"Granta" elege os 20 romancistas britânicos do futuro

O nome Monica Ali diz-lhe alguma coisa? Aos britânicos também não. Mas é um dos 20 nomes escolhidos pela revista "Granta" para a lista de 2003 dos melhores jovens romancistas do Reino Unido, anunciada no princípio desta semana.Esta eleição vai na sua terceira década. Em 1983 os escolhidos chamavam-se Salman Rushdie, Martin Amis, Julian Barnes, Ian McEwan, Graham Swift ou Kazuo Ishiguro - mais que uma mão cheia de estrelas, que o tempo confirmou. Em 1993 a selecção apresentou-se menos espectacular: Hanif Kureishi e outra vez Ishiguro (para citar autores traduzidos em Portugal).Este ano, o nome mais notório é o de Zadie Smith, de quem a Dom Quixote editou o ano passado "Dentes Brancos" (o seu segundo romance, entretanto publicado no Reino Unido, não foi tão bem recebido). Entre os restantes 19 escritores há quase consagrados, estreantes recentes e três que nem sequer publicaram ainda.A escolha foi feita a partir de 140 obras enviadas pelos editores, reduzidas para 50, numa primeira triagem feita por Ian Jack, o editor da "Granta". Jack e quatro críticos literários convidados pela revista constituíram o júri para a eleição final. Os critérios obrigatórios eram que o romancista tivesse até 40 anos e possuísse passaporte britânico - o que excluiu imediatamente alguns candidatos. A esmagadora maioria dos escolhidos tem entre 30 e 40 anos. As excepções são Zadie Smith (27 anos) e o estreante-por-ser Adam Thirlwell (25 anos).O primeiro romance de Thirlwell, "Politics" - sobre uma "ménage a trois" no Norte de Londres -, foi lido pelo júri ainda em provas e será publicado este ano. O mesmo aconteceu com "Timoleon Vieta", obra passada em Itália com que Dan Rhodes, 30 anos, se vai estrear, e com "Brick Lane", da já referida Monica Ali, 35 anos, promovida por antecipação como "a nova Zadie Smith" - o romance centra-se numa família de emigrantes do Bangladesh.Competição inferiorO escocês Andrew O' Hagan, 34 anos, também está na lista. O seu romance de estreia, "Os Nossos Avós", que a Dom Quixote publicou o ano passado, foi finalista em 2002 do Booker Prize, o mais prestigiado prémio de ficção no Reino Unido. O novo livro, "Personality", será publicado este ano (década de 70, "showbusiness", escoceses-italianos são a matéria-prima, segundo o semanário "Observer").Outros finalistas do Booker escolhidos pela "Granta" são David Mitchell, 33 anos, autor de "Ghostwritten", e Rachel Seiffert, 31 anos, cujo romance de estreia, "The Dark Room", cruza três histórias sobre a Alemanha, desde os anos 20.Ben Rice, 30 anos, só tem uma obra publicada, "Pobby and Dingan". Mas esta pequena história, sobre os amigos imaginários de uma criança, entre os mineiros de diamantes da Austrália, foi considerada pelo júri "uma jóia perfeita". Já David Peace, 35 anos, é autor de um quarteto de romances ("1974", "1977", "1980", "1983") sobre corrupção policial e crime.Nicola Barker, Rachel Cusk, Susan Elderkin, Peter Ho Davies, Philip Hensher, Al Kennedy, Hari Kunzru, Toby Litt, Alan Warner, Sarah Waters e Robert McLiam Wilson são os restantes nomes da lista.Segundo o júri, há pouco em comum entre os 20 eleitos. Os cenários variam entre a Londres do século XIX e o Afeganistão, os géneros entre a comédia e o melodrama, para além das diferenças de estilo e universos. "Duvido que alguma vez tenha feito sentido falar de uma geração de escritores", ressalva Jack, em declarações ao "Observer". "Ishiguro não é como Martin Amis e Salman Rushdie é como ninguém, com a excepção possível de [García] Marquez." Ainda assim, Jack consegue encontrar algumas características nesta lista de 2003: "Há muito sexo e transgressão, em geral, e muito mais escrita histórica."A crítica Hilary Mantel, que fez parte do júri, não hesita em dizer que o nível médio dos candidatos não era brilhante: "A minha sensação é que a lista [de 2003] é mais fraca que as anteriores devido à aparente facilidade em publicar. Há meia dúzia de autores bilhantes aqui, mas a competição não foi assim tão forte."

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