Presidente nigeriano acusa imprensa de ser responsável por motins
Referindo-se ao artigo publicado no diário nigeriano "This Day" — que insinuava que o profeta Maomé, se fosse vivo, gostaria de ter como noiva qualquer uma das concorrentes a miss, o que escandalizou a comunidade muçulmana nigeriana —, o chefe de Estado afirmou que "o jornalismo irresponsável" está na origem dos motins que levaram os organizadores do concurso internacional a transferirem o evento para Londres, mantendo-se a data de 7 de Dezembro.
Em declarações à CNN, Obasanjo disse ainda estar "desolado" com o facto de o evento ter sido transferido e garantiu que tudo fez para mostrar que a Nigéria é um país acolhedor. Obasanjo voltou ainda a assegurar que a nigeriana Amina Lawal, condenada à morte por apedrejamento por ter tido um filho depois de estar divorciada, será absolvida pelo Supremo Tribunal.
Os motins que assolaram Kaduna na semana passada na sequência do artigo "blasfematório" publicado no "This Day" já causaram cerca de 220 mortos e 30 mil deslocados, de acordo com dados da delegação nigeriana da Cruz Vermelha. Mais de 1100 pessoas foram já atendidas pela Cruz Vermelha nos hospitais de Kaduna, precisou o presidente da delegação nigeriana, Emmanuel Ijewere. Hoje, a calma regressou à cidade do Norte do país, maioritariamente muçulmano. Mais de 300 pessoas foram detidas, indicou o director-adjunto da polícia de Kaduna, Samuel Ogunbayode.
A associação de defesa dos direitos humanos nigeriana Civil Rights Congress publicou, por seu lado, um relatório preliminar sobre os incidentes que refere a destruição de 16 igrejas, nove mesquitas, onze hotéis, 189 casas, três escolas e vários veículos.
No entanto, o artigo em questão foi apenas a gota de água, já que vários responsáveis muçulmanos estavam contra a realização do concurso Miss Mundo no país, classificando-o como "uma parada de nudez".
Entretanto, os organizadores e as concorrentes do concurso rejeitaram qualquer responsabilidade nos motins que eclodiram na Nigéria. "Serviram-se de nós como pretexto. Motins como estes são comuns no país. Os muçulmanos sentiram-se insultados, mas isso nada tem a ver connosco", declarou Caroline Chamorand, Miss França.