Mas, felizmente, há coisas que não mudam, e um filme de Polanski, melhor ou pior, continua a ser um filme de Polanski: há momentos em que a personagem de Adrien Brody parece a Catherine Deneuve de "Repulsa", envolto numa espécie de suplício sado-masoquista onde a humilhação e a auto-comiseração andam de braço dado. Mas atente-se, sobretudo, na crueza voyeurista com que Polanski filma as atrocidades dos nazis (dos fuzilamentos súbitos às torturas de requintada malvadez), como se o gueto de Varsóvia fosse um grande anfiteatro para rituais sado-maso. Estamos muito longe de "Saló", mas o que há é o bastante para que, mau grado os seus desequilíbrios, "O Pianista" se assuma como um dos mais singulares, e sobretudo um dos mais perversos, olhares cinematográficos sobre o holocausto.
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