É um dos mais ambiciosos esforços de produção do cinema português recente. Adaptação do romance de Ferreira de Castro, é uma co-produção tripartida, onde para além da participação portuguesa há a registar contribuições espanholas e brasileiras. Estas últimas são especialmente importantes, pois tudo se passa no Brasil, na Amazónia, e quase todo o elenco do filme (com excepção do português Diogo Morgado e do espanhol Karra Elejalde) é composto por brasileiros (de primeiro plano, como Cláudio Marzo, Maité Proença e Gracindo Júnior).
A primeira coisa que se pode dizer, dado o profissionalismo espelhado, é que a ambição posta na produção tem pelo menos um mérito: procurar um nível de qualidade proto-industrial capaz de se bater com produções estrangeiras semelhantes em pé de igualdade. Nesse aspecto, ao contrário de algumas outras tentativas portuguesas com propósitos do género, "A Selva" é um objecto consistente, que foi capaz de adequar os meios às ambições. O filme não será apanhado em falso na armadilha dos meios limitados; olhe-se por onde se olhar nunca se verá um filme pobre a tentar parecer rico - a qualidade de produção é uniforme, a reconsituição histórica (primeiros anos da década de 10 do século XX) é convincente, e mesmo um cenário complicado como o do seringal tem o nível de acabamentos de um filme verdadeiramente nascido de uma indústria (da americana, por exemplo).
Tão imediato como esse reconhecimento é o de que em "A Selva" as virtudes e os vícios coexistem de forma a que seja possível sustentar que os segundos até são uma consequência das primeiras. É que "A Selva" parece esgotar-se nesse objectivo, como se o importante fosse apenas atingir um determinado patamar de qualidade ao nível dos acabamentos. É como se o objectivo se limitasse à perseguição de um nível "standard" de produção internacional que, uma vez atingido, mais não tivesse para exibir senão a sua própria... "standardização".
O que equivale a dizer que à "Selva" falta seiva, falta sangue e falta carne que dêem vida a um esqueleto que...é apenas esqueleto. É um filme liso, demasiado liso, um objecto que ao nível da "mise-en-scène" e montagem segue um programa de correcção industrial "by the book" que sufoca as possibilidades da matéria-prima que lhe serve de base. Digamo-lo frontalmente: "A Selva" faz menos sentido como filme a ser exibido numa sala de cinema do que como telefilme de luxo. Será inevitável, num filme com este propósito, a queda num academismo formal e estilístico que dilui qualquer especificidade, positiva ou negativa?
Essa é a encruzilhada, o dilema a que "A Selva" não permite responder.