Zona pedonal desagrada a comerciantes e moradores
A Rua Heliodoro Salgado, na Estefânea, em Sintra, foi fechada ao trânsito há mais de um ano, mas serão poucos os moradores e comerciantes satisfeitos com a decisão. Os comerciantes afirmam que, desde que a medida foi tomada pelo anterior executivo camarário, o negócio tem vindo a decair e a clientela a escassear.As queixas dos comerciantes da Heliodoro Salgado prendem-se principalmente com a falta de estacionamento e com o facto de a artéria "morrer" assim que fecham os bancos que ali existem. A escolha de lajes em vez da típica calçada portuguesa para a pavimentação da rua também é criticada pelos proprietários das lojas, pois, por se tratar de um material poroso, absorve toda a sujidade, que salta à vista.Na perspectiva do livreiro Justino Parracho o negócio não melhorou e o pavimento teve "muita influência" no afastamento de potenciais clientes. "Não gosto disto, era para ter sido calçada", afirma, defendendo que a zona precisa de parqueamento, "mesmo que seja pago". Embora partilhe da opinião que é preciso estacionamento, José Carlos, dono de uma pastelaria, acha que a medida foi positiva. "Não me ressenti", garante, embora confesse que o negócio também não melhorou. Na sua opinião devia ser promovida animação de rua para atrair clientela. Algo que a câmara de Sintra já ensaiou, aos sábados, ao promover uma pequena feira de artesanato, alfarrabistas e objectos usados.Mas para Ana Paula, empregada de uma perfumaria, isso não trouxe nada de novo aos comerciantes residentes. "Trabalhei num dos sábados e foi um dos piores dias que fiz aqui" afirma a lojista, que acha que o pavimento é "pouco higiénico". Uma moradora da zona, que não se quis identificar, também não gosta das lajes usadas no pavimento, pois "estão desniveladas e, por isso, são perigosas". Já houve pessoas que caíram, afirma. Aponta ainda a falta de estacionamento na zona. "Quando há casamentos, a noiva tem de vir a pé" até à conservatória do registo civil existente num dos extremos da Heliodoro Salgado, conta a moradora.Por outro lado, apesar de vedada ao trânsito, por vezes continuam a passar por ali carros quando os moradores e comerciantes não fazem subir os pilaretes metálicos - o sistema é manual, em vez de se processar por telecomando, obrigando os condutores a saírem da viatura para "abrir" e "fechar" a rua, o que nem sempre acontece.Segundo a Câmara de Sintra, nada poderá ser feito quanto ao pavimento. "Já era um facto consumado quando tomámos posse, não podemos gastar milhares de contos para o substituir", afirma uma porta-voz da autarquia. A mesma fonte adianta que, após ter voltado atrás com o parque de estacionamento da Volta do Duche, por razões ambientais, a autarquia espera agora que o programa de reabilitação urbana Polis aceite financiar um parqueamento na Portela, junto ao edifício do departamento de urbanismo. Está ainda prevista a melhoria dos espaços de lazer, com esplanadas e a colocação de floreiras.O trânsito também foi influenciado por esta medida. Agora, os condutores que venham de carro do lado da estação de Sintra ou do IC19 (Lisboa-Sintra) e que antes passavam na Rua Heliodoro Salgado para aceder, por exemplo, às praias, ao Museu de Arte Moderna e ao Centro Cultural Olga Cadaval, têm de passar através de um bairro residencial, contorná-lo, passar por baixo da linha ferroviária de Sintra e atravessar a Avenida Desidério Cambournac, num percurso três vezes mais longo. Uma alternativa mais fácil passa pelo acesso a partir do IC16 (Ranholas-Lourel), mas para ir até ao centro histórico volta a ser preciso atravessar o bairro da Portela.No caminho há vários semáforos de passagem para peões, que acabam por causar atrasos no trânsito, devido ao intenso tráfego pedonal na zona, onde se situam vários estabelecimentos de ensino. Para Frederico Costa, cujos pais têm um estabelecimento comercial na Portela, embora haja mais tráfego, agora a zona é mais segura para os peões. "Com os semáforos, está mais organizado", diz.Joaquim Rodrigues, residente na zona, concorda que os semáforos ajudaram a tornar a zona mais segura. No entanto considera que há passadeiras que, por estarem a seguir a curvas, podem ser perigosas. "Alguns condutores passam aqui a grande velocidade" conta o morador. Marília Costa, que mora "na praia" e trabalha em Sintra, afirma que todos os dias há "problemas no trânsito", durante a hora de ponta. Acha que esta mudança "complicou a vida aos condutores". A Câmara de Sintra não irá alterar a circulação rodoviária no bairro da Portela, embora esteja prevista uma melhoria a nível de indicações. O objectivo, diz o porta-voz da autarquia, é "facilitar a compreensão", para que ninguém se perca.