Putin ameaça perseguir terroristas "em qualquer lugar do mundo"
Em dia de luto nacional, em memória dos que morreram num teatro de Moscovo ocupado por guerrilheiros tctechenos, o Presidente russo, Vladimir Putin, prometeu ontem que responderá "com medidas adequadas contra os terroristas e seus apoios ideológicos e financeiros, estejam onde estiverem."Numa reunião com membros do seu Governo, realizada no Kremlin, Putin avisou que o terrorismo internacional está "cada vez mais audacioso, mais cruel". Por isso, anunciou ter dado instruções ao Estado-Maior das Forças Armadas para "alterar os seus planos de acção, devido à ameaça crescente (...) comparável a armas de destruição maciça"..Pavel Felguengauer, analista militar russo, considera que as palavras de Putin podem ser interpretadas como o aviso de que as tropas de Moscovo poderão usar novas armas - incluindo nucleares - na luta contra a guerrilha independentista na Tchetchénia. As declarações de Putin foram também lidas como uma resposta a Aslam Maskhadov, presidente tchetcheno que não reconhecido por Moscovo, que ontem se manifestou disposto a começar conversações de paz com o Kremlin, sem condições. Serguei Fradinski, vice-chefe da Procuradoria (Ministério Público) da Rússia, recusou a proposta: "Com Maskhadov só se pode conversar sobre a sua rendição incondicional e dos seus homens".A determinação de Putin parece encorajada pelas reacções Moscovo dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha e do Canadá, que se recusaram a criticar as autoridades russas por terem usado um gás, ainda não identificado oficialmente, que já provocou a morte de 116 reféns do teatro da Rua Dubrovskaia. Fontes médicas citadas pelo jornal electrónico news.ru consideram que o número de vítimas mortais ultrapassará os 200, já que muitos dos cativos resgatados pelas tropas especiais, no assalto de sábado, se encontram em estado grave.O silêncio dos países ocidentais poderá ser, segundo analistas em Moscovo, uma das razões que leva as autoridades russas a teimar em esconder a fórmula química do gás. Victor Fominikh, chefe do departamento de reanimação do centro médico do Kremlin, anunciou que "não foram empregues substâncias tóxicas militares", reafirmando a posição oficial de que se tratou de um "anestésico geral de uso cirúrgico".O diário "Kommersant" escreveu que o gás foi fabricado por especialistas soviéticos, mas não foi testado por falta de meios financeiros: "Neste caso, a experiência foi feita não no laboratório, mas em pessoas".Vladimir Mikhailov, um antigo alto responsável do Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB), é da opinião que "as tropas de elite da unidade Alfa tinham recebido o gás mesmo antes do assalto e não estavam ao corrente dos seus efeitos". Alexandre, membro da unidade Sobr, do Ministério do Interior, confirmou ao "Kommersant" essa suposição : "Nós devíamos entrar no edifício depois do Alfa, acabar com os terroristas e fazer sair os reféns. Mas uma vez dentro da sala, começámos todos a vomitar".Durante o dia de ontem, 300 reféns receberam alta, mas outros tantos continuam internados. Os parentes dos feridos juntam-se perto dos hospitais, para saber notícias, mas cerca de 30 famílias continuam a desconhecer o paradeiro dos que não se encontram nas listas deinternados.Entretanto, a polícia russa anunciou novos êxitos na "caça aos terroristas". Mikhail Avdiukov, procurador de Moscovo, anunciou a detenção "de duas pessoas suspeitas de cumplicidade na tomada de reféns do Teatro na Dubrovskaia - um deles um polícia. A agência noticiosa TASS deu conta da prisão de "um tchetcheno de 27 anos, portador de dois engenhos explosivos e de um plano pormenorizado da estação ferroviária Kursk, uma das mais movimentadas de Moscovo". Segundo a TASS, trata-se de um residente de Grozni, "membro de um grupo criminoso tchetcheno na capital russa".Quanto aos membros da comunidade tchetchena de Moscovo queixam-se de perseguição. Ikha Neserkhoeva, tchetchena que também foi refém no teatro, foi levada do hospital para uma prisão, porque, segundo a polícia, "na sua roupa foram detectados vestígios de pólvora e pode estar ligada aos terroristas".Vladimir Dolin, jornalista russo que investiga o caso, contou ao PÚBLICO: "A jovem tchetchena foi ao teatro com uma colega russa. Todos os familiares e amigos são unânimes a afirmar que ela nada tem a ver com os terroristas, mas duvidam que as autoridades policiais sejam idóneas na investigação".