Paredes de Coura à espera de 20 mil pessoas
Esqueçam o pó da Zambujeira - mas preparem o repelente contra insectos: a partir de hoje e ao longo desta semana, a celebração da música serve-se no cenário minhoto de Paredes de Coura. À espera dos milhares de festivaleiros está o já mítico anfiteatro natural da pequena vila, para quatro dias e uma noite de muita e variada música, um rio, ar puro e muitos, muitos mosquitos.É a 10ª edição do que começou por ser um pequeno festival criado para pôr no mapa uma região esquecida do país, e que ano após ano foi ganhando o seu espaço e lugar no circuito dos festivais de Verão. A grande vantagem que o festival tem, e que se torna uma mais-valia em relação aos concorrentes, é o espaço. Enquadrado num extenso vale relvado, ladeado por eucaliptos e atravessado por um rio que, milagrosamente, se mantém incolumemente despoluído, o palco de Coura torna-se o centro de um cenário quase idílico em que o epíteto da geração festivaleira "'tá-se bem" ganha corpo e razão de ser.Depois, existe uma lógica de crescimento sustentado que permitiu a gradual internacionalização do cartaz e que os novos projectos nacionais ganhassem um espaço de projecção que ao longo do ano não têm. Outra aposta ganha foi a criação (o ano passado) de um palco dedicado ao jazz. Não é o mais procurado, mas torna-se outra opção agradável para os fins de tarde.São aos milhares, usam "dreadlocks", "piercings" em locais remotos do corpo, calças a cair pelo rabo, cores estranhas no cabelo, fitas no pescoço, e passam a vida a queimar as mãos. É esta a imagem-comum do frequentador de festivais, mas não corresponde inteiramente à verdade. Em Coura, por exemplo, é habitual ver famílias inteiras a assistir aos concertos. Muitos fazem o circuito integral dos festivais. Vão ao Sudoeste, a Coura, se for preciso ainda se deslocam até ao Ermal - e provavelmente irão directamente do CBT para o Norte. Aqueles com quem o PÚBLICO falou preparavam-se para passar ali toda a semana. Partiram ontem, para conseguir "os melhores lugares do campismo", dizia-nos João, de 21 anos, enquanto bebia placidamente uma cerveja com os amigos na esplanada do Piolho (café do Porto), com as malas espalhadas pelo chão, à espera da hora do comboio.São veteranos das migrações de Verão - e já sabem os truques de Coura de cor. Vão tentar evitar "ficar perto do rio", onde a concentração de tendas é maior: "É preferível ficar ao sol do que levar com a confusão toda". Evitar a confusão? João Carvalho, um dos programadores do festival, confidencia-nos que está à espera "de mais de vinte mil pessoas todas as noites". "Vai chegar de certeza aos vinte e cinco mil nas duas primeiras noites", diz o responsável, mas, e ao contrário do que inicialmente estavam à espera, mesmo as duas últimas noites, consagradas a sonoridades menos turbulentas, devem registar casa cheia.Mas os motivos de tanta viagem não são apenas a música: "curtir", sintetiza o Paulo, a figura mais silenciosa de todos os que estão no Piolho. Estar longe de casa, exponenciar os possíveis significados da palavra "liberdade" e, claro, extravasar um bocadinho na bebida e no haxixe, são razões mais que suficientes para a longa deslocação. Do cartaz, o que mais lhes interessa é o rock pesado dos Korn e os sons dançantes dos Gotan Project - o resto não conhecem muito bem -, mas tudo isso pouco importa: "A malta ouve tudo", dizem. Geração "'tá-se bem" "dixit"...Os concertos abrem amanhã, dia 13, mas o festival começa já hoje, às 22h, com uma "Festa Africana". Cinco bandas, entre as quais os Tabanka Jazz, vão subir ao palco Artes/Ritmos e animar os primeiros visitantes. Estima-se em quinze mil o número de festivaleiros presentes hoje, com muita dança e muita cerveja à mistura.Nos dias seguintes, o ritmo deverá ser o mesmo. À tarde descanso e banhos no rio Coura, e a continuação da aposta diária no palco "Jazz na Relva". No palco Ritmos/Artes pode-se aproveitar para espiolhar as novas bandas portuguesas .O cartaz do palco principal oferece propostas para todos os gostos: amanhã a noite é dedicada ao rock, com os Trust Company a abrir, seguidos da facção mais clássica com os Counting Crows, os fusionistas Incubus e, a fechar, os muito queridos entre os mais novos (e reis do "nu-metal") Korn. Quarta é o dia mais fraco do festival: Ez Special, Sam the Kid, Breed 77 e Puddle Of Mudd devem saciar o apetite "teenager" por rock poderoso, mas não são ofertas de maior. A coisa muda de figura na quinta, 15: a abrir, a pop dos portugueses Casino, e depois o regresso dos Pop Dell' Arte, oito anos depois em Paredes de Coura. Como sempre, não se sabe o que vai sair da mente "desviante" de João Peste e companhia. O alemão Ras (aposta ousada), a pop clássica dos britânicos Cousteau e, acima de tudo, o tango dos Gotan Project prometem vingar a noite anterior. E como o melhor deve sempre ficar para o fim, aconselha-se os interessados a começarem já a preparar-se para a chegada do alienígena Lee "Scratch" Perry com o seu "outerspace dub" que vai encerrar o festival. Além do mais, Perry traz consigo o seu acólito Mad Professor, que o vai acompanhar em palco (na manipulação a solo), depois de pregar ele próprio a religião "dubafarri".