Evita, a rainha argentina, morreu há 50 anos
Poderia ter sido vice-presidente, ao lado do marido, nas únicas eleições em que votou. No auge da sua fama e poder, mas também do cancro que havia de a matar em breve, acabou por recusar ser candidata. A última vez que apareceu publicamente foi na tomada de posse de Juan Perón. Morreu, aos 33 anos, um mito: Evita.Nascida em Los Toldos, cidade da província de Buenos Aires, a 7 de Maio de 1919, Maria Eva Duarte era a mais nova de cinco filhos de uma família pobre. Aos 14 anos, tinha decidido o que queria ser na vida: actriz. Consegue ir para Buenos Aires, numa época de pobreza no país. Eva era apenas mais uma rapariguinha da província a chegar à capital, apenas com uma mala - que acabaria mais tarde por perder. Começou no teatro, apareceu no grande écrã mas foi sobretudo na rádio que conseguiu a fama. Em 1944 tinha três programas na Rádio Belgrano. Foi então que conheceu o futuro marido. Um terramoto tinha destruído 90 por cento da cidade de San Juan, nos Andes. O então secretário de Estado do Trabalho e Assuntos Sociais, coronel Juan Perón, convidou algumas celebridades para uma cerimónia de recolha de fundos. Uma das convidadas foi Eva Duarte, que iniciou então a sua relação com o viúvo de 48 anos.Perón começa a ser uma figura-chave no Executivo militar. Em Outubro de 1945, porém, um sector do Governo consegue a sua demissão. É detido e enviado para a ilha de Martin Garcia. A sua saída provocou um levantamento dos trabalhadores - os historiadores discutem ainda hoje qual o papel de Evita nesta "crise"- e acaba por ser libertado.Casou então com Eva e acabou por ser escolhido pelos Trabalhistas para candidato às presidenciais de 46. Eva Perón acompanhou-o: pela primeira vez uma mulher fazia campanha ao lado do candidato. Nesta altura, as mulheres nem sequer tinham direito ao voto. Esta foi, aliás, uma das primeiras lutas de Evita - a lei que permitia que as mulheres votassem foi aprovada em Setembro de 47.Foi durante o primeiro mandato presidencial do marido que Eva Duarte de Perón começou a ganhar o seu grande, mas não oficial, poder. Definiu qual o papel que deveria representar como primeira dama. Como disse na sua autobiografia, acabou por se decidir por uma dupla personalidade: "Eu sou Eva Perón, mulher do Presidente, cujo trabalho é simples e agradável, e sou também Evita, a mulher do líder de um povo que depositou nele as sua esperança."Evita acabava por servir de "ponte" entre os trabalhadores e o Presidente. Ao longo dos anos, Evita - ou a fundação que criou com o seu nome - foi ajudando na construção de lares de idosos, criando programas turísticos para crianças, dando subsídios para criação de hospitais, distribuindo roupa e comida a famílias necessitadas. Foi-se consolidando a imagem da rainha dos descamisados, "Santa Evita".Em pleno pós-segunda Guerra Mundial, é convidada oficialmente pelo Governo espanhol para uma visita à Europa: Espanha, Portugal, Suíça, Mónaco e também Itália, onde recebeu um rosário do Papa Pio XII - o mesmo que foi posto entre as suas mãos quando morreu.Em 51, Perón é desafiado para ser de novo o candidato à presidência, e para ter Evita como sua vice. Em Agosto, num comício, uma multidão pedia a Evita para se candidatar. Ela acabou, aparentemente, por ceder, depois de um diálogo com a multidão: "Farei o que o povo quiser". No fim do mês, acabava por anunciar, na televisão, a sua decisão de "renunciar a essa honra". Nesta altura, Evita estava já fragilizada pelo cancro que tinha no útero. Meses depois, internada numa clínica, votava pela primeira e última vez. Ainda apareceu em público na tomada de posse de Perón.Morreu a 26 de Julho de 52. O seu corpo, que tinha sido embalsamado, foi roubado e esteve desaparecido durante anos. Actualmente está sepultado no cemitério Recoleta, em Buenos Aires.