"Era uma equipa que impressionava"
Artur Jorge liderou o FC Porto ao título continental, mas o feito, segundo diz em entrevista ao PÚBLICO, não surgiu do nada. O treinador que, com um discurso inflamado a meio do jogo com o Bayern, ajudou a mudar a história dos "azuis e brancos", recorda que a equipa de 1987 jogava praticamente de olhos fechados.ARTUR JORGE - É difícil apontar uma altura específica em que tenha achado que poderíamos ser campeões. Era uma equipa muito forte, com muita qualidade, que quase jogava de cor. Já no ano anterior houve fortes possibilidades, pelo que nada aconteceu por acaso.O adversário da meia-final, o Dínamo Kiev, era considerado a melhor equipa do Mundo...Sim, é verdade. Nas Antas, não tivemos sorte. Marcámos por duas vezes, mas tivemos várias oportunidades e eles acabaram por fazer um golo perto do fim. Por isso, foi muito difícil a viagem à Ucrânia. No entanto, jogámos muito bem e conseguimos dois golos muito cedo.Na final, houve duas partes bem distintas. O que é que disse aos seus jogadores durante aquele famoso intervalo?A primeira parte não foi muito boa. O Bayern estava praticamente a jogar em casa, dada a proximidade com Munique, e faltou confiança à equipa, que não desenvolveu o seu futebol habitual. Conversámos sobre o que se estava a passar, referi que estavam a perder uma oportunidade única nas suas vidas. Tudo foi, então, diferente. Passámos a dominar e poderíamos ter feito mais um ou dois golos. Ganhámos com toda a justiça.Contrariando todos os prognósticos...O Bayern era um clube habituado a ganhar coisas, enquanto o futebol português tinha pouca expressão e não era considerado tão forte como o de outros países. Mas sabíamos que tínhamos valor suficiente para vencer.O título do FC Porto terminou com o mau momento do futebol português a nível internacional?Talvez pelo facto de o país estar, na altura, a passar por condições difíceis, não nos davam a devida importância. Contudo, penso que mesmo antes do título europeu havia grandes equipas. Já existiam jogadores com a mesma qualidade dos de agora, apenas não apareceram com a mesma expressão que têm actualmente. Portugal teve grandes jogadores há 30, 20 e dez anos atrás, tal como os tem agora e terá no futuro. Em qualquer prova se sabe que existe pelo menos um clube português muito forte.A equipa de Viena foi a melhor que alguma vez treinou?No fim dessa época, era uma equipa realmente muito forte. Sem lesões - na final de Viena, não pudemos contar com atletas como o Fernando Gomes e o Lima Pereira -, estou convencido de que era uma equipa fenomenal. Fizemos uma digressão europeia de final de temporada e a qualidade era tão grande que impressionava. O título deu-nos ainda mais confiança. Ainda que seja um exercício relativo, talvez fosse a melhor equipa que treinei, embora também tivesse uma formação extremamente poderosa no meu segundo ano no Paris Saint-Germain.O que significa, para si, ser o primeiro treinador português campeão europeu?Obviamente que me deixa feliz, apesar de nada ter sido fortuito. No ano anterior, fomos eliminados em Barcelona, num encontro com uma arbitragem vergonhosa. Foi tudo menos um jogo de futebol. Tudo poderia ter acontecido mais cedo... Foi um triunfo e um projecto de todos e também do presidente Pinto da Costa.Qual o momento que mais recorda dessa noite?Quando o jogo, finalmente, acabou. Pensávamos que podíamos ganhar, mas só quando o árbitro apitou é que tivemos a noção de que éramos campeões europeus à custa de um dos melhores clubes do Mundo. Foi uma alegria imensa. A primeira associação que se costuma fazer é com o calcanhar de Madjer...Todos os momentos foram especiais. O Madjer fez um grande golo, o Juary também, e houve aquela jogada do Futre... Jogámos de acordo com a qualidade da equipa. Foi um dia bom e uma época fantástica, em que ganhámos quase todos os jogos.