Descoberto o centésimo planeta extra-solar
O planeta cem foi localizado por uma das equipas que mais planetas tem descoberto noutros sistemas solares - a que inclui os famosos Paul Butler (da Carnegie Institution, na cidade de Washington) e Geoffrey Marcy (da Universidade da Califórnia, em Berkely, e da Universidade Estadual de São Francisco).
O novo planeta, encontrado graças ao Telescópio Anglo-Australiano, em Nova Gales do Sul, Austrália, anda em redor da estrela Tau 1 da constelação do Grou, vista no Hemisfério Sul. Demora quatro anos a completar uma órbita, que é quase circular. Com 1,2 vezes a massa de Júpiter, o maior planeta do nosso sistema solar, o novo planeta está três vezes mais longe da sua estrela que a Terra do Sol.
"Estamos a ter pistas de como se formam os planetas", disse à agência Reuters Hugh Jones, da Universidade John Moores, em Liverpool, Grã-Bretanha, que chefiou esta equipa, de cientistas britânicos, norte-americanos e australianos. "O padrão de formação destes planetas é de dois tipos: os que estão muito perto da estrela e outros com órbitas muito afastadas. O planeta em redor da estrela Tau 1 pertence ao segundo tipo, que é a maioria", explicou Hugh Jones. "Mas por que há estes dois tipos?"
No nosso sistema solar os planetas gigantes - e gasosos, como Júpiter, Saturno e Neptuno - estão muito afastados do Sol, ao passo que os planetas telúricos, como a Terra e Marte, estão próximos.
Até agora, todos os planetas extra-solares detectados são gigantes gasosos, porque os cientistas ainda não dispõem de meios tecnológicos para detectar os mais pequenos, a existirem. Estranhamente, esses primeiros planetas tinham órbitas muito próximas das estrelas, mas, à medida que aumenta o número de planetas extra-solares, estão a encontrar-se planetas cada vez mais longe. É o caso do novo.
"Esta descoberta apoia a ideia de que os planetas gigantes dos sistemas solares poderão formar-se a grandes distâncias, como Júpiter, das estrelas e, mais tarde, aproximam-se delas, até atingirem um ponto onde a falta de forças de fricção pára a migração", refere um comunicado de imprensa do Conselho de Investigação de Física de Partículas e Astronomia britânico.
Não é nada fácil detectar planetas extra-solares, até porque não são visíveis sequer com telescópios. A detecção tem sido sempre indirecta, através da medição das oscilações de uma estrela, para a frente e para trás, causadas pela gravidade de algo na sua órbita. Essas oscilações podem perceber-se no espectro electromagnético, que sofre um desvio para a parte azul ou vermelha, conforme a estrela se aproxima ou afasta, e desta maneira infere-se a existência de planetas.
Na mente dos cientistas, há um grande objectivo, a longo prazo, nestes estudos: encontrar sistemas solares verdadeiramente semelhantes ao nosso. "A descoberta de um companheiro da estrela Tau 1, com uma órbita de duração relativamente longa e uma massa similar à de Júpiter, é um passo nessa direcção. Nas próximas décadas, a descoberta de outros desses planetas e luas permitirá avaliar o lugar do sistema solar na nossa galáxia e se os sistemas solares como o nosso são comuns ou raros", refere o comunicado.
Mas a grande questão é se estaremos sozinhos no Universo, um enigma que ganhou peso depois de, em 1995, os suíços Michel Mayor e Didier Queloz, do Observatório de Genebra, terem descoberto o primeiro planeta em torno da estrela Pégaso 51.
"Temos dado passos importantes na elaboração de uma lista de potenciais sistemas solares análogos ao nosso, para os estudar em missões espaciais futuras. O passo para lá desse é a procura de vida - provas de carbono, dióxido de carbono e ozono -, mas primeiro temos de ter uma lista de alvos", comentou Hugh Jones. Depois, é caso para indagar se, além de vida, ela será inteligente: Uh-uh, está aí alguém?