"Gostava de apresentar Falla no seu estado puro"

O Teatro de São Carlos fecha a sua temporada com um programa duplo dedicado a Manuel de Falla. À frente da sua orquestra estará o maestro Josep Pons, especialista de renome internacional da interpretação obra musical do compositor.

O interessante percurso profissional do maestro Josep Pons (n. 1957) está pautado por duas linhas principais de força: um entendimento muito actual do projecto que deve orientar a actuação das formações orquestrais e o novo prisma sob o qual tem apresentado a obra musical do compositor espanhol Manuel de Falla. Tanto a barcelonesa Orquestra de Câmara do Teatre Lliure, fundada por ele a meados da década de 80, como a Orquestra Ciudad de Granada, da qual é actualmente maestro titular, têm-se destacado pela sua modernidade e pelo seu compromisso com a realidade social de hoje. Mantendo uma exigência artística elevadíssima - "a música não é ócio, é cultura" -, a sua actuação à frente das duas formações tem-se guiado pela ideia de que "as orquestras devem ser instrumentos de progresso".Relativamente à obra de Falla, Pons tem proposto uma nova leitura da mesma "rude, genuína e despojada", que tem sido unanimemente elogiada a nível internacional. A gravação (Harmonia Mundi) da primeira versão de "El amor Brujo", de Falla, foi o início de uma série de trabalhos discográficos de referência. Veio a seguir, com Victoria de los Ángeles, "Las siete canciones populares" e "El teatro del mundo", e, depois, "El corregidor y la molinera" e outras, renovando de maneira notória a maneira de entender o universo criativo do compositor espanhol. A sua ligação com ele continua através dos Encontros Manuel de Falla, em Granada, onde tem dirigido projectos tão ambiciosos como a representação cénica de "Atlântida", a última obra do compositor, com a colaboração de La Fura dels Baus.Pons dirigirá em Lisboa "El amor brujo" (versão de 1915) e "La vida breve" (1905), duas obras que, na sua expressão, "bebem muito do flamenco" e que ele irá apresentar "no seu estado puro". Para além da presença de Josep Pons, a última produção da presente temporada do São Carlos tem outros atractivos: a encenação de Herbert Wernicke e a participação de Natalia Ferrándiz Quesada e Gisesa Ortega Cortês, ambas no papel de Candela, a protagonista de "El amor brujo" que, na sua origem, foi concebido para ser interpretado pela lendária bailaora e cantaora Pastora Imperio. Destaque-se ainda a participação de Elisabete Matos, no papel de Salud, a protagonista de "La vida breve".P.- A sua carreira como profissional está marcada pela Orquestra do Teatro Lliure, de Barcelona...P.- No entanto, a sua ligação com Falla é bastante anterior...P.- Isto aplica-se particularmente às duas obras que vai apresentar no São Carlos...

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