"Esquece Aquilo..." é mais frágil como objecto, mas possui a mesma urgência, o mesmo sentido desgarrado da perda das raízes, semelhante olhar agridoce sobre a disfuncionalidade da célula familiar. Construído em torno de bruscas oscilações de tom e rasgões narrativos, possui uma força que permanece depois da visão: um humor negro e corrosivo (o bode é um achado como transporte de energias), aparece contaminado de uma sentimentalidade quase piegas, muito portuguesa, desmontada aliás por todo o distanciamento operado pela música ou pela presença (sempre sentida) do olho da câmara. O uso cinematográfi co de actores de (recente) forte imagem televisiva, António Capelo e Custódia Gallego, excelentes, confere à fi cção uma invejável aparência de "naturalismo", que a construcção complexa desta fábula portuguesa faz constantemente explodir. Um belíssimo olhar sobre as contradições de ser português.
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