Chove ferro no planeta extra-solar mais distante da Terra
Não deve ser um local nada agradável o novo planeta extra-solar cuja descoberta acaba de ser anunciada, na reunião anual da Sociedade Americana de Astronomia, em Seattle, nos EUA. Quando chove, o que deverá cair são pequenas gotas de ferro, porque a atmosfera tem a temperatura certa, dizem os cientistas, para formar nuvens compostas por átomos de ferro. Atinge os 1700 graus Celsius, o que contribuiu para que não seja lá muito aprazível. Também não é caso para preocupações imediatas: se um dia alguém for até lá, e conseguir viajar a 300 mil quilómetros por segundo, a velocidade da luz, mesmo assim levará 5000 anos a chegar.De facto, o novo planeta extra-solar é o mais longínquo que se descobriu até agora. Todos os planetas detectados noutros sistema solares que não o nosso estão até 160 anos-luz de distância. Foi graças a um novo método de detecção - que se chama trânsito planetário - que os cientistas do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian, em Cambridge, nos Estados Unidos, conseguiram descobri-lo, na direcção da constelação do Sagitário.Quando o planeta passa à frente da estrela, quando visto da Terra, causa uma ligeira redução do seu brilho. Essa redução é periódica e, por isso, o planeta acaba por denunciar-se, embora este efeito seja tão minúsculo como o de um mosquito a passar em frente a um foco de luz a mais de 300 quilómetros de distância. Não é nada fácil localizar planetas extra-solares, porque, além de estarem muito longe da Terra, não produzem qualquer luz. Aquela que reflectem para o espaço é ofuscada pelo brilho intenso da estrela que orbitam. Por isso, o método mais usado para encontrar planetas é o da velocidade radial da estrela, que sofre uma ligeira oscilação devido à gravidade do planeta. A estrela ora se aproxima ligeiramente da Terra, ora se afasta: em consequência disso, a luz emitida sofre um desvio para o vermelho na parte do espectro electromagnético quando a estrela se afasta da Terra, e para o azul quando se aproxima. Esta foi a primeira vez que se descobriu um planeta extra-solar pelo método de trânsito planetário, sublinha o astrofísico Dimitar Sasselov, o coordenador dos cientistas envolvidos nesta descoberta, que será publicada em artigos científicos nas revistas "Nature" e "Astrophysical Journal Letters". Esta descoberta, pensam os cientistas, veio tornar possível encontrar planetas como a Terra. Até ao momento - e desde que o primeiro planeta extra-solar foi detectado, em 1995, em torno da estrela Pégaso 51, pelos suíços Michel Mayor e Didier Queloz, do Observatório de Genebra -, apenas se conseguiam encontrar gigantes gasosos como Júpiter. Mesmo assim, tinham de estar muito perto da estrela, para conseguir observar os efeitos que nela provocam. Será que, num Universo tão gigantesco, não haverá mais Terras? Ou Martes, outro dos planetas telúricos do nosso sistema solar?O novo planeta ainda é um gigante gasoso - é semelhante em tamanho a Júpiter, embora a massa seja inferior - e está muito perto da estrela, mais do que Mercúrio do Sol. Por isso, um ano ali também é algo bizarro: tem apenas 29 horas, o tempo em que completa uma volta à estrela. "Mas a porta acaba de ser escancarada para descobrir planetas como a Terra, com uma técnica que está a ser testada há alguns anos e que finalmente funcionou", diz Dimitar Sasselov, citado pela agência Reuters. "A razão por que estamos tão entusiasmados deve-se ao facto de a técnica do trânsito planetário permitir a observação de milhões de estrelas", acrescentou. Até ao momento, a detecção de planetas, restrita à nossa galáxia, ficava-se pela observação de 40 mil estrelas candidatas a terem planetas em órbita. Depois deste anúncio, as estrelas que poderão ser estudadas passaram para 100 milhões. O planeta mais longínquo da Terra, que se chama OGLE-TR-56b, deve o nome ao projecto que permitiu a sua descoberta. Fazia parte dos 59 candidatos a planetas identificados no âmbito do projecto Optical Gravitational Lensing Experiment (OGLE), que perscrutou milhares de estrelas à procura de variações periódicas na luminosidade. Os candidatos foram sendo eliminados depois de observações em telescópios nos EUA, no Chile e no Havai.Apesar de já se ter passado o número simbólico dos 100 planetas extra-solares e de a descoberta de uma Terra parecer cada vez mais possível, continua a subsistir um dos grandes enigmas da humanidade: estaremos sozinhos no Universo?