Xanana Gusmão: "Há forças com outros objectivos por trás dos protestos"
"Tudo parece indicar que alguém está por trás dos distúrbios de hoje em Díli. Deve ser realizada uma investigação no sentido de apurar responsabilidades", refere o chefe de Estado timorense, numa nota emitida hoje pelo seu gabinete.
Já em declarações à TSF, hoje de manhã, o ministro dos Negócios Estrangeiros, José Ramos-Horta, admitiu que podem estar membros das ex-milícias no seio dos grupos revoltosos responsáveis pelos desacatos.
Na nota difundida pelo gabinete do Presidente da República, Xanana Gusmão informa ainda que "a situação em Díli está calma", reiterando os apelos aos cidadãos da capital para que se mantenham calmos.
Segundo apurou a Lusa, a nota - em versões portuguesa e inglesa - foi enviada a todo o corpo diplomático em Díli.
Reafirmando declarações que proferiu hoje, quando falou directamente com os populares envolvidos nos confrontos, Xanana Gusmão recordou que os manifestantes estavam a "fazer a defesa de uma pessoa que está a ser investigada porque é acusada de esfaquear outro cidadão".
Protestos começaram ontemDesde ontem que alguns manifestantes protestavam nas ruas de Díli contra a detenção de um estudante suspeito de envolvimento num homicídio.
"Ninguém está ou pode estar acima da lei e se alguém ou alguma instituição procedeu incorrectamente, deverá ser através do cumprimento da lei que se resolve a situação e nunca através do recurso à violência", sublinha a nota do Presidente Xanana Gusmão, a que a Lusa teve acesso.
Os actos de violência de hoje ocorreram 24 horas depois de estudantes se terem confrontado com efectivos das polícias timorense e internacional, após uma operação policial para a detenção do jovem acusado de homicídio na Escola 28 de Novembro.
À semelhança do que já tinha feito o primeiro-ministro, Mari Alkatiri, o Presidente da República nega igualmente que tenha sido decretado qualquer estado de emergência em Timor-Leste, competência aliás que constitucionalmente lhe está atribuída.
O chefe de Estado timorense, na sua mensagem, volta igualmente a fazer eco dos apelos para "a necessidade absoluta de diálogo" como principal via "para resolver os problemas que existam" no país.
O mais graves confrontos desde a independênciaOs capacetes azuis das Nações Unidas tiveram que rodear, hoje cedo, o edifício do Parlamento enquanto a multidão lutava para o saquear e deitava fogo a uma série de edifícios, nomeadamente à casa do primeiro-ministro - que ficou reduzida a cinzas - e à de um seu irmão, à mesquita da capital e ao maior supermercado da cidade.
Pelo menos duas pessoas morreram nos incidentes de hoje, mas notícias ainda não confirmadas dão conta de mais vítimas mortais, entre as quais um polícia.
Sabe-se, porém, que os cerca de 300 portugueses residentes em Díli encontram-se bem. O ministro adjunto do primeiro-ministro português, José Luís Arnaut, que ontem iniciara uma visita oficial ao país está a assumir o comando das operações de transferência dos cidadãos portugueses para locais seguros, como o aquartelamento do contingente português e o palácio presidencial.
Estes incidentes foram os mais graves da história do território timorense desde o referendo que deu a independência a Timor-Leste, em 1999.