Guerra no Iraque começa com "ataque de decapitação" contra Saddam
O Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, anunciou ontem à nação o início de uma guerra contra o regime iraquiano de Saddam Hussein. Aviões F-117 largaram bombas e navios de guerra dispararam mísseis contra alvos em Bagdad e fora da capital americana; segundo as televisões americanas, tratou-se de um "ataque de decapitação" cujo alvo eram líderes iraquianos. Não se trata ainda de uma invasão em massa do Iraque, mas um ataque em grande escala está iminente. As operações de patrulhamento das zonas de exclusão aérea do Iraque foram canceladas; a "Operação Liberdade Iraquiana" começou.O ultimato de 48 horas emitido pelos EUA ao regime de Saddam esgotou-se ontem à uma da manhã (hora de Portugal). Pouco mais de hora e meia depois, ouviram-se explosões e fogo de baterias antiaéreas em Bagdad. Não se tratava de um bombardeamento maciço, mas de ataques contra alvos específicos.Segundo a CNN, Washington não previa atacar imediatamente a seguir ao expirar do prazo do ultimato. E o ataque de ontem não fazia parte do plano militar inicial. A televisão de Atlanta noticiou que, durante uma reunião de quatro horas na Sala Oval da Casa Branca ontem à tarde, o Presidente Bush foi informado pelo Pentágono e pela CIA de que havia uma "oportunidade" de alvejar alguns dos principais líderes iraquianos (não foi confirmado se o próprio Saddam estava entre eles).Essa reunião foi convocada de emergência depois de os serviços secretos americanos terem descoberto "informação temporalmente sensível" sobre a localização das chefias do regime de Bagdad. O director da CIA, George Tenet, terá pedido a Bush que não perdesse a "janela de oportunidade" para este "ataque selectivo". Às 11h50 (hora portuguesa; em Washington eram cinco horas mais cedo), a reunião terminou e Bush deu ordem para, se Saddam Hussein não aceitasse o ultimato, lançar o "ataque de decapitação".Ainda segundo a CNN, depois de sair do seu "conselho de guerra", Bush foi jantar com a mulher. À uma da manhã, o seu chefe de gabinete informou-o que Saddam não respondera ao ultimato. Às duas, foi falar com os seus conselheiros sobre o discurso com que se ia dirigir à nação.Pouco depois, mais de 40 mísseis de cruzeiro Tomahawk foram disparados de navios de guerra americanos estacionados no Golfo Pérsico e no Mar Vermelho. Ao mesmo tempo, caças F-117 lançaram bombas sobre os alvos visados. A localização exacta desses alvos ainda não é conhecida; a televisão Fox disse que um era em Bagdad, o outro fora da capital iraquiana.Às duas e um quarto, Bush dirigiu-se aos EUA. Falou durante quatro minutos. O Presidente disse que "alvos escolhidos de importância militar para minar a capacidade de Saddam Hussein de fazer guerra" tinham sido atacados. A investida de ontem foi "a primeira fase do que será uma campanha vasta e concertada".Bush referiu os 35 países que formam a coligação liderada pelos EUA, e agradeceu-lhes por partilhar a "honra e o dever" da sua "defesa comum"; o Presidente mencionou também os membros das suas Forças Armadas.No discurso, Bush prometeu aos iraquianos liberdade e garantiu-lhes que as intenções dos EUA são justas. E recordou ao seu próprio povo que o Iraque é "um país do tamanho da Califórnia" (ou seja, grande) e que a campanha militar "poderá ser mais difícil e demorar mais tempo do que alguns prevêem". Mas esta "não será uma campanha de meias medidas" e o único resultado aceitável para os EUA é "a vitória".Não se sabe quais os resultados deste primeiro ataque. Quanto à legitimidade de visar directamente Saddam, os seus filhos ou os seus lugares-tenentes - a lei americana proíbe o assassínio de líderes estrangeiros. No entanto, peritos legais citados pela CNN disseram que, numa situação de guerra, atacar um local onde se julga estarem os líderes militares das forças inimigas é considerado legítimo.Esta será talvez a guerra mais anunciada de sempre, mas mesmo assim os primeiros golpes desta campanha foram surpreendentes. Não se esperava que os EUA atacassem imediatamente a seguir ao final das 48 horas atribuídas no ultimato. Os americanos ficaram a saber da guerra através da televisão. Os principais canais começaram a transmitir imagens de Bagdad, notando as explosões e o fogo de baterias antiaéreas. A guerra começou às nove e meia da noite da Costa Leste, com as ruas das principais cidades já vazias. Um jogo de basquetebol em Nova Orleães entre a equipa local e os New York Knicks foi interrompido para transmitir em directo no écrã gigante do pavilhão o discurso de George W. Bush.Os analistas julgam que o ataque em massa, com bombardeamentos pesados e uma invasão com tropas terrestres, estará iminente - talvez ainda hoje. A televisão NBC noticiou entretanto que foram suspensas as operações de patrulhamento das duas zonas de interdição aérea do Iraque (uma faixa no Norte do país, outra no Sul), que duravam há mais de uma década, desde o fim da guerra do Golfo.Estas missões foram canceladas pelo início da guerra. As Forças Armadas americanas já divulgaram o nome da operação de derrube do regime de Saddam Hussein: "Operação Liberdade Iraquiana".