"Rei Ubu" abre 19º Festival de Almada

É com "Ubu na Comuna", encenação de João Mota, que arranca hoje o 19º Festival Internacional de Teatro de Almada (FITA), na Escola D. António da Costa, em Almada (às 22h). Baseado em "Rei Ubu", de Alfred Jarry (1873-1907) - percursor do surrealismo, figura fundamental para Artaud, que o considerava o primeiro dramaturgo do Teatro da Crueldade -, o espectáculo foi concebido por João Mota como um jogo de crianças, como se estivesse a ser improvisado no momento em que o vemos; como se fosse sempre a primeira representação. É a primeira das 30 produções - cerca de metade estrangeiras; sete estreias nacionais - do FITA. O PÚBLICO selecciona um percurso por alguns espectáculos."Novela de Goethe", com Bruno Ganz Culturgest, Lisboa, dia 6, às 21h30Nascido em 1941, na Suíça, Ganz passou grande parte da sua carreira na Alemanha. É um dos maiores actores do teatro e cinema europeu, onde impôs um temperamento melancólico. É actor de grandes papéis. Protagonizou peças de Wedekind, Brecht, Shakespeare ou Schiller, com encenadores como Peter Zadek, Luc Bondy, Deborah Warner, Klaus Michael Grüber, Claus Peyman e Peter Stein (que, em 1970, o levou para a mítica Schaubühne); trabalhou com realizadores como Rohmer, Wenders, Fassbinder, Herzog, Angelopoulos. Foi o protagonista de uma peça de 19 horas que Stein levou à cena: a integral do "Fausto", de Goethe. É justamente com um texto do autor do romantismo alemão que vem à Culturgest: "Novela", uma conferência-espectáculo. "Os Directores", de Daniel Besse. Encenação de Joaquim BeniteTeatro Municipal de Almada, dias 6 e 7, às 16h; dia 8, às 19hO director do FITA encena uma peça sobre o universo empresarial. Daniel Besse, o dramaturgo, é ainda autor de "La Rayure", "Les Bonniches", "Ammoniaque", "Ko'lhaas et les autres" e "Studio"; e também actor e encenador. A "Os Directores", o seu primeiro trabalho levado à cena, foi atribuído o prémio Molière para a melhor peça de 2001; Besse recebeu o mesmo galardão para o melhor autor francófono. "Que Viva Frida", de e com Sophie Faucher. Encenação de Robert LepageCentro Cultural de Belém, Lisboa, de 10 a 12, às 21h30"Que Viva Frida/ Apassionada" parte da vida da pintora mexicana Frida Kahlo, casada com o muralista Diego Rivera, amante de Trotski, e centra-se na vitalidade, dor e morte presentes na obra da pintora. Lepage, que esteve no Ponti 2001 com "A Face Oculta da Lua", nasceu no Québec, em 1957. É também realizador de cinema. Explora de forma engenhosa as novas tecnologias e a linguagem cinematográfica, virtuosismo que não raras vezes assume excessivo formalismo."O Refém", de Paul Claudel. Encenação de Bernard SobelTeatro da Trindade, Lisboa, dias 10 e 11, às 21h30Foi no Théâtre de Gennevilliers, fundado por Bernard Sobel, em 1963, como centro de criação para a descoberta de novos textos, que encenadores como Patrice Chéreau ou Jacques Lassalle apresentaram as sua primeiras criações. Sobel tem encenado diversos autores (de Eurípedes a Heiner Müller) e filmado para a televisão espectáculos de Chéreau, Mnouchkine ou Grüber. Defende, aliás, a ideia de um teatro público, cuja missão é mostrar "espectáculos que permitam uma reflexão sobre a vida da comunidade em que se inserem". "O Refém" é, escreveu Claudel, "uma peça atroz, que deixa o espectador, tanto quanto o próprio autor, num estado de dolorosa suspensão de descontentamento e de angústia". "Traições", de Harold Pinter. Encenação de Solveig NordlundCentro Cultural de Belém, Lisboa, de 11 a 15, às 22h; dom., às 17hA primeira das três peças que o CCB, em co-produção com os Artistas Unidos e a APA, dedica a Pinter, centra-se nas relações amorosas, tal como as outras duas do ciclo ("Há Tanto Tempo" e "A Colecção"). Mas a particularidade do texto é a estrutura em "flashback" de uma história banal sobre infidelidades. Estão lá os ingredientes do teatro de Pinter: uma obra de síntese, atravessada por tensões e conflitos de relações (o silêncio ou o excesso de palavras), pela ironia, pelo logro."Amor, Verdade e Mentira", de Marivaux. Encenação de José Peixoto Casa da Cerca, Almada, dias 12 e 13, às 24hNo cenário natural da Casa da Cerca, José Peixoto estreia "Amor, Verdade e Mentira", de Marivaux (1688-1763), comédia em que uma mulher, assumindo o controlo do seu futuro, se disfarça de homem para se aproximar do seu pretendente. O teatro de Marivaux foi, na sua época, considerado menor, pela aparente ligeireza. E no entanto marca-o a inquietude dos textos, as suas personagens femininas, a subtileza da linguagem. "Há duas maneiras de ler Marivaux: uma, negativa, que vê nas hesitações, silêncios, denegações e outros atrasos da palavra uma complicação inútil e frívola; a outra, positiva, que considera que esta dificuldade em falar e esta opacidade da linguagem são as fundações do homem moderno", escreveu o especialista A. Rykner."Discos-Porcos", de Enda Walsh. Encenação de Thomas Ostermeier. Pela SchaubühneFórum Romeu Correia, Almada, dias 14 e 15, às 19h e 2130, respectivamenteÉ uma produção de 1998, ano marcante para Ostermeier, nome incontornável da encenação contemporânea: o The Baracke, laboratório para actores que criou, foi galardoado com o prémio de melhor teatro do ano; Ostermeier, então com 30 anos, assumia a direcção da Schaubühne, que desde a saída do mítico Peter Stein, em 1985, atravessava um período de declínio. Conhecido pela sua irreverência, Ostermeier tem escolhido contemporâneos, de Sarah Kane a Mark Ravenhill ou David Harrower. Na peça que traz a Portugal dois amigos inseparáveis afinal poderão não o ser. "Nunzio", de Spiro Scimone, por Miguel Borges e João Meireles Teatro Municipal de Almada, dia 15, às 17h"Nunzio" é, como "Café", do mesmo autor, Spiro Scimone, uma peça em que dois homens afirmam as suas características opostas - Nunzio é doente, o seu universo é circunscrito ao lugar onde vive; Pino é um assassino, viaja pelo mundo. Escrita em dialecto de Messina (Norte da Sicília), "Nunzio" assenta na relação de forças entre essas personagens e na passagem do tempo. Scimone (n. 1964) estará em Portugal para assistir às duas peças que os Artistas Unidos encenam ("Café", trabalho de Miguel Borges e Américo Silva, repõe na Escola D. António da Costa, em Almada, a 13, às 22h). "Existência", direcção artística de João FiadeiroCentro Cultural de Belém, Lisboa, dias 15 e 16, às 20hCada dia há um espectáculo diferente - na disposição dos intérpretes, nas reacções captadas pelo vídeo, nos sons roubados às conversas, íntimas, a que o público assiste. O último trabalho de João Fiadeiro - o único assinado por um coreógrafo português nesta edição - estreou em Paris, em Abril, e mereceu dos espectadores reacções extremas. Segundo a imprensa, o espectáculo perturba os hábitos culturais instalados. O criador volta a reflectir sobre a identidade, a função e o poder da imagem, baseando-se no método que desenvolveu e que designa por "composição em tempo real". O espectáculo começa com uma conversa entre Fiadeiro - que é organizador do espaço e instigador de atitudes - e Rui Catalão, o jornalista que assina, com Fiadeiro, David-Alexandre Guéniot e Marie Mignot, a dramaturgia. É este diálogo, sempre diferente, que serve de ponto de partida. A partir daí, tudo pode acontecer."Eu Amo Godard", de Pedro Paixão. Encenação de Miguel Moreira Fórum Romeu Correia, Almada, dia 18, às 19hProsseguindo a sua colaboração com o escritor Pedro Paixão, Miguel Moreira encena agora, em ano de comemoração dos cinco anos do Útero, esta peça sobre um homem que encontra uma mulher mais nova do que ele, a ajuda a construir as asas para ela voar (o sonho dela) e a perde. Depois desta peça, Moreira encena mais três, todas elas com personagens que voam.Com Lucinda Canelas

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