Filarmónica de Berlim comemora 123º aniversário em Lisboa
Em menos de uma semana, a Orquestra Fliarmónica de Berlim apresenta-se em dois concertos em Lisboa (três, se contarmos com o ensaio geral aberto ao público que teve lugar ontem à tarde), com dois programas diferentes e dois maestros distintos: Pierre Boulez e Mariss Jansons. Atendendo a que se trata da mais mítica das orquestras mundiais e que poucas vezes se tem apresentado em Portugal (ver caixa), a ocasião é privilegiada, se não mesmo histórica. O concerto do próximo domingo, integrado no ciclo Grandes Orquestras Mundiais da Fundação Gulbenkian, estava há muito anunciado. O desta manhã (às 10h, na Igreja do Mosteiro dos Jerónimos) só há poucas semanas foi divulgado. Trata-se do 13º "Concerto Europa", realizado anualmente pela Filarmónica de Berlim no dia 1 de Maio para comemorar o aniversário da sua fundação. Com o patrocínio da DaimerChrysler, o "Concerto Europa" tem lugar desde 1990 numa cidade europeia diferente, usando como palco espaços de reconhecido valor simbólico e histórico-cultural. Algumas das edições anteriores realizaram-se, por exemplo, na Sala Smetana, de Praga, no Mosteiro El Escorial de Madrid, no Palazzo Vecchio de Florença, no Palácio de Versalhes, no Museu Vasa de Estocolmo, no Teatro Marijinski de São Petersburgo ou no Teatro Massimo de Palermo. O evento é concebido especificamente como um concerto televisivo e transmitido para mais de 30 países, chegando a um público de mais de 500 milhões de pessoas. Tal como tem acontecido nos anos anteriores, será posteriormente editado em DVD. Sob a direcção do grande compositor e maestro Pierre Boulez e com a portuguesa Maria João Pires como solista, serão interpretados o Concerto para piano em Ré menor, K. 466, de Mozart, "Le Tombeau de Couperin", de Ravel, e o Concerto para Orquestra, de Bartók. Quanto ao concerto do Coliseu dos Recreios (domingo, às 21h), sob a direcção de Mariss Jansons, será preenchido com a Sinfonia nº 3, "Escocesa", de Mendelsshon, e com a Sinfonia nº 5, de Chostakovich. Fundada em 1882 por um grupo de instrumentistas que se uniram numa associação independente, a Filarmónica de Berlim atingiu ao longos das décadas seguintes uma notoriedade e uma qualidade ímpares, sobrevivendo às duas Guerras Mundiais, ao período obscuro do Nacional Socialismo e à divisão das duas Alemanhas. Ainda no século XIX teve como titular o mais importante e moderno dos maestros da época, Hans von Bulow, que, em apenas cinco anos (1887-93), fixou as bases do que viria a ser o seu estilo interpretativo. Compositores como Richard Strauss, Grieg ou Brahms dirigiram a formação antes do notável Arthur Nikisch ocupar o cargo de maestro, que manteve entre 1895 e 1922. Seguiu-se o lendário Wilhelm Furtwängler (1922-45 e 1948-54) e, por um breve período, Leo Borchard e Sergui Celibidache. Com Herbert von Karajan (a partir de 1955) formou-se a mais célebre dupla da história da direcção orquestral. Responsável por um estilo único e uma sonoridade inconfundível, Karajan foi também o mentor de uma forte dose de conservadorismo, que não era exclusiva do repertório. Até 1982, data em que a violinista suíça Madeleine Caruzzo foi admitida, a orquestra nunca tinha acolhido nenhuma mulher nas suas estantes! A eleição de Claudio Abbado como titular em 1989 inaugurou uma nova era, onde a música do século XX passou a ter um lugar destacado. O maestro italiano planificou também temporadas temáticas e passou a interpretar óperas na Philharmonie, a famosa sede da orquestra, desenhada por Hans Scharoun no início dos anos 60. O seu sucessor, Simon Rattle, que actualmente dirige a sua primeira temporada, pretende igualmente fazer da Filarmónica "uma orquestra para o século XXI", quer através de programas inovadores, quer de projectos educativos que abrangem diferentes géneros musicais e tentam captar um público mais jovem e diversificado.Orquestra Filarmónica de BerlimPierre Boulez (direcção)Maria João Pires (piano)Obras de Mozart, Ravel e BartókLISBOA Mosteiro dos Jerónimos, hoje, às 10h. (Só para convidados, transmissão em directo pela RTP).Orquestra Filarmónica de BerlimMariss Jansons (direcção)Obras de Mendelssohn e ChostakovichLISBOA Coliseu dos Recreios, dia 4, às 21h.