Martim Moniz: Sampaio visita maior centro comercial inter-étnico

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Bruno Rascão/PÚBLICO (Arquivo)

Construídos na década de 80, os centros comerciais da Mouraria e do Martim Moniz transformaram-se rapidamente num espaço privilegiado para os negócios de imigrantes paquistaneses, indianos, chineses e africanos e de portugueses descendentes de cidadãos de todos os continentes.

Projectados a pensar no pequeno comércio tradicional, os espaços comerciais foram sendo "tomados" pelos imigrantes que se instalaram, chamaram familiares e "afastaram" os comerciantes locais.

"O Centro Comercial foi construído a pensar em todos. Mas os de cá começaram a ir embora por causa do tipo de pessoas que o começaram a frequentar", recordou o secretário da Junta de Freguesia do Socorro, Marcelino Figueiredo, admitindo que a maioria dos moradores do bairro não simpatiza muito com os imigrantes.

"As pessoas não entram em conflitos com a população local, mas têm problemas entre eles. Já tem havido facadas dentro do Centro Comercial Mouraria e até já houve várias intervenções policiais por causa de distúrbios. A freguesia não encara muito bem que haja muita gente aqui", disse Marcelino Figueiredo.

A par da venda dos produtos típicos das suas culturas - como as lojas de artesanato, mercearias africanas e asiáticas ou salões de cabeleireiros afro - foi florescendo um mercado paralelo ilegal de tráfico de documentos, cartões de crédito e de mercadorias importadas ilegalmente.

A separar os dois centros comerciais, a agitada Praça do Martim Moniz é uma zona de tráfico de produtos ilegais: "Os imigrantes de leste usam a praça para vender telemóveis e ter outros negócios obscuros", corroborou o secretário da junta de freguesia local.

Antes da construção dos centros comerciais, aquela zona já era um ponto de encontro de minorias etnias, que trabalham naquela mesma praça em pavilhões de madeira ou nas redondezas.

"Algumas comunidades têm um sistema de interajuda. Quando os primeiros que chegam se estabelecem, chamam os familiares e dão-lhes algum apoio para começar o negócio", explicou Bento Velhinho, do Gabinete de Acção Social da Câmara Municipal de Lisboa, acrescentando que na década de 1980 deu-se o "boom" da chegada de imigrantes e nos anos 1990 assistiu-se à proliferação dos seus negócios.

As etnias paquistanesas e indianas chegaram nos anos 80 e começaram por trabalhar nas ruas envolventes ao Martim Moniz, bem como os chineses.

Diversas famílias de chineses instalaram-se em edifícios da baixa para o fabrico de gravatas e malas. "Hoje têm lojas de revenda nos centros comerciais, principalmente na Mouraria, onde vendem pronto a vestir e bijutaria muito barata, vendem camisas a dois euros", recordou Marcelino Figueiredo.

Para Marcelino Figueiredo, a existência de todas estas lojas de revenda são uma preocupação para a freguesia, uma vez que os comerciantes transformaram muitos dos prédios da zona em "armazéns, cheios de produtos inflamáveis, que representam um barril de pólvora".

"Nestes centros comerciais existem problemas de segurança e a câmara tem de estar atenta. Mas os edifícios estão lá e temos que ir convivendo com eles, uma vez que a sua demolição é um luxo a que Lisboa não se pode dar", disse o vereador socialista Vasco Franco recordando o desejo do ex-presidente da autarquia, João Soares, de implodir o Centro Comercial da Mouraria.

Além da questão da segurança, a autarquia debate-se com outro grave problema que passa pela exploração dos imigrantes nas pensões da zona, que alugam quartos sem quaisquer condições de higiene e habitabilidade.

"Os donos dos negócios já têm casa própria, principalmente nas zonas periféricas de Lisboa. Mas os empregados das lojas vivem em quartos alugados" da Avenida Almirante Reis e envolvente, disse Bento Velhinho.

O actual executivo camarário reconhece que existem alguns problemas na zona, mas considera que os dois centros são "espaços de convívio e de perfeita confraternização inter-racial e multicultural".