Governo dissolve Gestnave
O Executivo considera que a prestadora de serviços "é completamente inviável". A Gestnave deixa uma insuficiência de 140 milhões de euros no fundo de pensões, uma passivo de 234 milhões de euros e 950 trabalhadores na incerteza.
A decisão, tomada no último Conselho de Ministros, deve-se, conforme explica o Executivo, "ao contexto em que a empresa se encontra actualmente e que, num futuro próximo, irá representar para o Estado avultados encargos que se tornam incomportáveis e indefensáveis numa lógica de equidade na prossecução do interesse público". Na incerteza ficam agora os 950 trabalhadores afectos à Gestnave.
Fonte do Ministério das Finanças disse ao PÚBLICO que a Gestnave "é completamente inviável" e que a situação que vive actualmente "é incomportável" para os cofres do Estado. E avançou porquê: o fundo de pensões atingiu uma insuficiência de 140 milhões de euros no final de 2002; a Gestnave fechou o exercício de 2001 com capitais próprios negativos de 180 milhões de euros (situação que obriga o Estado, enquanto accionista, a intervir com vista ao cumprimento do artigo 35 do Código das Sociedades Comerciais), ano em que registou prejuízos de 37 milhões de euros. Em 2001, e de acordo com o relatório e contas, a Gestnave viu o seu passivo atingir os 234 milhões de euros. Segundo a mesma fonte, a empresa deverá fechar o exercício de 2002 com prejuízos de 20 milhões de euros.
Protocolo vigora até 2007A Gestnave foi constituída em Abril de 1997 no âmbito do processo de reestruturação da indústria naval decidido pelo Governo de então e objecto de um protocolo de acordo com o grupo José de Mello, na altura proprietário da Lisnave. Dessa forma, a Gestnave absorveu os trabalhadores excedentários da Lisnave e estabeleceu um contrato de fornecimento de mão-de-obra com os estaleiros navais de Setúbal que permite, em alturas de "pico" de encomendas, utilizar operários não vinculados aos quadros da Lisnave. A Gestnave desempenha ainda outro tipo de actividades que não estão relacionadas com a reparação naval, como por exemplo na área da metalomecânica e da electricidade.
Ao abrigo desse mesmo protocolo, e conforme se pode ler na portaria n.º 706/97 (2.ª série), aos trabalhadores da Gestnave, nova designação social da empresa Lisnave - Estaleiros Navais de Lisboa, é reconhecido o direito à pensão de velhice antecipada. Medida esta que "deverá vigorar até 31 de Dezembro de 2007, data considerada limite para a aplicação do plano social que integra o plano de reestruturação, ou até à sua conclusão, se esta ocorrer primeiro".