Metro na Avenida da Boavista totalmente à superfície
O metropolitano ligeiro do Porto vai circular totalmente à superfície entre a estação da Casa da Música, junto à Rotunda da Boavista, e a estação de Brito Capelo (Matosinhos), devendo estar operacional em 2005. A revelação foi feita ontem por Oliveira Marques, presidente da Comissão Executiva da Metro do Porto, no decorrer do encontro mensal com os jornalistas. Ontem, foi já entregue à Câmara do Porto a proposta formal, que Oliveira Marques diz ter resultado de "discussão e consenso", pelo que o executivo municipal deverá aprovar o anteprojecto sem problemas - na última reunião entre as duas partes estiveram mesmo todos os vereadores. O processo será depois entregue ao Governo para apreciação e aprovação.A linha vai ocupar a faixa central da Avenida da Boavista, a mais extensa artéria do Porto, com cerca de meia dúzia de quilómetros, permitindo uma ligação directa ao centro de Matosinhos. A obra tem um custo estimado de 140 milhões de euros, montante que será utilizado não só para colocar a infra-estrutura do metro, mas também para adquirir 27 veículos e requalificar a avenida, que ficará com cerca de oito estações.Recorde-se que chegou a ser equacionada a possibilidade de o metro circular em túnel entre a Casa da Música e o Bessa e à superfície daí até ao Castelo do Queijo. A opção de superfície agrada a ambas as partes: basta lembrar, por exemplo, que a autarquia pretendeu colocar o metro à superfície na Avenida dos Aliados, processo que foi abandonado por obrigar a custos extraordinários. Da parte da Metro, Oliveira Marques mostrou-se convencido de a obra poder fazer da Avenida da Boavista "um local bonito, nobre". "A parte mais difícil é a retirada das redes de água, luz, telefone", afirmou.A construção desta linha vai implicar que a concessão da tracção eléctrica na Avenida da Boavista seja transferida da Sociedade dos Transportes Colectivos do Porto para a Metro, empresa que deverá receber ainda a concessão do troço entre a rotunda do Castelo do Queijo (final da Avenida da Boavista) e Brito Capelo.Outro dos assuntos importantes no futuro imediato do metropolitano é a construção do troço da futura linha de Gondomar, entre Campanhã e as Antas. Para estar pronto em Maio do próximo ano, de modo a poder servir o Euro 2004, as obras da linha têm de avançar até ao início de Julho. A obra está orçada em 36 milhões de euros. "Os elementos preparativos já foram entregues ao Governo e a decisão política pode estar para breve. Solicitámos a autorização para que estes trabalhos sejam 'obra a mais' da linha de Matosinhos [Campanhã-Matosinhos]", declarou.Em fase final de preparação está o "dossier" da ligação à superfície da estação de Pedras Rubras ao Aeroporto de Francisco Sá Carneiro, troço com "um quilómetro e pouco". "Era importante que o Governo alargasse essa concessão, porque o metro ficava ligado à rede paneuropeia de transportes. Com esse argumento, podíamos candidatar essa obra e a duplicação da linha Porto-Póvoa de Varzim ao Fundo de Coesão", adiantou Oliveira Marques. Até agora, o metro tem vindo a ser financiado por intermédio do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional. "Assim também se melhora a futura exploração da rede do metro", acrescentou, num alerta não só ao Governo, mas também às autarquias envolvidas no processo de desenvolvimento do metropolitano.Além disso, a ligação ao aeroporto, cujo prazo de conclusão é de poucos meses, poderia ser um precioso auxiliar para a rede de transportes que vai servir o Euro 2004. "Toda a rede do metro é importante, mas a ginástica toda que estamos a fazer é para que esteja a funcionar antes do Euro", disse ainda aquele responsável.No que se refere à linha da Póvoa de Varzim, Oliveira Marques revelou que a empresa está "em plena fase de expropriações e dentro de um mês poderão começar os trabalhos no troço entre a Senhora da Hora e a Póvoa". A Metro do Porto aguarda idêntica autorização do Governo para a duplicação da linha da Trofa, primeiro até à Maia e, mais tarde, da Maia até à Trofa.Em fase de estudo "muito intenso" com as Câmaras do Porto e de Gaia está a segunda linha do metro para esta cidade - a primeira é a que vai passar no tabuleiro superior da Ponte de D. Luís. "Estamos a estudar a vocação e o desenho da ponte. O mais certo é que seja para o metro e tenha também vocação rodoviária. As coisas estão a inclinar-se para que não seja para o TGV", disse Oliveira Marques. A ponte será construída a montante da Ponte da Arrábida.O presidente da Comissão Executiva da Metro adiantou que a linha deverá ser subterrânea no traçado na parte do Porto, entre a Casa da Música e o início dessa travessia sobre o rio Douro, e "essencialmente à superfície" na parte de Gaia.Em relação às outras obras em curso, Oliveira Marques lembrou estarem a ser construídas em simultâneo uma dezena de estações subterrâneas um pouco por toda a cidade, mas em nenhuma delas surgiu até agora qualquer problema relacionado com a segurança. "Os acidentes são história e esperemos que continue assim. O balanço tem sido francamente positivo. O empreiteiro tem prazos, mas numa obra desta complexidade os prazos têm de ser minimamente flexíveis".Na Praça do Marquês de Pombal, a tuneladora que fará o percurso Salgueiros-Trindade "viu a luz do dia" no início deste mês, estando agora a ser puxada para iniciar nova escavação. A segunda tuneladora, que fará o túnel Trindade-Ponte de D. Luís I está neste momento no jardim que separa a Igreja da Trindade do edifício da Câmara Municipal do Porto - já percorreu cerca de 200 metros. A chegada à Avenida dos Aliados está prevista para a segunda quinzena de Maio e só lá para Setembro é que chegará ao destino final. No tocante à linha C - Campanhã-Trindade-Matosinhos -, deverá estar operacional até ao final deste ano.As empresas do Metro do Porto e de Lisboa estão a estudar a possibilidade de adoptar um sistema de "bilhética" único, permitindo assim aos utentes viajar em ambos os metropolitanos sem necessidade de adquirirem novo título de transporte. Oliveira Marques está entusiasmado com a ideia, mas avisa que isso só será possível caso a empresa de Lisboa modernize as suas máquinas. "Seria de facto muito interessante. Creio que está ao alcance das empresas fazer isso, mas depende do metro de Lisboa, porque a nossa tecnologia é de ponta, é do mais moderno que há", disse.No mesmo sentido, o sistema de "bilhética" que a Metro do Porto utiliza - permite, por exemplo, saber em tempo real quantas validações estão a ser feitas e onde - tem suscitado a curiosidade de "técnicos internacionais". "Já cá vieram de Nice [França] e vêm cá de Jerusalém [Israel], por o metro do Porto ser já uma referência".