EDP admite congelamento da Oniway
A EDP admitiu ontem, pela primeira vez, que a área das operações móveis da sua participada ONI, a Oniway, pode ser congelada. "Se a administração da ONI decidir no sentido de reduzir ou congelar a intervenção nas telecomunicações móveis, os accionistas da ONI suportarão a empresa em todas as consequências dessa decisão, nomeadamente em todas as responsabilidades que tenham sido assumidas perante terceiros, em investimentos realizados", declarou o administrador financeiro do grupo eléctrico, Rui Horta e Costa, à agência Reuters.O responsável pela área financeira da EDP sustentou que esse é um dos cenários em aberto para a Oniway, um dos quatro operadores licenciados para o UMTS, a par de uma eventual consolidação ou fusão com outro operador e do arranque em GPRS (actual geração de telemóveis). "Todas as opções estão em cima da mesa e vamos estudá-las com cuidado, quer a opção de arrancar em GPRS, seguida de lançamento de UMTS, quer a consolidação e eventual fusão com outro operador de telecomunicações móveis, quer uma outra qualquer que passe, inclusivamente, por uma atitude de congelamento da intervenção na operação da telefonia móvel", acrescentou.As declarações de Horta e Costa surgem num clima de crescente pressão do mercado para que a eléctrica defina a sua estratégia para as telecomunicações e um dia depois de o novo presidente da PT ter-se mostrado pouco receptivo a um hipotético cenário de concentração com a Oni. O gestor da PT argumentou que essa eventualidade "preocupa" a administração da sua empresa, ao que tudo indica reflectindo a posição dos seus accionistas, estrangeiros incluídos Ao mesmo tempo, duvidou da sobrevivência de um quarto operador móvel.A EDP controla em 56 por cento a ONI, em conjunto com o BCP, que detém 22,8 por cento. A Brisa tem 17 por cento e a Galpenergia 4,2 por cento. A ONI detém 68 por cento da Oniway. Investidor-chave neste processo tem sido o banco de Jardim Gonçalves, que tem defendido cenários de consolidação no sector, na tentativa de encontrar uma solução para o impasse em que se encontra a área móvel da ONI, face à resistência da Vodafone e da Optimus em assegurar a interligação com as suas redes.Ontem, Horta e Costa frisava que a "administração da ONI tem todo o apoio dos accionistas quer quanto à prossecução do negócio das telecomunicações fixas, quer quanto à tomada de decisões e às suas consequências no que respeita ao negócio das telecomunicações móveis". Em contraste com a situação na operação móvel, afirmou que o desempenho da sua participada nas telecomunicações fixas, tanto em Portugal como em Espanha "está a exceder todas as expectativas dos accionistas e o que estava previsto no 'plano de negócios'". Prevê que o ponto de equilíbrio da operação fixa em Espanha será alcançado no final deste ano e no último trimestre de 2003 em Portugal.As declarações de Horta e Costa tiveram um efeito positivo na cotação das acções da EDP, que inverteram de imediato a tendência de descida e acabaram por terminar a sessão com uma valorização de 0,52 por cento para 1,95 euros. Analistas afirmam que o mercado terá interpretado o cenário hipotético de congelamento da operação de rede móvel da Oni, como um sinal de que há abertura na administração da eléctrica para adiar ou mesmo abandonar esta área de negócio e centrar a estratégia no "core business". Mas se a Oni decidir apenas adiar o investimento não ganha muito tempo, uma vez que o arranque do UMTS está previsto para 31 Dezembro de 2002, lembram os analistas, que apontam mais para a hipótese de desinvestimento."É preferível admitir que a aposta nas telecomunicações foi um erro e assumir os prejuízos, do que continuar a investir num negócio cujo retorno poderá ser muito demorado", afirmou um analista. Sublinhando que mercado veria com bons olhos uma decisão nesse sentido, já que um dos motivos que tem levado à quebra das acções da EDP tem sido precisamente o pesado investimento nas telecomunicações. Este ano, as acções da eléctrica têm batido sucessivos mínimos históricos e registam uma desvalorização acumulada de 20,4 por cento. Obviamente, a crise no Brasil também tem contribuído para esta descida. Há também quem admita que a EDP esteja a pressionar para que o acordo de interligação da Oni Way à Vodafone Telecel e da Optimus avance. Sem esta interligação, a Oni Way - que já tem um acordo com a TMN - não poderá oferecer serviços através do sistema de GPRS, como pretendia fazer a partir de Agosto próximo. Este acordo deveria ter sido assinado na segunda-feira passada, já que era a data limite imposta pela Anacom para tal acontecesse. Mas a Optimus e a Vodafone Telecel não se entenderam com a Oni, que já tenta o acordo desde Setembro de 2001. A operadora da EDP reagiu de imediato e pediu à Anacom que, no prazo de 10 dias úteis, obrigasse as duas concorrentes a darem-lhe a referida interligação. Tendo em conta, aliás, que a Anacom entende que Oni tem direito a essa interligação. Um desejo à partida difícil de satisfazer, já que o Governo fez saber que será a próxima administração da Anacom, liderada por Álvaro Dâmaso, a decidir sobre processo. E Álvaro Dâmaso só tomará posse na próxima semana.*com Cristina Ferreira e Reuters