Vocalista dos U2 quer salvar África

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Bono continua o activismo DR

"Temos que mudar a forma como trabalhamos. Devemos produzir resultados", disse Paul O'Neil, que vai para África como enviado do Presidente George W. Bush, que, após o 11 de Setembro, apontou o investimento em África como uma das prioridades da sua política externa - percebeu que a segurança internacional passa pelo continente mais negligenciado. Bush anunciou a concessão de uma ajuda unilateral aos países africanos mais carenciados no valor de cinco mil milhões de dólares por ano até 2006.

A parceria Bono/O'Neil é o reflexo da mudança nas atitudes e nos métodos de trabalho de Washington. Há um ano, quando a campanha que hoje se inicia começou a ser preparada, O'Neil recusou encontrar-se com Bono, nome de baptismo Paul Hewson, de 42 anos. "Ele só me vai usar e não tenho tempo para isto", disse, na altura, o secretário do Tesouro, habituado a desconfiar das celebridades que adoptam causas.

O'Neil acabaria por oferecer a Bono trinta dos seus preciosos minutos, que se transformaram em hora e meia de conversa. No final, a estrela pop impressionou o político de Washington. "Ele percebe realmente de teoria económica e entende o impacte do colonialismo", disse Paul O'Neil, ouvido pela revista "Time", que, no início do ano, dedicou uma capa ao cantor irlandês e à sua campanha humanitária pelo fim da pobreza africana.

Na tal conversa de hora e meia, Paul O'Neil foi seduzido por Bono, como já tinha sido outro republicano, Jesse Helms, um dos senadores mais conservadores do Congresso americano. Um dia, Helms e Bono encontraram-se, conversaram, e, no final, o senador que cita a Bíblia disse: "Vou abençoá-lo". Colocou as mãos sobre a cabeça do músico, disse uma oração e juntou-se ao campo de Bono. "Foi um daqueles momentos que salvam a vida de pessoas", disse Bob Shriver, estratego da segunda carreira de Bono (a de activista político) e sobrinho do Presidente assassinado J. F. Kennedy.

Petição com 21,2 milhões de assinaturas

A segunda carreira de Bono começou com a participação dos U2 no "Live Aid", o megaconcerto organizado em 1985 por outro músico, Bob Gueldof, para financiar programas alimentares em países africanos. Bono criou a sua própria organização não governamental, a DATA (Debt, Aid, Trade for Africa), que promove a ajuda económica, as baixas taxas de exportação e a angariação de verbas para combater a sida. Em troca da ajuda que presta, exige um compromisso por parte dos governos: a democratização dos regimes políticos e o combate à corrupção.

O trabalho da DATA fez nascer outra iniciativa, a "Drop the Debt" (anulem a dívida), um "lobby" que pressiona as nações credoras a perdoarem a dívida externa dos países africanos, que alimenta o crónico empobrecimento do continente. Em 2000, Bono entregou uma petição com 21,2 milhões de assinaturas à Cimeira do Milénio das Nações Unidas, pedindo o cancelamento da dívida.

Em Fevereiro deste ano, Bono esteve nos EUA para participar no Fórum Económico Mundial, em Nova Iorque, onde falou da questão. Conseguiu monopolizar as atenções e mostrar que sabe do que fala. Foi recebido em Washington pelo Presidente Bush.

O músico reconhece a estranheza que a sua já longa actividade política e humanitária - mas que só há três anos decidiu mediatizar; poucos sabem que faz trabalho de campo e, há anos, viveu seis semanas na Etiópia - provoca. "Eu sei que é absurdo ter uma estrela 'rock' a falar sobre sida à Organização Mundial de Saúde", disse. Mas também sabe que é por ser quem é que pode abrir portas.

Um dia, Bono ligou para Jeffrey Sachs, um dos mais famosos economistas do Mundo, professor na Universidade de Harvard, e pediu-lhe para ter aulas sobre a dívida externa dos países africanos. "Ele pediu-me para conversarmos", lembrou Sachs, citado pela "Time". Agora, o economista que negociou a dívida externa da Bolívia e o "rocker" são amigos, e é frequente ver Sachs ao lado de Bono quando este faz as suas estranhas incursões em cimeiras económicas.

Outra vez, Bono pediu uma audiência ao secretário do Tesouro do tempo de Bill Clinton. "Nunca me esquecerei do dia em que Lawrence entrou no meu gabinete para me perguntar se sabia alguma coisa sobre um tipo que lhe aparecera em jeans e 't-shirt', que só tinha um nome mas que era muito inteligente", contou o ex-Presidente.

"Estou farto de sonhar. Agora, quero fazer coisas", disse Bono. Para já, conseguiu revolucionar a forma como a Administração de Washington faz diplomacia.

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