Vitória anunciada de Ariel Sharon e do Likud
Uma razão será os resultados das sondagens, que apontam todas para uma vitória do Likud, partido de Ariel Sharon, e a derrota dos trabalhistas e do seu novo líder, Amram Mitzna.
Embora garantida, a vitória prevista do primeiro-ministro Sharon não será suficiente para que possa governar sem um governo de coligação, mas isso nunca foi possível no sistema fragmentado de representação proporcional de Israel. O Likud, indicam as sondagens, ganhará cerca de 30 deputados, num total de 120, no novo Knesset (Parlamento); o Labour irá descer dos actuais 26 para 20 ou menos. Uma dúzia de outros partidos irá partilhar os restantes lugares. E depois de amanhã de manhã, começará o moroso processo de formação de uma coligação.
Mas provavelmente uma razão mais significativa para a falta de interesse entre o eleitorado israelita é a opinião geral, partilhada por pessoas de todo o espectro político, de que estas eleições não vão trazer nenhuma mudança, porque o “timing” estava errado.
Há um consenso alargado de que os últimos dois anos e meio de violência entre israelitas e palestinianos são totalmente, ou em grande parte, culpa da liderança palestiniana. Os israelitas culpam Yasser Arafat por desprezar a oferta de paz que lhe foi feita, em 2000, pelo então primeiro-ministro Ehud Barak. Para os israelitas, o falhanço de Arafat constitui a realidade objectiva que impede uma mudança significativa. Por outras palavras, enquanto Arafat estiver na direcção palestiniana pouco interessa quem governa no lado israelita.
Assim, mesmo apesar de o líder do Labour articular uma política de paz completamente diferente das promessas nublosas de Sharon de “concessões dolorosas (...) assim que toda a violência acabe”, e ainda que as ideias de Mitzna tenham ganho larga aprovação pública durante a campanha, não houve qualquer aumento do apoio a Mitzna e ao seu partido. Muitas pessoas mostraram-se relutantes em deixar cair quem já estava no poder – e por isso, do seu ponto de vista, não havia nenhuma perspectiva realista de mudança na situação objectiva. Nesse aspecto, foi provavelmente mais sensato da parte de Sharon forçar as eleições para agora do que esperar pela próxima data regulamentar, Novembro próximo. Nessa altura, o confronto norteamericano contra o Iraque poderia ter acabado, de uma maneira ou de outra, e Washington podia estar pronto — na verdade, ansioso – para voltar a sua atenção mais vigorosamente para o processo de paz israelo-palestiniano. Quando isso acontecer, os israelitas moderados terão de fazer uma escolha séria. Por agora, sentem que a podem adiar.
É esta análise israelita do seu presente e do seu passado recente que é responsável, também, pela notável resiliência da popularidade de Sharon. Várias histórias sobre corrupção no seu partido e até envolvendo a sua família causaram uma descida do Likud nas sondagens durante mês de Dezembro. Mas nas últimas semanas a derrapagem parou em todas as pesquisas e o partido de Sharon recuperou um pouco do terreno perdido. Os analistas são unânimes a atribuir o sucesso não ao partido mas ao seu líder.
Os escândalos, no entanto, vão continuar a pender sobre a cabeça de Sharon muito depois desta vitória eleitoral – e poderão até forçá-lo a deixar poder mais cedo do que tenciona.
Do mesmo modo, as dificuldades que provavelmente irá enfrentar, se as sondagens estiverem certas, na formação de uma coligação podem deixá-lo com uma pequena e instável maioria que poderá ter vida curta. Se o Governo cair, Sharon irá possivelmente enfrentar Benjamin Netanyahu na disputa da liderança do partido.
Todos estes factores juntos — a apatia, a falta de urgência, a alienação dos partidos manchados pela corrupção — provocaram um tédio que é reflectido na subida meteórica de um novo, jovem partido, o Shinui. Liderado por um jornalista veterano e personalidade de “talk shows”, Tommy Lapid, o Shinui poderá ganhar uma dúzia ou mais de deputados graças às suas críticas violentas à comunidade ultra ortodoxa e à dependência desta do erário público para sobreviver.
Essa posição é muito popular. Mas a maioria das pessoas, mesmo entre os seus mais fervorosos apoiantes, admitirá que questões de guerra e paz têm prioridade na agenda nacional. É precisamente porque estes assuntos não são centrais nesta eleição que o Shinui — e no fundo também Sharon — estava em posição de ter um bom resultado hoje.