Maurice Gibb: morreu um dos reis do "disco"
Maurice Gibb, um dos três irmãos que na década de 60 viriam a fundar um dos mais bem sucedidos grupos pop de sempre - os Bee Gees - morreu ontem, aos 53 anos, vítima de um ataque cardíaco. O anúncio foi feito pela família do músico, que se encontrava internado desde quinta-feira num hospital da Florida, nos Estados Unidos. "O seu amor pela vida, o seu entusiasmo e energia permanecem como um exemplo para todos", lê-se no comunicado divulgado pela AFP.Maurice Gibb (voz, guitarra e teclas) formava com os irmãos Barry (três anos mais velho) e Robin (seu gémeo) os Bee Gees - nome que adoptaram como abreviatura de Brothers Gibb -, banda responsável por êxitos como "Massachusetts", "Stayin' alive", "How deep is your love?" ou "Night fever". Ao longo dos seus 42 anos de carreira, os Bee Gees registaram altos e baixos, tendo chegado mesmo a separar-se. Mas, apesar das dificuldades, foram-se adaptando e são hoje marcos da história da pop: 110 milhões de cópias dos seus 28 álbuns circularam por todo o mundo, encontrando-se actualmente entre os cinco campeões de vendas, ao lado de Elvis, The Beatles, Michael Jackson e Paul McCartney. Um começo precoceMaurice e Robin Gibb nasceram em Dezembro de 1949, no Reino Unido. Os pais estavam ligados à música popular e rapidamente motivaram os quatro filhos (Andy viria a seguir uma carreira a solo, longe do famoso trio, e morreria em 1988, na sequência de um ataque cardíaco associado ao abuso de drogas) a seguir-lhes os passos.A primeira aparição pública dos três irmãos dá-se em 1955, num modesto cinema de Manchester. Barry tinha nove anos e os gémeos apenas seis. Em 1958, a família Gibb emigra para a Austrália, onde Barry, Maurice e Robin continuam a cantar, muitas vezes em clubes nocturnos mal frequentados, perante audiências agressivas e praticamente inconscientes. "A maioria estava bêbeda. Havia muitas cenas de pancadaria e, numa ou noutra noite, a nossa principal preocupação era evitar as garrafas que voavam", diria mais tarde Maurice (que viria a enfrentar problemas ligados à dependência de álcool e drogas), numa entrevista a um diário britânico. Em 1962, assinam com uma editora australiana, mas só vêem a sua carreira arrancar em 1967, quando regressam ao Reino Unido com a canção "Spicks and Specks". Representados por Robert Stigwood, um dos associados de Brian Epstein, o produtor que descobriu os Beatles, criam uma série de sucessos. Os seus quatro primeiros álbuns - "Bee Gees First", "Horizontal", "Idea" e "Odessa" - incluem mega-êxitos que os tornam conhecidos em todo o mundo. Canções como "1941 New York mining disaster", "Massachusetts", "Holiday", "To love somebody" e "I started a joke" transformam-se em "clássicos".Altos e baixosA primeira separação dá-se no final da década de 60, provocada por possíveis carreiras a solo. Mas não durou muito. Em 1971, os irmãos reencontram-se, esperando três anos por um novo álbum - "Mr. Natural". Temas como "Nights on Broadway" e "You should be dancing" permitem-lhes reaver o estatuto que ocupavam em meados dos anos 60.O ano de 1977 assinala um ponto de viragem. Quando Stigwood decidiu produzir um filme baseado num artigo sobre "a subcultura disco", tornou-se óbvio que seriam os Bee Gees os autores da banda sonora. "Saturday Night Fever" lançou no estrelato o jovem actor John Travolta e fez de "Night fever" um fenómeno à escala planetária - foi considerado o álbum duplo da década e é ainda hoje a mais vendida banda sonora de sempre (40 milhões de exemplares), segundo a BBC. A "Night fever" associam-se sucessos como "Stayin' alive", "How deep is your love?", "More than a woman" e "Tragedy", canções que haveriam de fazer dos Bee Gees os "reis do disco", mesmo que eles preferissem ignorar o rótulo. "Estranhamente, para um grupo tão ligado a canções ternas e semiacústicas, os Bee Gees tornaram-se as figuras de proa do movimento 'disco'", defendia ontem o especialista da BBC, Stephen Dowling.Na década seguinte, voltam-se para a produção e escrevem "Guilty" para Barbara Streisand, o "Chain reaction" de Diana Ross, e "Islands in the stream", um dueto para Dolly Parton e Kenny Rogers. Regressam aos "tops" e à estrada em 1987, com "You win again", do álbum "E.S.P.", a que se seguiu "One" (1989). Apesar de não terem chegado a recuperar o êxito dos anos 70, os Bee Gees mantiveram-se em actividade e, em anos recentes, viram as suas contas bancárias crescer graças aos direitos de autor. "Em meados dos anos 90 parecia que qualquer grupo pop do planeta tinha de integrar no seu reportório uma versão de uma canção dos Bee Gees para ter sucesso". Os Take That gravaram "How deep is your love?", Boyzone "Words" e os Steps reeditaram "Tragedy". Até Robbie Williams se rendeu ao trio em "I started a joke", mas sem a aprovação dos irmãos Gibb, que definiram a versão como "o tipo de coisa que se ouve num asilo de loucos". Quer se goste, quer não, há uma verdade que parece inabalável - os Bee Gees conquistaram um lugar de relevo na história da pop e os seus êxitos atravessam cinco décadas, ouvindo-se ainda hoje em muitas discotecas. O segredo? Um estilo simples e acessível que tem num conjunto de vozes singulares a sua imagem de marca. Poderão continuar sem Maurice? O crítico de música Paul Gambaccini acha que não: "Ele era a voz mais aguda do trio. Temo que, sem ele, o bonito som dos Bee Gees não possa voltar a ser produzido".