelo, que, questionados pela Agência Lusa, pediram "tempo" para analisar a situação, remetendo para mais tarde uma reacção. Fonte policial disse, no entanto, que as questões levantadas são de difícil tratamento legal. As autoridades só podem intervir mediante queixa ou provas de práticas de exploração ou da actividade ilícita destas mulheres. A mesma fonte admitiu que possa estar a surgir um "esquema" paralelo de prostituição, apoiado nas dificuldades com que se deparam as autoridades para actuar em residências particulares.As autodenominadas "mães de Bragança" disponibilizam-se para colaborar com as autoridades e dizem ter já denunciado alguns casos concretos ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), a autoridade nacional em matéria de imigração. "Queremos evitar fazer justiça pelas nossas próprias mãos, mas, se a isso formos obrigadas, não nos esquivaremos, pois queremos, necessitamos e merecemos ter paz nos nosso lares, nos nossos corações", concluem.A população de Bragança habituou-se nos últimos tempos a conviver com o sotaque e a presença exótica de mulheres brasileiras. "Chegaram as meninas da..." - é comentário quase espontâneo de quem ouve um sonoro "oi!", quando numa loja ou outro qualquer estabelecimento entra um grupo de cidadãs brasileiras. Mas se, para alguns, este simples cumprimento é motivo de gracejo e olhar matreiro, para as promotoras do abaixo-assinado transformou-se no avivar de um pesadelo que tentam afastar, algumas com apoio psiquiátrico, recorrendo agora a um pedido de ajuda às autoridades locais.Uma das "mães" admite estar "descontrolada", mas diz que "luta todos os dias" para assegurar um pequeno negócio que o tribunal lhe quer penhorar para pagamento das dívidas que o marido contraiu (por causa das alegadas prostitutas brasileiras) e que já lhe levaram tudo o que tinha em casa. As vivências são comuns a todas elas e envolvem maus tratos, com agressões físicas, abandono do lar e despreocupação com o sustento dos filhos e compromissos assumidos.Alguns destes casos chegaram mesmo aos tribunais com queixas-crime contra os maridos e aquelas mulheres de nacionalidade brasileira.O processo judicial é a esperança de uma das autoras do abaixo-assinado: "Talvez a 'brasileira' tenha medo ao processo e fuja para o Brasil", diz, manifestando a convicção de que, se isso sucedesse, o marido voltaria para casa.Frases "Sabemos que desde o início dos tempos sempre houve prostituição, mas o que está a acontecer em Bragança é uma autêntica onda de loucura, que tem de ser combatida e travada""Somos agora invadidas e fustigadas por dezenas de prostitutas aquarteladas em 'boîtes' mesmo durante o dia, em bairros residenciais, em todo o canto e esquina da cidade"