Google adquiriu o Blogger
Objectivo do maior motor de busca permanece pouco claro.
O Google, hoje o mais usado dos motores de busca na Internet, adquiriu a empresa Pyra Labs por um montante não revelado. A Pyra criou a comunidade e as ferramentas tecnológicas em que assenta o Blogger.com e, em três anos e meio, conseguiu uma comunidade de mais de 1 milhão de utilizadores, dos quais 200 mil têm "blogs" activos.
Os "blogs" — ou "weblogs" — não são fáceis de definir devido às suas múltiplas especificidades; mas, em geral, são sítios da Web actualizados com alguma frequência, criados com ferramentas técnicas de fácil uso, muitas vezes em modo "on-line".
Os conteúdos são diversos, desde temáticos a diários pessoais ou opinião, e normalmente incluem hiperligações para as fontes das histórias que publicam ou sobre as quais opinam. Muitos permitem comentários externos sobre o que é ali escrito.
Dinâmicos — antecipando-se, por vezes, aos meios de comunicação tradicionais —, são um "ecossistema de notícias, opiniões e ideias", salienta Dan Gillmor, colunista no jornal diário "San José Mercury News" (o mais importante do Silicon Valley), que tomou pública a aquisição da Pyra.
Esta revelação teve contornos curiosos, positivos para a comunidade "blog", e foi mais um sinal de que a Internet ainda tem negócios interessantes. Na segundafeira, outro motor de busca, o AltaVista, foi adquirido pela Overture Systems por 140 milhões de dólares. A Overture é uma empresa que fornece listas de pesquisa pagas a empresas como a Yahoo!.
Gillmor, que costuma escrever ao domingo e à quarta-feira, colocou a história da aquisição no final da tarde de sábado, dia 16, no seu próprio "blog" (http://weblog.siliconvalley.com/column/ dangillmor/). À noite desse dia, no final do encontro "Live from the Blogosphere!", EvanWilliams, "chief executivo officer" (CEO) da Pyra (na foto), ligou o seu computador ao ecrã de projecção e apresentou publicamente a página da Web com o texto de Gillmor. As fotografias desse momento estão registadas num "blog" em http://blogs.salon.com/0001437/stories/ 2003/02/17/liveFromTheBlogospherePh otos.html (na imagem). A notícia espalhou-se rapidamente entre a comunidade dos "webloggers" sem que os meios tradicionais de comunicação social se apercebessem do que se estava a passar — à excepção do "Mercury News".
No domingo, enquanto Jason Kottke apresentava no seu "blog" uma imagem do que poderia ser o novo "blogger" (ver www.kottke.org/03/02/030217you.put.blog.html), Evan Williams confirmava no seu "blog" Evhead.com ter vendido a empresa após quatro meses de negociações mas mantinha-se céptico sobre o seu futuro. O Blogger apenas confirmaria o negócio na segunda-feira.
Este exemplo realça o potencial interesse do Google em adquirir o Blogger. Caso indexasse os "blogs" como o faz para outros 4 mil meios noticiosos, um serviço como o Google News (http://news.google.com) teria tido como principal notícia nesse sábado a fusão entre as duas empresas — o que não aconteceu.
Não é a primeira vez que o Google entra no negócio dos conteúdos exclusivos na Internet. Há poucos anos, adquiriu a Deja.com, empresa que mantinha e actualizava os "newsgroups", fóruns temáticos de discussão pública da Usenet.
Com o Blogger, o Google passa não só a dispor das ligações em quantidade mas também a saber quais as mais procuradas, sendo enorme o potencial dessa informação — razão que responde à dúvida sobre se o Google continuará a indexar os conteúdos de plataformas concorrentes, como a Movable Type, a LiveJournal, a Userland Radio ou a Blog Builder, da Tripod, entre outras. Evan Williams explicitou que seria uma desvantagem para o próprio Google não o fazer.
Quanto aos utilizadores do Blogger, não terão sinais de mudanças nos próximos tempos. O essencial, afirmam os seus criadores, é mudar toda a estrutura do Blogger para os servidores mais robustos do Google.
Tanto o negócio Google-Pyra como o da Overture-Alta Vista ocorrem numa época de baixos preços — o AltaVista valia, em 1999, quase 3 mil milhões de dólares. A própria Yahoo! adquiriu um outro motor de busca, o Inktomi, em Dezembro, por 235 milhões de dólares.
Os motores de busca continuam a ser grandes portas de entrada para a Web.
Junte-se às pesquisas algumas ligações para sítios na Web pagos ou mensagens publicitárias — e poderemos estar perante um negócio com algum potencial. Por outro lado, a pesquisa por tópicos ganhará com os "blogs". O Google teve, em 2002, um volume de negócio de 300 milhões de dólares e lucros de 100 milhões, com 60 milhões de visitantes mensais, mais de metade de fora dos EUA.
O Blogger tem duas versões — uma gratuita e outra paga — e, ao contrário desta, a primeira tem espaços publicitários que raramente estão ocupados, algo que a máquina comercial do Google poderá trabalhar. Mas esta empresa poderá também estar a "engordar" com a comunidade dos "bloggers" para ser posteriormente vendida.
No entanto, tanto o Google como o Blogger devem algum do seu sucesso ao facto de serem independentes das grandes empresas de tecnologias de informação. A sua junção poderá transformar esta imagem junto dos utilizadores, gerando um ambiente tenso para ambas, tanto mais que há concorrentes disponíveis com a mesma oferta. Por isso, a principal questão que dominou a semana foi saber qual terá sido o objectivo do Google com esta aquisição — e não houve ainda resposta.
'Blogs'em Portugal Não existe uma indexação séria dos "blogs" criados em Portugal, nem qualquer estudo científico sobre o fenómeno.
A fim de perceber os contornos deste fenómeno em Portugal, procedeu-se a um ensaio de listagem (disponibilizada em http://blogsempt.blogspot.com), tendo-se concluído da existência de 177 "blogs" um deles ampliado por se tratar da comunidade de criação de "blogs" no âmbito do "Diário Digital" (www.diariodigital.pt/ediario/). Neste caso, dos cerca de 300 listados, muitos estão fechados ao público e outros aparentam apenas ter ocupado o espaço, sem manterem actualizações regulares.
Quanto aos outros, 30 estão desactivados ou sem actualização desde o ano passado.
Restam 146 distribuídos por diferentes áreas de intervenção, desde os diários pessoais (a grande maioria) aos de política (de direita e de esquerda), do jornalismo, da música, do cinema ou da tecnologia ao futebol e às artes em geral — um retrato multifacetado da sociedade, sem dúvida.
Uma questão que não parece suscitar grandes preocupações são os direitos de autor: colocam-se "on-line" imagens (sobretudo, fotografias) e textos que — embora, por vezes, com a indicação do seu autor — não têm a autorização dele para serem disponibilizados num''blog'.