"Mais de 96 por cento" aprovaram nova Constituição da Tchetchénia
"O referendo realizado no domingo na Tchetchénia sobre o estatuto desta região pôs fim à última ameaça grave à integridade territorial da Rússia", declarou ontem o Presidente Vladimir Putin, ao avaliar os resultados do plebiscito realizado na rebelde república do Cáucaso. Segundo dados oficiais apresentados por Abdul-Kerim Arsakhanov, presidente da Comissão Eleitoral da Tchetchénia, "a afluência às urnas foi superior a 80 por cento dos inscritos nos cadernos eleitorais", sublinhando que "mais de 96 por cento votaram a favor da nova Constituição da Tchetchénia". Esta prevê que a república em luta pela independência "é parte integrante da Federação da Rússia".Putin reconheceu ter ficado surpreendido com a afluência às urnas, e considerou que o número de votos a favor da Constitição tchetchena " superou as expectativas mais optimistas, e mostrou que a população [da república] apostou na paz e no desenvolvimento juntamente com a Rússia. Por isso, aqueles que até agora não depuseram as armas, passam a lutar não só por falsos ideais, mas contra o seu próprio povo. A sua luta contradiz os interesses do povo tchetcheno e a sua vontade de viver em paz".Alexandre Vechniakov, presidente da Comissão Eleitoral da Rússia, declarou que os observadores internacionais que acompanharam o plebiscito "chamaram a atenção para o grande grau de informação e a alta actividade dos participantes no referendo". Um dos observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), Hrar Baliain, reconheceu: "Os organizadores do referendo fizeram um trabalho heróico e os eleitores foram votar não obstante as ameaças à sua integridade física".O correspondente do diário moscovita "Vremia Novostei" chama a atenção para o facto de a afluência ter sido particularmente significativa na terra-natal de alguns comandantes da guerrilha independentista: "Na aldeia onde nasceu Aslam Maskhadov [comandante supremo da guerrilha eleito presidente da Tchetchénia- Itchekéria em 1997], até ao meio dia já tinham votado 60 por cento dos inscritos, enquanto que na aldeia de Chamil Bassaev [um dos mais conhecidos chefes de guerra], esse indicador foi além dos 85 por cento"."Este resultado não foi surpresa para nós", declarou ao Público Oleg Orlov, dirigente da organização humanitária russa Memorial, e acrescentou: "O resultado de 96 por cento a favor é uma ilustração de que o referendo não exprime a vontade do povo; faz lembrar eleições no Iraque, na Turcoménia e na União Soviética".Orlov salientou que a sua organização não possui ainda provas de falsificação do resultado do referendo, mas não duvida que irão surgir. No entanto, considera que as condições de preparação do plesbicito não permitem falar de legalidade: "Toda a preparação do referendo foi ilegal, não havia condições para acções de agitação e propaganda, reinou o terror, as operações de limpeza pelos militares russos continuaram." Além disso, Oleg Orlov considerou que os tchetchenos foram votar por temer represálias: "As pessoas foram votar, porque compreendem que se a sua aldeia, vila não fosse votar ou votasse contra a Constituição proposta, poderiam ser uma vez alvos da repressão por parte dos soldados russos".Quanto ao trabalho dos jornalistas e obervadores na Tchetchénia, Orlov afirmou: "Eles só foram onde as autoridades quisessem que fossem; por isso, como nós prevenimos a OSCE e outras organizações internacionais, eles viram apenas a fachada".Não obstante, tanto os apoiantes como os adversários da realização do referendo estão de acordo num ponto: os tchetchenos estão cansados de dez anos de guerra e querem paz e ordem. "Muitos dos que foram votar, fizeram-no porque estavam convencidos de que as coisas não podem piorar mais, e que o referendo pode trazer algo de melhor", admitiu Oleg Orlov.Resta saber se o escrutínio foi suficiente para isolar a guerrilha independentista, como defende Vladimir Putin.