Torne-se perito

Almerindo Marques, um socialista de longa data

Durante quase 40 anos, Almerindo da Silva Marques esteve ligado ao sector bancário, uma carreira a que pôs termo em Fevereiro de 2002, depois de meses de conflito com o actual presidente da Caixa Geral de Depósitos, o social-democrata António de Sousa. Nessa altura, desiludido, o banqueiro despiria finalmente o "fato-macaco", para se reformar, pensava ele. Mas, inesperadamente, o PSD vai buscá-lo para liderar o processo de reestruturação do sector audiovisual do Estado. Este é, afinal, apenas mais um desafio para um homem que alguns consideram ter uma determinação extrema. Há um pequeno episódio, que se repetirá ao longo da sua vida, bem elucidativo do carácter do novo presidente da RTP. Quando na década de 60 Paulo Sandim (mais tarde fundador do PPD e da Universidade Católica), assumiu funções na administração do Banco da Agricultura, encontrou aí Almerindo Marques. Um dia, para ficar a conhecer os seus colaboradores, convocou-os ao gabinete. Paulo Sandim não parecia um homem deste mundo. Para saber qual o grau de aptidão para as funções, a todos desafia expondo as suas ideias. Algumas pecavam, propositadamente, por falta de sensatez. Chegada a sua vez, o jovem Almerindo ouve-o perplexo. Ainda não tinha 30 anos, quando lhe diz: "Com esses critérios não fico no banco." A frase garante-lhe o lugar. Já em 2002, abandona a CGD, após denunciar várias operações financeiras pouco transparentes. Em vésperas de eleições, o gesto deixa "imóvel" o seu amigo primeiro-ministro, António Guterres. É por essa razão que, de certa forma, o convite do PSD é duplamente abrangente: entrega a problemática RTP a um socialista com fama de "impoluto", ao mesmo tempo que lhe reabilita a imagem ferida no diferendo travado na CGD. Para muitos, o Governo, ao convidar Almerindo Marques, optou por privilegiar as capacidades profissionais e a experiência, em detrimento da idade e da cor política. Mas passou também a contar com um gestor profissional para dialogar. Almerindo Marques é antes de tudo um homem com uma integridade à prova de bala, incapaz de ter na mão "um tostão" em dúvida, que não privilegia o amigo e incapaz de despromover o inimigo. Experiente, metódico, foi a ele que o "detestado" ex-ministro da Educação de Mário Soares, Sotto Mayor Cardia, convidou para seu secretário de Estado, entregando-lhe, entre 1976 e 1978, a arrumação do ministério. Quem o conhece lembra a sua longa experiência de vida. Almerindo da Silva Marques nasceu em Leiria, a 20 de Dezembro de 1939. Tinha 13 anos quando começou a trabalhar num escritório naquela cidade, ao mesmo tempo que frequentava o Curso Comercial e o liceu. Depois do serviço militar, em 1963, entra no Banco da Agricultura, de onde sai em 1975. Viviam-se tempos conturbados e até o socialista bancário não escapou às malhas da Revolução e é alvo de saneamento. Era então secretário-geral do Banco da Agricultura. Pelo meio, licencia-se pelo Instituto de Ciências Económicas e Financeiras, partindo depois para o estrangeiro, onde estagia em várias instituições financeiras. Por essa altura, adere ao Partido Socialista, a que se encontra ainda hoje ligado. A sua actividade profissional estender-se-á a empresas industriais e à acção governamental, onde é chamado a desempenhar funções a seguir a 1976. Em 1986, passa pelo Banco Espírito Santo. Nesse ano, participa na criação da SIBS (Sociedade Gestora da Rede Multibanco) - um "case study" objecto de atenção em universidades. Dois anos depois, assume a presidência do Banco Fonsecas & Burnay, que abandona para assumir as funções de administrador delegado do Barclays em Portugal. Em 1997, passa a colaborador da CGD, acabando a ocupar um lugar na administração por convite de João Salgueiro. Em Fevereiro, após o diferendo com actual o presidente da CGD, António de Sousa, apresenta a demissão. Aos 62 anos, casado, com quatro filhos, três raparigas e um rapaz, com idades compreendidas entre os 30 e os 11 anos, Almerindo Marques enfrenta hoje um dos maiores desafios da sua vida, pois aproximam-se na RTP e na RDP tempos de mudança. E, ele, melhor do que ninguém, sabe que as empresas não são apenas negócio,f+zf-z têm também responsabilidades sociais.

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