quem matou?
De um Cadillac branco foi disparada saraivada de balas sobre o BMW em que seguia Tupac Shakur, na noite de Las Vegas, em 1976. Sabe-se quem disparou. Mas quem mandou matar? Com testemunhas ou suspeitos mortos, e em fundo a ligação entre gangs e a polícia americana, a história continua, interminável.
A morte de Tupac Shakur ainda hoje, passados seis anos, permanece um mistério insondável. A controvérsia voltou a surgir em Setembro, quando, na véspera de mais um aniversário do crime que levou à sua morte, o Los Angeles Times publicou uma peça de jornalismo de investigação da autoria de Chuck Philips. A investigação terá decorrido durante um ano e apresentava conclusões sobre quem mandou matar Tupac Shakur. O dedo era apontado a Notorious B.I.G. que, na reportagem, é não só acusado de ser o mandante como de ter oferecido a sua própria pistola para os disparos fatais - Notorious B.I.G. morreu, um ao depois de Tupac, em condições também por esclarecer. As conclusões de Chuck Philips foram, no entanto, contestadas por inúmeras personagens envolvidas directa ou indirectamente no caso, como o Departamento de Polícia de Las Vegas, a viúva de Notorious B. I. G., Faith Evans, ou o histórico produtor de hip-hop Russell Simmons.Quem também lançou lenha para esta fogueira foi o realizador Nick Broomfield, autor de um documentário produzido de acordo com métodos próprios da imprensa sensacionalista, "Biggie & Tupac", que estreou no início deste ano. Conhecido pelo aproveitamento especulativo que faz destas matérias - realizou um outro documentário em que sugeria que Courtney Love era a responsável pela morte de Kurt Cobain -, adianta a tese de que Suge Knight, o magnata do rap proprietário da Death Row, teria sido o responsável moral pela morte não só de Tupac como de Notorious B. I. G (ou Biggie Smalls ou ainda, de seu nome, Christopher Wallace). As teorias sobre a morte dos dois artistas são imensas e roçam, por vezes, o puro delírio.Apesar das histórias desencontradas e da ausência de testemunhas, as investigações entretanto levadas a cabo chegaram já a conclusões claras quanto a muitos dos factos ocorridos em Las Vegas, na noite de 7 de Setembro de 1996, data em que ocorreu o assassínio de Tupac.a cena do crime. Tupac Amaru Shakur estava em Las Vegas para assistir, no MGM Grand Hotel, ao combate de boxe entre Mike Tyson (que o viria a visitar no hospital) e Bruce Seldon. Com ele estava Marion Suge Knight, vários funcionários da editora Death Row, e, como era costume nos grandes combates de boxe, membros dos Bloods (que faziam segurança aos artistas da Death Row Records) e dos Crips, gangs rivais de Los Angeles. O combate não durou mais do que uns preciosos segundos, mas à saída Tupac Shakur e Suge Knight encontram um elemento dos Crips, Orlando Anderson, que agrediram, como ficou documentado nas câmaras de vigilância do hotel. Tal como concluiu a Polícia de Los Angeles depois de investigações levadas a cabo nos dias seguintes, foi Orlando Anderson quem, horas depois, viria a disparar uma saraivada de balas sobre o carro em que se encontravam Tupac Shakur e Suge Knight.Depois do combate estava previsto um concerto com Tupac e outros artistas da Death Row num clube de nome 662 (a forma de escrever "mob" no teclado de um telemóvel). Foi no caminho para o clube, quando seguia num BMW conduzido por Suge Knight, que Tupac foi baleado: um Cadillac branco ultrapassou a fila de carros em que seguia a entourage da Death Row e colocou-se ao lado do BMW; do banco de trás, Orlando Anderson disparou vários tiros; um deles raspou na cabeça de Suge Knight e quatro acertaram no corpo de Tupac Shakur; o rapper foi conduzido ao hospital, e viria a falecer seis dias depois.Orlando Anderson terá regressado nessa noite a Los Angeles - onde faleceria, meses mais tarde, num tiroteio não relacionado com o assassínio de Tupac. Em Las Vegas, a polícia chegou célere ao local, mas não encontrou testemunhas dispostas a depor, nunca tendo detido ninguém. Mesmo quando a Polícia de Los Angeles adiantou os nomes dos envolvidos, todos membros dos Crips, os responsáveis pela polícia de Las Vegas duvidaram da informação dada a estreita ligação entre alguns departamentos da polícia de LA e o gang dos Bloods, que mantêm acesa rivalidade com os Crips há mais de 30 anos. Dada a inoperância da polícia, as investigações sobre a morte de Tupac Shakur, na altura um dos artistas mais célebres da América, nunca chegariam a qualquer conclusão.a investigação. Caminho aberto para que várias teorias começassem a sugir. Chuck Philips, jornalista do Los Angeles Times, reportou a presença de Notorious B. I. G. em Las Vegas naquela noite - o que foi sempre negado pelo próprio - e a sua oferta de um milhão de dólares ao membro dos Crips que matou Tupac. A pistola também seria a sua. Tupac e Biggie Smalls eram velhos conhecidos de Nova Iorque, mas no último ano das suas vidas tinham mantido uma controvérsia que chegava às letras dos seus temas. Notorious B. I. G. negou sempre o seu envolvimento e, na sequência da publicação do artigo em Setembro, amigos e familiares terão mesmo apresentado provas da sua estada num estúdio de New Jersey na noite dos acontecimentos. Na tese de Chuck Philips a displicência com que a polícia de Las Vegas actuou explicaria também a ausência de resultados.A teoria de Broomfield também colhe adeptos. Tupac Shakur teria sido assassinado a mando do seu manager, Suge Knight, que seguia a seu lado no carro, alegadamente por dívidas exorbitantes, na ordem dos milhões de dólares, que o empresário da Death Row seria incapaz de pagar ao seu artista. A ameaça de Tupac em abandonar a editora também teria pesado na decisão. O próprio Suge Knight, nesta versão, teria também mandado matar Notorious B. I. G., de forma a capitalizar os rendimentos de uma disputa entre os rappers da Costa Este e da Costa Oeste. Biggie Smalls foi baleado, em Março de 1997, quando o Chevrolet que conduzia parou num semáforo de Los Angeles. Nunca ninguém foi detido. O que leva a crer existir uma dualidade de critérios na justiça americana. Seria possível o mesmo suceder se estas duas celebridades não fosse quem eram?