EUA lançam foguetão de nova geração num mercado estagnado

Um foguetão norte-americano Atlas V cumpriu ontem com sucesso a missão de colocar em órbita o seu primeiro satélite. O Atlas V é o primeiro elemento de uma nova geração de foguetões que estão a ser desenvolvidos em vários países na última década. Os novos engenhos são mais baratos e mais seguros, mas o mais importante é que são muito maiores e conseguirão colocar no espaço dois satélites ao mesmo tempo, reduzindo os custos dos lançamentos. O único - mas enorme - problema é que a indústria está estagnada e, neste momento, existem demasiados foguetões para os lançamentos de satélites em agenda.O Atlas V descolou na noite de quarta-feira da base aérea militar de Cabo Canaveral (Florida), transportando o satélite de comunicações Hot Bird 6, da empresa europeia Eutelsat. Exactamente como previsto, os dois separaram-se 31 minutos após o lançamento. Para este voo inaugural, foi escolhido o modelo mais simples do Atlas V, um foguetão de quatro metros de diâmetro e 58 de comprimento, que consegue transportar um satélite de cinco toneladas. Os modelos mais poderosos, com dois níveis de alimentação, conseguirão lançar cargas até 8,5 toneladas. Mesmo assim, o Atlas V lançado na quarta-feira é o maior foguetão construído nos Estados Unidos desde os anos 70, quando o poderoso Saturno V rompia os céus com energia suficiente para escapar à gravidade terrestre e levar uma nave com astronautas até à Lua, enquanto durou o programa Apolo. Sintomático dos novos tempos pós-Guerra Fria é que o Atlas V foi construído por um consórcio entre a empresa americana Lockheed Martin e duas empresas russas, a Russes Khrunichev e a RSC Energia. Os motores do primeiro nível foram construídos na Rússia e o consórcio investiu mais de mil milhões de euros no projecto.Mas a família Atlas V terá, em breve, concorrência. A Boeing, outra empresa norte americana, lançará o seu primeiro foguetão de nova geração, o Delta IV, em Outubro. Com estes lançamentos, os EUA igualar-se-ão ao Ariane V, o novo foguetão do consórcio europeu Arianespace. Este tem capacidade para, numa única viagem, colocar em órbita dois satélites. Entretanto, também o Japão já anunciou o voo inaugural do seu próprio foguetão de nova geração, o H-24 - que, durante a fase de ensaios, passou por alguns problemas, com a explosão de alguns dos modelos. A verdade é que há demasiados foguetões para a situação actual da indústria. A desaceleração da economia mundial e a crise nas empresas de telecomunicações fez baixar muito o número de lançamentos de satélites nos últimos dois anos. As empresas reduziram entre 30 e 50 por cento os preços dos lançamentos e a Administração norte-americana pondera subsidiar as duas maiores empresas do sector, a Boeing e Lockheed Martin. No entanto, até nem são as empresas dos EUA as que poderão ter mais problemas. O maior cliente da Boeing e da Lockheed Martin é a própria Administração norte-americana: os lançamentos realizados por sua encomenda representam 70 por cento do total feito pelas duas empresas. Na Europa, os lançamentos governamentais representam apenas 10 por cento. Os restantes são de satélites de empresas privadas. Em 2001 foram lançados 60 satélites em todo o mundo, o número mais baixo desde 1962. Em 2000 tinham sido colocados em órbita 85, dos quais apenas 15 foram comerciais. Para 2001 é provável que se façam 75 lançamentos, que 18 empresas terão de partilhar. Os clientes deixaram de assinar contratos de lançamento com anos de antecedência e esperam até poucos meses antes das datas pretendidas para se decidirem. Paralelamente, o desenvolvimento tecnológico aumentou a vida dos satélites para 18 anos ou mais anos, enquanto até aos anos 90 não estaria operacional mais de 15 anos.Um lançamento custa entre 50 e 100 milhões de euros. Nos voos inaugurais dos foguetões de nova geração, a Boeing e a Lockheed Martin fizeram um saldo de mais de 50 por cento e há rumores que garantem que a Boeing comprometeu-se a não cobrar se o lançamento falhar.

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